O Andarilho

29.02.2012

VIAJAR DE ôNIBUS POR AQUI é VIAJAR COM CLASSE

Hagia Sophia ou Santa Sofia, em português, é um desses lugares do mundo construídos pelo homem que você deveria conhecer um dia. Mesmo não sendo um arquiteto, é difícil não se maravilhar com a grandiosidade e beleza do que o ser humano, unido por um mesmo ideal, foi capaz de criar há quase 1500 anos atrás.

 

Santa Sofia foi erguida entre os anos de 532 e 537 por ordem do imperador Justiniano e serviu por quase 1000 anos como a principal basílica ortodoxa do Império Bizantino. Entre os anos de 1204 e 1261 foi ocupada pelos cruzados europeus e transformada em catedral católica romana. Com a queda de Império Bizantino em 1453, foi remodelada com a inclusão dos atuais minaretes e adaptada na principal mesquita do Império Otomano. Ela continuou sendo usada como mesquita até o ano de 1931 e, 4 anos mais tarde, foi inaugurada como o Museu AyaSofya, principal atração turística da cidade de Istambul. Além de toda essa história, ela ainda sofreu terremotos, incêndios e iconoclastia, uma verdadeira sobrevivente da história da humanidade. “Magnificent!”, como diriam os ingleses.

 

Há muito o que escrever nessa semana. Alláh, por onde começar? Um assunto não muito comum em minhas colunas são os ônibus que viajo mas aqui na Turquia eles realmente merecem pelo menos um “paragrafozinho”. Viajar de ônibus por aqui é viajar com classe. Na primeira vez que você entra em um, sente logo aquela sensação de ter entrado no ônibus errado pois pelo valor pago aquilo não pode ser verdade. Bancos largos e confortáveis com televisores privados com dezenas de filmes (todos traduzidos em turco, afinal nem tudo é perfeito) e acesso a internet. Um comissário de bordo, todo elegante, passa frequentemente oferecendo café, sucos, água, salgados, doces e biscoitos. Além disso, um serviço gratuito de micro-ônibus da empresa busca os clientes espalhados em diferentes partes da cidade até a garagem principal. Quanto custa tudo isso? Nem tanto assim pois paguei apenas R$52,00 por uma viagem de cerca de 8hrs na qual eu ainda economizei uma diária em hotel ou seja, cliente feliz!

 

De Istambul segui viagem até Izmir, 8hrs ao sul na costa do Mediterrâneo, para conhecer a cidade e encontrar um amigo da amiga de uma amiga (a tal corrente de amizades). Era sábado e como ele estava trabalhando, marcamos de nos encontrar para jantar e foi assim que começou uma animada e longa noite de festa. Ele, um grande anfitrião, me levou para um ótimo restaurante na cidade onde encontramos um grande amigo dele e, entre várias doses de Raki, uma bebida alcoólica feita com aniz, demos muitas risadas. Estava provavelmente com a melhor companhia da cidade. Já era tarde e a noite apenas começando quando chegamos em um bar com banda de rock tocando ao vivo. Conheci tanta gente naquela noite e não tive a chance de pagar nem sequer uma bebida. A palavra “brasileiro” parecia ser um código para: “mais uma dose my friend?”. O domingo, é claro, foi de ressaca mas valeu muito a pena.

 

A Turquia é um ponto de encontro de culturas entre o oriente e o ocidente e o idioma não poderia deixar de refletir essa mistura. Aqui se encontram palavras de origem grega, francesa, inglesa e até hindu. Algumas são até bem engraçadas como kuaför, do francês coiffeur, cabeleireiro em português. Se eu falar que passei esses dias pelo restaurante “Merda Buffet” ninguém acreditaria. Se parei para provar? Bom, a comida até parecia ser boa mas não sei se conseguiria comer no restaurante do Sr. Merda, que mais tarde descobri ser um sobrenome um tanto comum por aqui.

 

Estou agora em Pamukkale, ou seja, Castelo de Algodão o qual é outro desses lugares do mundo impossíveis de descrever. Cheguei até aqui meio que por acaso, por indicação do meu amigo turco de Izmir. Águas termais, ricas em minerais, brotam em abundância na montanha ali ao lado do hotel. Através de uma complexa reação química, que só sendo químico mesmo para poder explicá-la, forma-se uma belíssima rede de terraços que acumulam água em uma sequência de piscinas que refletem a cor do céu azulado. A cor do material que se forma é branca, igual à neve, mas não é. O lugar é um dos mais interessantes e bonitos que eu já conheci e uma visita à Turquia, na minha opinião, merece pelo menos 1 dia neste local. Mas venham no verão!

 

Até semana que vem, Insh'Allah.


As piscinas naturais de minerais calcificados de Pamukkale.

Catedral bizantina, mesquita muçulmana, museu Hagia Sophia. Um local cheio de história.

Ônibus de primeira classe.

Edson Walker