Cotidiano

15.08.2011

PRÓPRIA CARNE

Uma sucessiva explosão de escândalos envolvendo altas esferas do governo federal está deixando a presidente nervosa.

Não é pra menos. É um escândalo em cima do outro. Mas isso, de acordo com as últimas pesquisas, não afeta tanto a popularidade do governo.

Aconteceu com Lula. Muitos setores do governo foram investigados. Auto-investigação. Cortar na própria carne. Isso não soa mal perante o público.

Logo após o almoço hoje, vi pronunciamento no senado de Pedro Simon. Vale a pena rever ou buscar ler o que ele disse.

Não se pode achincalhar o governo por causa destes casos. Nada ou quase nada é originário do governo de Dilma Rousseff. 

São heranças de Lula e até bem mais pra trás disso.

Por outro lado, o jornal O Estado de São Paulo, publica o seguinte editorial:

Dilma - No limiar do descontrole 

    A sucessão de escândalos de corrupção no governo federal  parece estar levando a presidente Dilma Rousseff ao limiar do  descontrole. Segundo o noticiário de ontem, ao tomar conhecimento da  prisão, pela Polícia Federal (PF), dos envolvidos na Operação Voucher,  que apura irregularidades no Ministério do Turismo, Dilma demonstrou  “grande irritação”. De acordo com fontes palacianas, classificou de  “acinte” o fato de os detidos terem sido algemados, reclamou “furiosa”  por estar sendo a toda hora surpreendida por operações da PF que lhe  criam problemas políticos e cobrou satisfações do ministro da Justiça,  José Eduardo Cardozo, a quem a PF é subordinada. 

    É fácil entender que a chefe de governo perca a paciência ao se dar  conta das proporções em que o aparelho estatal que herdou está  contaminado pelo fisiologismo que seu antecessor institucionalizou. É  igualmente compreensível sua aflição diante da grave ameaça que a  denúncia e a repressão dos arrastões nos ministérios representam para a estabilidade da base de sustentação de seu governo. Afinal, hoje está  mais do que evidente que o que manteve em pé essa construção,  meticulosamente edificada ao longo de oito anos, foi a tolerância com os  gambás introduzidos nos galinheiros.

    Mas a ênfase com que a presidente passou a manifestar sua  contrariedade com esses espetáculos pode dar margem à interpretação de  que está tomando as dores dos denunciados, em vez de manter a atitude de  isenção e respeito ao funcionamento das instituições que sua alta  investidura exige. À chefe do governo não cabe “enquadrar” a PF, como  têm sugerido, ou mesmo exigido, colaboradores e aliados. A polícia  existe para investigar delitos e reprimir a ação de criminosos,  colocando-os à disposição da Justiça. E deve agir de acordo com normas  de procedimento que, se infringidas, sujeitam os responsáveis pelas  infringências, por sua vez, a investigação, julgamento e, se for o caso, punições cabíveis. Não cabe, portanto, a altas autoridades palacianas,  classificar de “exageradas” ou “atabalhoadas” as ações da PF que lhes  criam problemas políticos. Nem ao líder do governo na Câmara, Cândido  Vaccarezza, declarar que “houve abuso de poder do Judiciário e do  Ministério Público”.

    Até agora a presidente Dilma Rousseff vinha se comportando  publicamente com exemplar sobriedade diante das repetidas denúncias de  corrupção, apoiando a necessária “faxina” nos setores da administração  comprometidos com a bandalheira. E essa atitude tem sido respaldada pela  opinião pública, como demonstram as pesquisas. Mas a sua reação diante  do mais recente capítulo de uma sucessão de escândalos como nunca se viu  antes na história deste país, parece revelar que se está tornando  irresistível a pressão daqueles que, tanto no governo como na base  aliada, não admitem senão a maneira lulopetista de governar.

    Pressionada por todos os lados e preocupada, principalmente, com o  tensionamento das relações entre governo e PT, de um lado, e PMDB, do  outro, Dilma recorreu a quem entende do assunto para se aconselhar. Em  reunião com Lula em São Paulo, na terça-feira, foi orientada a  “repactuar” a aliança com o maior partido da base aliada, cujos interesses estão sendo afetados pelos escândalos nos Ministérios da  Agricultura e do Turismo. Resta saber o que Lula entende por  “repactuar”.

    Depois da porteira arrombada, parece impossível conter a catadupa de  denúncias na mídia e as ações policiais contra o arrastão na  administração pública, em especial na federal. É uma simples questão de  se colher o que foi plantado durante oito anos. Trata-se, é claro, de  uma lavoura que não foi inventada por Lula e pelo PT, que na verdade criaram fama denunciando pragas. O lulopetismo apenas aperfeiçoou métodos de semeadura e colheita. E o PMDB é o segundo maior beneficiário  de toda essa criatividade. Na hora em que esses benefícios se  transformam em constrangimento, “repactuar” a aliança parece significar a  promessa do impossível ao parceiro: acabar com as denúncias e com as  operações policiais e com a repercussão de tudo isso na mídia.

    Dá para entender, portanto, a irritação da presidente. E lamentar que ela esteja dirigida na direção errada.

Elder Boff