Cotidiano

28.01.2008

JANEIRO - 2008

CONCORRÊNCIA

Outro dia li uma matéria sobre aquela menininha que morreu lá no exterior, provavelmente infectada por alguma doença contraída em razão de uma necessidade que ela tinha de atravessar todos os dias um rio, a nado, para freqüentar os bancos de uma escola. Uma das hipóteses para a origem da enfermidade é o consumo de água contaminada do rio, ainda que não seja a única possibilidade, afirmou o doutor Héctor Rodríguez, do Hospital de Tepic. Antes de cair enferma, Magali Cortés pediu à prefeitura uma ponte para atravessar o rio Santa Rosa, que cruza o município mexicano de Tepic.

Lembro-me desta história porque é justamente este o momento em que nossos filhos se preparam para começar mais um período escolar. Tem criança, adolescente, jovem, enfim, aluno, que reclama desde a noite anterior para ir para a escola. É claro que exceções existem e de vez em quando, rompe-se a tradição do horário e existe a postergação do horário normal de dormir, mas o problema é quando isso ocorre todas as noites. De manhã, precisa uma banda ou um balde d’água para acordar o cidadão, pra tirá-lo (a) da cama. Vai emburrado pra mesa, quer tudo na boquinha e não mexe um palmo do lugar onde se incrusta. Mãe, dá o café! Mãe, dá o pão! Cadê a margarina? A minha pasta, a senhora viu?

Antigamente, dava mais prazer estudar porque não havia a concorrência de hoje. A professora com a sua velha lousa preta e o giz branco, é bem menos atrativa do que o colorido jogo de vídeo game, do que as badaladas novelas da televisão, sem contar os famigerados BBBs da vida. De quebra tem os i-pod, celulares de última geração, mp4, 5 e outros. Estudar não é mais uma opção, uma alternativa prazerosa de integração com colegas, de sair da rotina. Hoje, não se estuda mais por prazer e sim pela necessidade cada vez mais indispensável do canudo. Há o canudo. Terceiro grau não chega mais. Precisa haver pós-graduação, mestrado, doutorado, esse é o caminho. Mas, voltando ao cerne do assunto, hoje é bem mais fácil o acesso à escola. Situações como a da menina Magali que morreu no México, servem de lição para quem ainda reclama que a escola é longe, que o ônibus passa a 50 metros da casa, que não tem ponto de ônibus, que a professora ou o professor é chato. Temos que agradecer todas as oportunidades que nos são dadas para estudar, num lugar como Santa Helena e tantos outros municípios da nossa região e do país afora. Minha mãe, d. Rosária, sempre me conta e isso ficou marcado na minha memória. Ela ia quilômetros para freqüentar a escolinha. Ia de pés descalços e ao chegar próximo da escola, lavava os pés num riacho e colocava o tamanquinho que levava junto com o caderno e o lápis, numa sacola.


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Elder Boff