O Andarilho

14.02.2012

SEGUNDA COLUNA DA JORDANIA

Entrar na antiga cidade de Petra, na Jordânia, é como entrar no próprio tempo.
O profundo e estreito cânion de cerca de 2kms de extensão que serve de entrada para o grande complexo de templos e tumbas funciona como uma espécie de túnel do tempo. Não é difícil fechar os olhos e imaginar empoeiradas caravanas de camelos e mulas carregados com especiarias e perfumes passando ao seu lado guiados por cansados homens do deserto com seus mantos e espadas na cintura.

 

Após essa breve viagem no tempo, você abre os olhos novamente e vê ao seu redor apenas grupos de chineses, japoneses, russos ou alemães guiados por guias locais que falam fluentemente várias línguas. Misturados entre eles, mulas, cavalos e camelos parecem não sofrer a ação do tempo mas suas cargas de hoje, eufóricos turistas, são bem mais valiosas do que as de mais de 2000 anos atrás.

 

Várias coisas impressionam os visitantes da cidade de “petras” e é necessário pelo menos dois dias para se ter uma boa ideia do tamanho e da importância que ela teve lá pelos tempos de Jesus. Seus primeiros habitantes foram os Edomitas, povo bastante citado na bíblia, mas foram os árabes Nabateus que começaram a esculpir as rochas em imensos templos que impressionam ainda nos dias de hoje. Após vieram os romanos e bizantinos, interessados nesse importante centro comercial da época, e também deixaram suas marcas na arquitetura da cidade.

 

Após cerca de 20 minutos descendo o estreito cânion de imensas paredes de pedra, o visitante exclama novamente “uau!”, dessa vez, porém, mais alto do que nas anteriores. É a primeira vista do famoso templo “Al Khazneh”, em português “O Tesouro”, principal cartão postal de Petra. Por entre as paredes de rochas escuras pelas sombras, uma estreita fresta se ilumina com a belíssima escultura de mais de 20 metros de altura. Impossível não lembrar do Indiana Jones num lugar como esses, meu herói dos tempos de criança. Algumas cenas do filme “A Última Cruzada” foram filmadas nesse mesmo local. Me sinto uma criança realizada.

 

A beleza natural da região é muitas vezes superiora a criada pelos homens. É provavelmente a mistura que faz Petra ser assim tão especial. Caminho pelos vales vendo o que o tempo preservou após 3 grandes terremotos que destruíram a maior parte da cidade. A erosão causada pelas chuvas e pelo vento vão desgastando lentamente o que sobrou, criando as mais impressionantes texturas nas pedras com várias camadas de rochas coloridas.

 

Logo ali ao lado, onde os turistas não costumam ir, é possível ouvir o vento em silêncio. Nas paredes das rochas que formam o vale em minha frente, vê-se várias cavernas esculpidas pelo homem. Em algumas delas ainda habitam pessoas, beduínos do deserto, que vivem esquecidos pelos tempos modernos. Porém, talvez tenham celulares, pois não consigo imaginar que alguém na Jordânia viva tão desconectado como eu. Nas cavernas ao lado de suas “casas”, guardam galinhas e cabras. É outra cena desconcertante que se vê por aqui.

 

Mas tem muito mais na Jordânia do que Petra. É um país lindo e cheio de história. Vales lunares, montanhas, vilas, castelos dos tempos das cruzadas e igrejas bizantinas com mosaicos belíssimos são apenas algumas das coisas que se pode ver por aqui. Em uma dessas igrejas, na cidade de Madaba, é possível ver um mosaico impressionante do primeiro mapa da Terra Santa. Pego uma carona na explicação de um guia que mostra para um grupo de espanhóis todos os famosos locais citados pela bíblia. O mapa cria vida e toda a história parece estar representada ali naquela composição de milhões de pequenas pedras coloridas.

 

Viajar de carona aqui é realmente uma das melhores maneiras para descobrir o quanto os jordanianos podem ser generosos e hospitaleiros. Além de carona, geralmente você ganha ainda um café ou suco grátis e se você precisar, um lugar para dormir na próxima cidade. Um deles até me ofereceu um celular para poder me ligar no outro dia para nos encontrar na capital Amman. Se eu dissesse que no final ele ainda pediu se eu precisava de dinheiro, ninguém acreditaria.

 

O meu tempo na Jordânia está chegando ao fim. Na próxima semana, insh´Allah, escreverei de mais um país muçulmano, bastante diferente dos últimos, mas com certeza tão interessante quanto. Não percam!

Até semana que vem, Insh´Allah.

Vista da cidade de Wadi Musa com o vale de Petra ao fundo.

Cavernas habitadas por beduínos e suas cabras.

Maravilhas criadas por homens e natureza.

Edson Walker