Cotidiano
16.11.2011
SOBRE O QUE ACONTECEU
Desculpem-me os leitores, por falar disso, mas eu tenho pouca cabeça para tergiversar outros temas a não ser sobre meu pai que faleceu na quarta-feira dia 9 de novembro aos 82 anos, 9 meses e 11 dias.
Apesar de saber de sua luta incessante para prolongar a sua vida, sempre tomando chás, se alimentando de forma correta, com dieta à base de frutas e verduras principalmente, a idade avançada de meu pai, fazia com que eu quisesse estar perto dele, sempre que fosse possível.
Seu Aquelino morava em Santa Catarina, mais precisamente em São Miguel do Oeste, distante quase 350 km de Santa Helena, no Paraná, onde moro.
Mesmo assim, somente neste ano, se não me falha a memória, fui seis vezes visitá-lo para desfrutar do diálogo com ele e matar a saudade também de minha mãe Rosária, do meu irmão, minha irmã e de outros parentes que residem lá em SMO.
Todos me perguntam sobre como meu pai morreu. A exemplo do que fiz nas rádios, em respeito aos meus leitores, conto resumidamente o que aconteceu.
Meu pai contava com quase 83 anos, estava sofrendo um pouco do nervo ciático e inclusive havia aplicado nestes dias, uma erva chamada ciática, que faz levantar uma bolha e que “tira o veneno” segundo suas próprias palavras.
Havia feito vários exames recentemente. Seu coração estava um tanto quanto compassado e seus rins requeriam atenção maior. De resto, tudo em dia.
Ele já não se movimentava com aquela agilidade necessária e tinha o costume de comer frutas que tem ao redor do seu açude, xodó da sua chácara.
Era no anoitecer daquela quarta-feira dia 9, quando ele fazia o que costumava quase que diariamente. Primeiro comeu amoras mais próximo da casa. Foi onde minha mãe o avistou e dialogou com ele a última vez.
Minha mãe estava numa parte da chácara, fazendo uma pequena carpida e ao entrar na casa, viu o pai comendo amoras e ele a convidou para também comer.
Minha mãe disse que iria tomar um banho e preparar um chimarrão, como de fato o fez. Isso já eram quase 8h da noite. Minha irmã chegou do serviço e passou a tomar chimarrão com ela, foi quando notaram que já era um pouco tarde.
A mãe abriu a porta da casa e chamou pelo pai e não obteve resposta. Foi mais adiante, chamou por ele e nada. Pegaram uma lanterna, minha mãe e minha irmã e foram procurá-lo. Não encontraram.
Neste ínterim, liguei daqui de Santa Helena para a d. Rosária para dar um recado para o meu pai. Nem eu sabia, nem minha mãe, mas meu pai já estava morto naquele momento.
Ela estava um pouco estranha, me falou que o pai estava sumido na chácara, pedi se ela havia avisado meu irmão. Não conseguiu contato. Eu liguei, também não consegui, mas lembrei de um amigo em comum e liguei para o celular dele. Meu irmão estava ao seu lado.
Quando falei que o pai havia sumido, ele foi rapidamente da cidade até a chácara. Cerca de meia hora após me deu a notícia mais triste que recebi na vida até hoje.
Meu irmão o encontrou caído na beirada do açude, próximo de um barranco onde havia comido guabiroba. Provavelmente sentiu um mal súbito e caiu, morrendo numa profundidade não superior a 40 cm de água.
Sua tez no caixão era de quem teve uma morte suave e serena. Estava bonito meu pai, pele linda, rosto perfeito, como que prenunciasse a dimensão do lugar onde sua alma já habitava.