Sexualidade Humana

30.01.2013

PANORAMA SEXUAL: HISTÓRICO E AGENDA

A Sexualidade tem a idade do próprio homem, embora suas concepções possam variar de acordo com a sociedade, a história e o grupo social.
Por Jehmy Katianne Walendorff e Thiago de Almeida

Este dossiê investiga os fundamentos e o contexto histórico do discurso contemporâneo no que concerne a sexualidade. A abordagem do tema sexualidade nas escolas é, em geral, muito difícil e complexa. Entretanto, sabe-se que o objetivo da educação sexual na escola incide em colocar educadores com um preparo adequado e com os objetivos de desempenhar de forma significativa e dinâmica sua função, ajudar os jovens a superar dúvidas, aflições e consternações. O dossiê pretende relatar, ainda que brevemente e com o objetivo de historicizar, a difusão social e cultural da sexualidade e analisar a visão de mundo que os autores têm nos dias de hoje.

COISA DE CRIANÇA
Segundo Foucault (1990), a sexualidade tem a idade do próprio homem, embora as concepções de sexualidade possam variar de acordo com a sociedade, a história, o grupo social e as diversas ciências humanas que se relacionam ao ramo que a estuda. Sexualidade é um conjunto de processos inter-relacionados que permeiam toda a existência humana e estão presentes em todas as fases da vida, e interpõem a forma como cada um lida com a afetividade, com sua capacidade de entrega, com a comunicação interpessoal e a maneira como cada pessoa lida consigo mesmo e com o outro.

A partir dessa perspectiva, pode-se perceber que a sexualidade é prazer que vai para além do ato sexual, confunde-se com o próprio prazer de viver e com a qualidade que cada um imprime ou não á sua vida (Foucault, 1982). E isto esta de acordo com o que Guimarães nos coloca quando afirma que o “homem foi elaborando, histórica e culturalmente, um conjunto de posturas em torno do sexo, que fez com que este transcendesse o próprio sexo. Surgiram tantas exigências, regras, cerimônias, interdições e permissões que tornaram a atividade sexual um tabu” (Guimarães, 1995, p. 23).

A SEXUALIDADE NÃO É ATRIBUTO OU PRIVILÉGIO DOS ADULTOS, COMO SE PENSAVA EM OUTROS TEMPOS.
Makaaroun, Souza e Cruz (1991) ressaltaram que tudo que se refere a sexo é cercado de mistério, incompreensão e tabus diretos. Tabus e preconceitos impedem o individuo de até mesmo buscar aprender. Sexo e sexualidade comumente são tomados como sinônimos embora, como vimos, seja consenso entre muitos autores que o sexo e sexualidade são conceitos diferentes (Blackburn, 2002; Chaui, 1995; Guimarães, 1995; Maia, 2001). Relações sexuais, diferenças genitais entre o sexo masculino e feminino e práticas sexuais diversas parecem enfatizar o que entendemos por sexo.

TABUS SECULARES
A sexualidade ocidental foi influenciada preponderadamente por uma concepção religiosa e médico higienista do século 19, ambas ultrapassadas, carregadas de tabus que afetam a maneira de se encarar a sexualidade, e o primeiro deles refere-se ao “pecado” de Adão e Eva, a partir o qual tudo o que diz respeito ao relacionamento sexual está relacionado a um sentimento “de vergonha”. O segundo, que as excreções do corpo são sujas e/ou pútridas, principalmente pelo fato de o sistema urológico, sobretudo para a mulher, estar próximo anatomicamente ao sistema genital.

Até hoje vigora um tabu psicológico que pesa sobre a iniciativa sexual das mulheres, por exemplo; tem muito a ver com o papel de subordinação que a sociedade estabelece para o sexo feminino, e sequelas de 6.000 anos de patriarcalismo.

Outro mito bastante comum é o da masturbação. Este é um comportamento absolutamente normal e pode estar presente em qualquer idade. No entanto, as fantasias a ela vinculadas e ao ato em si são fontes de culpa universais.

O tabu da virgindade foi derrubado, é algo sem volta. As exceções ficam restritas aos grupos religiosos ultraconservadores. Constata-se que o sexo entra mais cedo na vida dos jovens.

Havendo ou não penetração, o incesto é o maior tabu da humanidade. Poucas sociedades admitem a relação intrafamiliar, mesmo que os envolvidos não tenham laços consanguíneos, caso de madrasta e enteado.

Millôr Fernandes, certa vez, disse: “De todas as taras sexuais não existe nenhuma mais estranha que a abstinência”. Um grande tabu é o de não admitirmos a vida sem atividade sexual. Temos um discurso, reforçado pela mídia, que garante que o sexo é essencial para a felicidade. Mas ele não é fundamental. Acredite, muitas pessoas podem se realizar sem sexo.

Jehmy Katianne Walendorff é Historiadora formada pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Administradora formada pela FALURB, ambos os Campus de Marechal Candido Rondon – PR

Thiago de Almeida é Psicólogo, Mestre pelo Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Professor do Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior.

Publicado Revista Psique (Ciência e Vida) Ano VI nº 73 - Janeiro/2012 (pág 36). 

Jehmy Katianne Walendorff