Contando Histórias
18.10.2021
História da Colonização de Santa Helena, narrada pelo pioneiro, Antenor Terol
Quarta-feira 12 de junho de 2019 entrevistei o Sr. Antenor Terol, residente à Rua Goiás 2071, centro de Santa Helena. O entrevistado nasceu em Getúlio Vargas R/S, aos dezesseis dias do mês de novembro de 1936. Filho de Mariano Terol e Ermínia Lopes Terol, ele de origem italiana e ela, espanhola. Casal que teve dois filhos e oito filhas, incluindo Antenor Terol. Professavam a fé católica.
No município de Getúlio Vargas, Antenor trabalhava na agricultura com os pais e, nos finais de semana, participava do grupo de cânticos, no qual, cantavam hinos religiosos, no transcorrer da missa. A voz era o único “instrumento” de som que tinham para cantar, porque, a Igreja não dispunha de aparelhos sonoros, que os auxiliassem nas apresentações dos cânticos aos fiéis.
Antenor uniu em matrimônio com Elzira Maraskim (inmemorian) no ano de 1956 no mesmo município que nascera. Desta união tiveram três filhos e três filhas. A primeira filha do casal, Marlei Terol nasceu em Getúlio Vargas no dia 17 de outubro de 1958, os demais nasceram em Santa Helena PR. São eles: Adelir (inmemorian), Aldair, Aldecir, Elenice e Eliane.
No município de Getúlio Vargas, os pais de Antenor eram proprietários de 12 hectares de terras. Partes desta propriedade, de relevo plano, partes, acidentado. Na área “acidentada” (morros), dificultava a prática da agricultura. Na área plana da propriedade, plantavam e colhiam, principalmente milho e trigo.
Lembrando que nas décadas de 1950/60, os agricultores utilizavam bois de cangas, para os diversos trabalhos na agricultura, tais como: preparar o solo, transporte e plantio de sementes de cereais, transportar a produção agrícola até os galpões da própria propriedade e/ou para vendé-la aos cerealistas, na cidade.
Usavam este meio de locomoção, porque no Brasil as máquinas agrícolas foram introduzidas no campo na década de 1970, com a mecanização das terras. A partir de então, o uso da tração animal nos afazeres do campo, caiu em desuso. Atualmente, são raros agricultores que ainda utilizam-o nos trabalhos na agricultura.
Vejamos porque houve o deslocamento de inúmeros migrantes sulistas em direção ao oeste do Paraná nas décadas de 1950/60, dentre estes, os Terol.
Em meados do século XX, o oeste do Paraná despontava no cenário nacional como uma excelente fronteira agrícola. Perspectiva que suscitaram empresas colonizadoras do pais, adquirir extensas glebas de terras nesta região. A maioria das empresas colonizadora vinham com o propósito de redividir as áreas adquiridas e vendê-las para implantação da agropecuária, e em loteamentos urbanos, neste caso, formar vilarejos, povoados e cidades.
Diante deste contexto, a Companhia de Colonização Agrícola Madalozzo de Erechim (RS), adquiriu em 1952 a gleba de terras da Empresa Agrícola Alegretti com o objetivo de redividí-la em pequenas e médias propriedades rurais e em, loteamentos urbanos. Dos loteamentos urbanos, formaram a cidade sede (SH) e a Vila, Subsede. Inciativa que propiciou o início do futuro município de Santa Helena.
Paralelamente às redivisões das terras da Madalozzo, ocorreu (1956) a regularização dos documentos que regiam as leis brasileiras de compra e vendas de propriedades, quer seja, rural e/ou urbana. Documentação regulamentada com o Estado Brasileiro, em 1957, a Madalozzo inicia as vendas dos imóveis da Companhia às pessoas interessadas em adquirir suas propriedades.
É importante ressaltar que no sistema capitalista, o empresário investe seu dinheiro, (indiferente do empreendimento), na perspectiva de recuperar os investimentos aplicados no negócio e além disso, obter lucro sobre o capital investido naquele empreendimento.
Para acelerar as negociações das propriedades da Imobiliária Madalozzo, os proprietários recorriam a jornais impressos, distribuídos pelos corretores da empresa nas cidades e vilarejos do Oeste do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, no qual, destacavam a fertilidade do solo, topografia plana, clima favorável ao desenvolvimento da agricultura, água em abundância e facilidade de pagamento das terras.
Mariano Terol influenciado por essas propagandas, resolveu conhecer a região, era o final do mês de setembro de 1958. Viajou com uma caravana de agricultores gaúchos transportados por um “micro-ônibus” de Getúlio Vargas, destino, Santa Helena.
Foram quatro dias de viagem para chegar em Santa Helena. Todos os caravaneiros, vieram com a intenção de comprar terras da Empresa Colonizadora Madalozzo.
Ao chegar no escritório da Madalozzo que ficava no centro de Santa Helena, Mariano Terol expôs aos responsáveis pelas negociações das terras da empresa o seguinte, “não tenho interesse em adquirir áreas rurais que tenha pinheirais, porque, nas terras que concentra esta vegetação, o solo é fraco, por isso, as plantas cultivadas nestas áreas, não desenvolvem com a mesma força, se comparada com as terras cobertas por outros tipos de arbustos florestais” disse ele ao corretor.
Obs. Se faz necessário ressaltar que esta era a concepção recorrente entre os colonos, porque, até então, os produtores rurais não utilizavam calcário para correção da acidez do solo e nem fertilizantes químicos, pois, não conheciam, uma vez que, ainda não eram produzidos pelas indústrias químicas em nosso país. A partir da década de 1970, os fertilizantes químicos são fabricados em escala industrial e comercializados com os agricultores brasileiros.
Sendo assim, os solos que eram considerados “fracos/magros” pelos agricultores, deixaram de sê-los, pois, os cereais cultivados nestas áreas com o uso correto de calcário e fertilizantes químicos, conseguiram aumentar a produtividade por hectare (ha) e/ou alqueire cultivados. Outra exigência de Mariano, que assim expressou ao corretor da Madalozzo: “as terras que gostaria de conhecê-las e, quem sabe, comprá-las, deve conter também, boas águas dentro dos limites da propriedade”.
Apresentadas as exigências, o corretor Teimer, passa percorrer com Mariano em um JEEP da colonizadora, as propriedades rurais que estavam disponíveis à negociações conforme solicitação do comprador. Após conhecer diversas áreas rurais da colonizadora, Mariano agradou de uma propriedade localizada nas proximidades do Rio São Francisco Falso, no atual distrito de Subsede, com vinte e dois alqueires (22), por isso, comprou essas terras.
Retorna ao Rio Grande do Sul, vende as terras que a família possuía em Getúlio Vargas e, viaja de volta para Subsede com uma caravana de agricultores, interessados em comprar terras da Madalozzo. Nesta viagem, Mariano teve a companhia do cunhado, Nelson Maraskim. Por falta de espaço na caravana, Antenor viajou de avião de Erechim a Cascavel. De cascavel a Foz, viajou de ônibus.
A rodoviária de Foz era diminuta, (ficava defronte do quartel do exército brasileiro), sem o mínimo conforto aos viajantes, complicava ainda mais, se o passageiro tivesse de esperar por muito tempo naquele local a espera de outro ônibus para continuar a viagem. Foi o que aconteceu com Antenor, entre aguardar a caravana que deslocava de Getúlio Vargas e, chegar em Santa Helena, foram seis de viagem.
Assim que Mariano, Antenor e Nelson Maraskim chegaram em Subsede, iniciaram a derrubada da mata que havia nas terras adquiridas da Madalozzo. As famílias destes pioneiros continuaram residindo em Getúlio Vargas até que construíssem as residências nas terras que acabara de comprar.
Construíram provisoriamente um abrigo com lasca de coqueiro e cobriram com folhas deste arbusto para protegê-los das intemperes climáticas. Na sequência, iniciaram a derrubada das matas da propriedade rural. Trabalhando intensamente de segunda à sexta-feira, os três parentes, conseguiram desmatar um alqueire e meio de floresta, preparar e semear as sementes de cereais no solo. Nos finais de semana, ficavam alojados numa casa no centro de Santa Helena que Mariano alugara de Antônio Thomé.
Porém, Antenor precisou retornar a Getúlio Vargas para acompanhar o nascimento da primeira filha, pois, a esposa estava grávida e prestes do nascimento da criança, que aconteceu no dia 17 de outubro de 1958 e, recebeu o nome de Marlei Terol.
No intervalo de tempo que Antenor estava em Getúlio Vargas, correu um boato naquele município que os “tigres” tinham devorados Mariano Terol enquanto trabalhava em suas terras em Subsede. Os familiares ficaram apavorados, de imediato, Antenor entrou em contato com os responsáveis da Companhia Madalozzo em Erechim, que, veementemente desmentiram a conversa, que aquilo não passava de uma falsa notícia (fek news do passado).
Diante da repercussão do caso, Mariano Terol retorna ao RS para demonstrar aos familiares que estava vivo e bem de saúde. No entanto, ficou preocupado com a possibilidade de continuarem inventando notícias falsas a seu respeito se viesse novamente para Santa Helena, sem os familiares. Por conta disso, contratou (abril de 1959) um caminhão em Getúlio Vargas e, trouxe os utensílios domésticos de sua família, do Antenor e do Nelson Maraskim até a cidade de Santa Helena.
Em Santa Helena, residiram por seis (6) meses numa casa cedida pela empresa Madalozzo (ficava onde hoje é a Loja Tupi), pois, Mariano Terol empenhado na derrubada das matas de sua propriedade em Subsede, não construíra as residências para abrigar os familiares. Ao trazê-los repentinamente de Getúlio Vargas, o que obrigou a morar por seis meses na sede do município de forma improvisada.
As famílias Terol/Maraskim saíram do RS cientes de que Santa Helena estava desprovida de estradas de ligação entre cidade e áreas rurais, bem como, igreja, escola, hospital, bancos, comércio, entre outras infra-estrutura.
Infraestruturas que precisavam ser construída para atender os moradores que aqui diariamente chegavam de diversas regiões do Paraná, em destaque, SC e RS, por isso, era comum, agricultores se reunirem para abrir estradas através de mutirões e, de forma voluntária (sem receber dinheiro pelos trabalhos executados).
Os próprios Terol e seus vizinhos de terras, abriram uma estrada por conta própria para facilitar as interligações de suas propriedades rurais, obviamente, com o objetivo de agilizar o ir e vir das pessoas que ali residiam, bem como, transporte de sementes e cereais que plantavam e colhiam em suas terras.
Visando acelerar a abertura de estradas rurais, a empresa Madalozzo, empreitou ao Antenor Terol para que fizesse a derrubada da vegetação no traçado da estrada que interligaria a Linha Salete, Bico do Papagaio ao Rio São Francisco Falso. A derrubada da vegetação do traçado da estrada de interligação das terras da família Terol ao atual distrito de Subsede. A Madalozzo lhe pagava seis (6) mil reis por metro corrido (dinheiro da época) pelos serviços de limpeza dessas estradas. Disse ele, que sozinho conseguiu limpar aproximadamente 10 km de estrada no interior de Subsede.
E que, também prestou serviços como funcionário remunerado temporário à Madalozzo, pelo qual, auxiliou na limpeza da vegetação que havia no trajeto da estrada entre Subsede e Entre Rios do Oeste/PR. Ao término deste trabalho, coube ao DER - Departamento de Estrada e Rodagem do Paraná, providenciar o transporte das vigas e colunas de madeiras doadas pela Madalozzo que encontravam depositadas nas serrarias de Santa Helena, bem como, construir com estes materiais, pontes sobre os rios e riachos que existia no traçado da referida estrada.
Relembrou Antenor, que na década de 1960, foi necessário a construção de uma outra ponte, (conhecida por ponte baixa pelos “antigos” moradores de SH) no Rio São Francisco Falso, para facilitar a comunicação entre as linhas: Salete, Aparecidinha, Braço do Norte, Linha Gaúcha, Sanga Natal e São Clemente.
Mais um trabalho cooperativo/voluntário dos agricultores daquela região, onde doaram madeiras brutas e dinheiro para a aquisição dos materiais necessários na execução desta obra. Antenor fez questão de referenciar o santa-helenense Alberto Alegretti, pois, doou todo o cimento utilizado na construção desta ponte e, dinheiro para o pagamento da mão-de-obra de serventes e pedreiros gastos nesta ponte.
Coube ao entrevistado, a responsabilidade de recolher as doações em dinheiro e encaminhar as madeiras (não beneficiadas/“brutas”) até as serrarias do município para que fossem transformadas em pranchas e pilastras que seriam utilizadas na construção da ponte. Para os moradores da Linha Maraskim, esta ponte reduziu de oito para três km a distância da sede do município.
Disse que, deslocava a pé de Subsede até o centro de SH, onde cooperou voluntariamente na construção da primeira Igreja Católica (madeira) da cidade (1959). Este templo religioso estava assentado na praça Antônio Thomé. Nesta Igreja, Antenor e Theodor Schieroldt, eram os responsáveis pelos cânticos de louvores durante a celebração religiosa. Obs. Theodor Schieroldt, (inmemoriam) outrora proprietário da Casa Schieroldt tombada pela municipalidade como patrimônio histórico de Santa Helena.
Contribuiu também, de forma voluntária, trabalhando de servente de pedreiro na construção do alicerce da Igreja Católica Santa Terezinha de Subsede. Ao relembrar desses trabalhos, Antenor diz, sentir-se feliz, porque acredita que colaborou com o desenvolvimento de Santa Helena e região oeste do Paraná.
Obs. Na opinião de Antenor, o melhor prefeito de Santa Helena foi Francisco Muniz que administrou o município na década de 1970.
A abertura das estradas “facilitou” a vida dos moradores de Santa Helena, com a seguinte ressalva, carros e caminhões encontravam dificuldades em transitar por elas, em razão das constantes chuvas que assolavam a região, ocasionando com isso, atoleiros e lamaçais, uma vez que, eram todas de terra. Complicava ainda mais, quando os santa-helenenses precisavam deslocar à Foz do Iguaçu. A estrada que ligava as duas cidades, ficava praticamente intransitável nos períodos de intensas chuvas que ocorria na região.
Neste caso, a opção, viajar através das embarcações que navegava no Rio Paraná (hoje Lago de Itaipu), porém, nem todos os dias os barcos a vapor passavam pelo porto de Santa Helena. E, a duração de viagem a Foz do Iguaçu via Rio Paraná, era de quatro horas para ir e, seis horas, para retornar a Santa Helena.
Sobre o sócio-proprietário da Empresa Madolozzo, João Marcelino Madalozzo, comentou Antenor que se tratava de uma pessoa de confiança e de caráter e que, entre eles, havia mútuo respeito, por isso, tinha-o como um amigo. Por outro lado, ao conversar com os funcionários (peões- como diz o entrevistado) que trabalhavam na empresa, demonstrava semblante sério, dando a impressão de uma pessoa rígida/“brava”, só impressão mesmo, porque era uma pessoa de bom coração, enalteceu Terol.
Segue os desafios dos pioneiros nos primórdios da colonização do município. Casas comerciais em Santa Helena começam a surgir a partir dos primeiros anos da década de 1960, até então, obrigava os colonos/agricultores recorrerem à caça de animais silvestres e a pesca nos rios da região para auxiliar na alimentação de seus familiares, porque era difícil deslocar às cidades da região para conseguir comprar estes e outros alimentos.
Após alguns dias residindo em Santa Helena, Antenor resolveu caçar nas matas da região oeste. Nesta primeira tentativa, não conseguiu abater nenhum animal, retornou para casa de mãos “vazias”. Sentiu que a floresta tem lá seus mistérios e que era necessário conhecê-los/compreendê-los, para conseguir êxito nas caçadas que fosse realizar. Não demorou para Antenor aprender os melindres da floresta e tornar um excelente caçador, conforme pode ser constatado na descrição do número de animais silvestres que conseguiu abater nas matas da região oeste do Paraná entre o final da década de 1950 e década de 1960.
Obs. É importante ressaltar, principalmente às crianças e jovens da atualidade, que naquela época não era ilegal (crime) capturar e/ou abater animais silvestres, independente de qualquer espécie.
Recorda Antenor que no dia 21 de junho de 1959, ao retornar de viagem do Rio Grande do Sul (diga-se, Getúlio Vargas) para Santa Helena, resolveu caçar. Nesta caçada conseguiu abater uma anta e um pardo, onde hoje está a Prainha de Santa Helena. Com a carne desses animais, Antenor preparou uma churrascada numa churrasqueira improvisada, defronte do atual Banco do Brasil (Avenida Brasil/SH) e convidou os amigos para saborear o churrasco.
Obs. Lembrando aos leitores mais jovens, que Santa Helena e região era coberta de florestas, portanto, ainda era possível encontrar uma enorme riqueza da fauna silvestre, nos primórdios da colonização do município.
Em todas as caçadas que Antenor realizou nas florestas do oeste paranaense, afirma ter abatido 17 antas e, dentre estas, capturou uma com um filhote pequenino. Abateu a anta mãe e criou o filhotinho no pátio da casa como fosse animal doméstico.
Pessoas de Subsede e região, ao saber disso, ficavam curiosos e, deslocavam até a residência do Terol para conhecer in loco a “antinha”. Ao atingir a fase adulta, Atenor vendeu-a para Laurindo Rabaiolli (inmemorian), por três contos de reis (moeda brasileira da época) e mais uma “porca” (suíno) que fez parte da negociação da anta. O comprador levou-a para sua residência em Subsede, por sorte da anta, escapou do chiqueiro que encontrava confinada e fugiu para seu habitat natural (floresta) da região oeste.
Além das 17 antas que Antenor abateu nas matas da região oeste, nos anos de 1950/60, soma-se três porcos do mato, em contrapartida, pardos, catetos e queixadas, perdeu as contas de quantos matou.
Conforme Antenor, o caçador para obter sucesso em suas caçadas, era preciso estar acompanhado de um excelente coadjuvante de caça, um cachorro e, ele tinha o fiel amigo, Baito. Destemido, habilidoso e faro aguçado para encontrar caça em meio à floresta, com sutileza, encaminhava a presa em direção ao caçador, tornando-a alvo fácil de ser abatida. Com o apoio do Baito, Antenor conseguiu abater em uma única caçada, seis catetos.
Rapidamente Baito tornou conhecido e famoso em Subsede e região, ao ponto de agricultores/caçadores querer comprá-lo de Antenor. Um dos interessados, ofereceu-lhe, uma vaca leiteira, na tentativa de adquirir o cachorro, oferta refutada. A proposta foi recusada, porque, segundo Antenor, a posse do animal, era a garantia de alimentação de dez (10) famílias se o agricultor/caçador desejasse, pois, com o Baito nas caçadas, o caçador retornaria para casa com algum animal silvestre abatido.
As caçadas aconteciam normalmente em equipe, composta de sete e/ou oito pessoas de confiança e, que se consideravam entre eles, verdadeiros amigos. Antes de adentrarem à floresta para caçar, nomeavam um, dentre os mesmos, para coordenar as ações que foram previamente discutidas pelo grupo e que, a parir de então, todos deveriam seguir seu comando para evitar possíveis acidentes no transcurso da caçada.
Pela experiência que adquirira em caçadas, Antenor por diversas vezes foi incumbido pelos amigos de caça, para coordenar as ações que seriam realizadas no transcorrer da caçada. O coordenador nomeava quem iria à frente do grupo ao adentrarem a floresta e este, era a única pessoa que caminharia mato adentro com uma espingarda municiada, medida necessária para evitar possíveis acidentes entre os caçadores ao percorrer as trilhas na floresta. Os demais componentes, municiavam os respectivos armamentos, após escolherem um local na mata que seria o ponto de referência deles e que, esperavam encontrar naquele lugar, muitos animais para caçar.
Animais silvestres abatidos, os caçadores levavam as caças às suas residências para fazer a retirada do couro, e demais procedimentos que fossem necessários, até que a carne do animal estivesse em condições de ser consumida como alimento. As carnes destes, eram repartidas igualmente entre os integrantes do grupo, desta caçada. Armas utilizadas nas caçadas, espingarda de dois canos, marca rossi calibre vinte oito (28) e, revólver taurus calibre trinta e oito (38).
Pescaria, Antenor disse que poucas vezes foi pescar, porque não apreciava a atividade pesqueira, mas, lembra de uma que pescou um Jaú de aproximadamente vinte quilos (20) no Rio Paraná, conhecido pelos santa-helenenses da década/60 de manguruju. Ainda sobre pescaria, comentou que João Madalozzo (dono da Empresa Madalozzo que colonizou Santa Helena) fisgou no Rio Paraná um Jaú de 70 kg e um outro peixe de 42 kg (não lembra mais o nome deste).
João Madalozzo convidou Atenor para que fizesse a limpeza dos peixes, pois, tinha prática com este tipo de pescado e que, repartisse a carne entre os trabalhadores da empresa colonizadora. Trabalho que realizou com a maior alegria e satisfação, pois, João Madalozzo era uma pessoa prestativa e que, além disso, entre eles havia respeito recíproco.
O entrevistado disse também que, em Santa Helena conheceu jagunços que tinham os apelidos das serpentes venenosas do Brasil: Jararaca e Cascavel. E que, o acampamento/alojamento destas pessoas (jagunços) ficava próximo à divisa das terras dos Terol em Subsede PR.
Obs. As terras que “protegiam” ficava na região conhecida pelos santa-helenenses de Braço do Norte, local que ocorreu no passado, intensos conflitos armados entre grileiros/jagunços/posseiros, pela posse e domínio das terras daquela localidade.
Conforme afirmativa de Antenor, ele e seus familiares conviveram por vários anos, vizinhos dos jagunços do Braço do Norte. Convivência cordeal e pacífica, a tal ponto que conversavam quando encontravam nas caçadas nas florestas da região e que, se visitavam em suas respectivas residências.
Havia uma relação de confiança e respeito entre os Terol e jagunços que, Alzira Terol (cunhada de Antenor) lavava as vestimentas (roupas) daquela gente. Eles diziam aos Terol que jamais os aterrorizariam, porque, adquiriram terras da Colonizadora Madalozzo e que estas, eram legalizadas. Diziam que o serviço deles era, expulsar pessoas que tentassem apossar das áreas que vigiavam, nada mais do que isso.
Nas terras que vigiavam, se ocorresse “invasão” da área, quer seja, por parte de outros grileiros e/ou de posseiros, eram iminentes os confrontos armados e o, resultado disso, mortes de ambos os lados.
Obs. Os jagunços quase sempre estavam a serviços de “grileiros” de terras, que os contratavam com o objetivo de “proteger” a área que conseguiram demarcar de forma ilegal.
Os jagunços disseram ao Terol que diversos posseiros que tentaram estabelecer no Braço do Norte (SH), vieram do município de Capanema/PR. Lembrando que, aquela região do sudoeste do Paraná na década 1950 foi palco de intensos conflitos agrários, de um lado estavam, grileiros/jagunços e de outro, posseiros.
Certamente os posseiros daquela região, ainda sonhavam conquistar um “pedaço” de terra, motivo pelos quais, alguns deles, deslocaram para o oeste do Paraná, na esperança de obter aqui, uma área rural, onde poderiam trabalhar e tirar o sustento de sua família.
No entanto, aqui depararam com conflitos agrários iguais que enfrentaram de onde vieram, Capanema. Por conta disso, novamente estavam envoltos na luta armada na região oeste paranaense, ao lado de outros posseiros que já estavam na região e que lutavam, pelos mesmos objetivos, conquistar um “pedaço” de terra.
Relembrou Antenor que em Santa Helena conheceu produtores rurais que possuíam terras com escritura pública totalmente legalizadas, entretanto, no desejo de conquistar alguns alqueires a mais de terras, ingressaram ao lado dos posseiros que lutavam pela posse de terras no oeste paranaense.
Se conseguissem expulsar os jagunços das áreas em litígios e se, houvesse desapropriação dessas áreas rurais para fins de reforma agrária, acreditavam esses posseiros/com terras, que também receberiam um “pedaço” de terras que havia sido apossadas por eles.
Segue outros episódios relatados pelo Antenor, em que estiveram envolvidos jagunços versus posseiros nos primórdios da colonização de Santa Helena.
Vejamos, em uma madrugada do ano de 1960, esteve na residência da família Terol o pistoleiro, conhecido pelo apelido de Cascavel. Este sujeito comandava um grupo de jagunços que tinha a incumbência de vigiar/proteger uma propriedade rural que ficava na divisa das terras da Madalozzo em Subsede. Relatou que por volta das vinte e duas horas da noite, ele e seus comandados foram surpreendidos por aproximadamente 40 posseiros, com arma em punho, atacaram o acampamento em que estavam alojados. Obs. O alojamento ficava distante da casa de Antenor, aproximadamente mil metros, por isso, foi possível ouvir os estrondo das balas, naquele tiroteio.
Aproveitando a escuridão da noite e sem ferimentos, “Cascavel” que conhecia bem a região, fugiu em meio a mata fechada e, dirigiu até a residência do Terol, pois, entre eles, existia uma relação de confiança. Rapidamente contou ao Terol os acontecimentos que acabara de enfrentar e que estaria abandonando a região oeste do PR. Um barco (caíque) que pertencia a “Cascavel”, que era utilizado pelos jagunços durante incursões pelo interior de Subsede via Rio São Francisco Falso, foi doado na ocasião pelo próprio Cascavel ao Antenor Terol, por conta do respeito e amizade que havia entre eles, disse o jagunço. A partir de então Antenor nunca mais soube notícias alguma de Cascavel. Deste tiroteio, mais tarde, Antenor ficou sabendo que morreu neste confronto, um posseiro.
O episódio acima, dispersou a “jagunçada” da região do Braço do Norte, por outro lado, desorientou posseiros envolvidos naquela ação, que alguns, se perderam nas matas da região conflitante. No entanto, possibilitou a permanência de outros posseiros nas terras litigiosas.
Um fato em especial sobre este conflito, chamou a atenção de Antenor, foi a participação de Ledesma, de nacionalidade paraguaia que trabalhava para um posseiro que envolvera na luta armada e obrigou seu “peão” (como diz o entrevistado) a participar diretamente na luta armada, por sorte, saiu vivo deste embate.
Ainda segundo Antenor, as armas utilizadas pelos jagunços ou posseiros nesta “guerra”, algumas tinham alto poder de destruição, porque, as balas destruía praticamente tudo que encontrasse pela frente, em razão da força das explosões, quando detonadas.
Os conflitos agrários que aconteceram no território de Santa Helena, também deixaram rastros de torturas, como aconteceu com Antoninho de Oliveira. Posseiro que foi amarrado pelos jagunços em uma árvore de cinamão (conhecida por outros de Santa Bárbara), defronte a um comércio de São Clemente. Insatisfeitos com isso, arrancaram seu bigode usando um alicate, para completar a crueldade, obrigaram-o, ingerir oito pacotes de sal amargo, o que lhe ocasionou aguda disenteria intestinal, por conta disso, quase morreu.
Na tentativa de por fim nos litígios agrários em Santa Helena, em 1970, soldados do exército brasileiro, destacamento de Guaíra, instalam uma base militar no atual Distrito de São Clemente. Os comandantes desta guarnição, reúnem com os posseiros da região e os convencem a entregar seus armamentos, pois, os militares estariam na localidade para protegê-los de qualquer ação dos jagunços.
Acreditaram no comando militar, entregaram os armamentos e as balas, depositando-as no bagageiro de um JEEP do exército que estava exclusivo para recolher os materiais bélicos.
Conseguiram com isso desarmar os posseiros, porém, os militares não desarmaram os jagunços, que continuaram aterrorizando-os em seu dia-a-dia. Saída que encontraram, armar-se novamente, foi o que fizeram para que pudessem se defenderem dos infortúnios das jagunçadas da região.
Entretanto, quando foram ao comércio para adquirir munições (chumbos e balas) que municiariam os armamentos, não encontraram estes artefatos para comprar. Recorreram da seguinte solução, retiravam as “cabeças” dos pregos e usavam como se fossem chumbos, pois, sabiam que estes objetos ocasionavam enorme destruição ao impactar com qualquer obstáculos que encontrasse na trajetória do tiro, após detonação da arma de fogo.
Na região de São Clemente e Aparecidinha, residiu “Gaúcho”, jagunço que Antenor Terol também conheceu. Considerado pelos posseiros dessas localidades, sujeito muito valente, que vivia cotidianamente aterrorizando-os com ameaças físicas e psicológicas, como forma de pressionar os posseiros a deixarem as áreas de terras por eles apossadas. Num combate entre jagunços versus posseiros que ocorreu na Linha Aparecidinha, “Gaúcho” foi alvejado pelos posseiros, não resistiu aos ferimentos e ali mesmo, morreu.
Com o “fim” deste personagem, proporcionou por um espaço de tempo, certo alívio nas tensões agrárias na região que ele “atuava”, isto porque, comandava uma legião de jagunços, que ficaram desorientados com sua morte no tiroteio.
A região conhecida por Ponte Queimada, entre os municípios de Diamante do Oeste e Santa Helena, também ocorreram acirradas disputas pela posse da terra na década de 1960 e partes da década de 1970.
O alvo, Fazenda Mesquita, no qual, as pessoas que se diziam serem legítimos proprietários da mesma, contrataram jagunços, na tentativa de guarnecê-la de possíveis investidas de posseiros sobre aquela área.
O aparato humano e bélico de proteção da Fazenda Mesquita, não foram suficientes para impedir a tentativa de ocupação daquele “território” por posseiros e, teve como resultado disso, sangrentas batalhas e muitas mortes, principalmente daqueles que tentaram apossar das terras da fazenda em questão. Para além dessas batalhas, ocorreram outros episódios em que estiveram envolvidos trabalhadores da referida Fazenda, como descreveu um agricultor da região de São Roque (SH) ao receber a visita de Antenor Terol em sua residência.
O ruralista disse que apareceu em sua casa duas pessoas maltrapilhas, pedindo-lhe um prato de alimento para saciar a fome que sentiam. Alimentados, contaram-lhe que estavam trabalhando na derrubada das matas da Fazenda Mesquita e que, resolveram fugir dali, porque perceberam que os trabalhadores que nela já trabalhavam, ao receberem os pagamentos pelos serviços que prestaram, ao saírem da “porteira” de entrada da daquela área, eram obrigados pelos jagunços a devolver todo o dinheiro que acabara de receber. E se, resistissem entregar o pagamento recebido, os jagunços os espancavam impiedosamente.
Receosos de serem vítimas das atrocidades explicitadas, na calada da noite, sorrateiramente fugiram em meio à floresta da região, sem reivindicar qualquer acerto de conta, pois, temiam as “garras afiadas” dos jagunços da fazenda Mesquita.
Continuou Antenor a relatar conflitos agrários em Santa Helena nos primórdios da colonização. A localidade conhecida pelos santa-helenses de Linha Santo Antônio e/ou Linha Sete Pecados em Subsede, foi outra região de intensas disputas de terras, com os mesmos personagens deste texto, grileiros/jagunços/posseiros.
Os grileiros de terras pagavam policiais e jagunços para que fizessem a guarnição da área grilada. Um dos pistoleiros que guarnecia aquelas terras, se achava todo poderoso, por isso, em qualquer lugar que ele tivesse, quer fosse no comércio e/ou nos locais de lazer, procurava confusão com as pessoas que ali encontrava, simplesmente pelo prazer de tumultuar o ambiente.
Se quer respeitava as festividades religiosas da comunidade e, numa festa organizada pela Igreja Católica Santa Terezinha de Subsede, o pistoleiro prepotente, provocou André Rabaiolli e, insatisfeito com as provocações que fez ao santa-helenense, ainda desferiu-lhe um tiro, por sorte, a vítima sobreviveu aos ferimentos que sofreu neste ataque.
O filho de André Rabaioli, Ari Rabaiolli que estava na festa, ao ver o pai baleado, como num passe de mágica, remessou um pedaço de telha de barro que encontrou no pátio da Igreja, em direção ao pistoleiro, acertando sua cabeça, que deixou-o tonto, desnorteado, o que possibilitou José de Paula (amigo dos Rabaiolli) que encontrava na festividade, desarmar o jagunço encrenqueiro.
Cabeça ferida, desarmado e, percebendo a fúria da população que queria investir sobre ele, pois, certamente tinha consciência do quanto desaforava as pessoas daquela comunidade, imediatamente caminhou em direção ao campo de futebol do Nacional de Subsede, tentando com isso, afastar daquele local naquele momento. Próximo a este campo, foi alcançado por uma pessoa que lhe desferiu três golpes de arma branca (faca), ceifando sua vida, ali mesmo.
O executor do jagunço fugiu em meio às matas da região de Subsede, tomando rumo incerto e ignorado e, a partir de então, nunca mais foi visto na região e nem, seu paradeiro. Por outro lado, a morte deste jagunço propiciou um pouco mais de tranquilidade na vida cotidiana dos moradores de Subsede, afirma Antenor.
Depois de muito anos de trabalho, principalmente dedicado na agricultura, em Santa Helena, Antenor conseguiu dinheiro suficiente para adquirir doze alqueires (12) de terra em Subsede, na Linha Terol.
Em 1978 a Itaipu inicia as negociações com os produtores rurais que seriam atingidos pelo futuro Lago de Itaipu, foi o caso de Antenor Terol. Dos doze alqueires de terras que era detentor, quatro foram indenizados pela Itaipu. De posse da indenização (dinheiro), Antenor resolveu viajar para o município de Vilhena (Rondônia) com o objetivo de adquirir terras neste município.
Desistiu de comprar terras naquele município do Norte do Brasil, porque não lhe agradou dos aspectos do solo e do clima daquela região. Regressa a Subsede, onde comprou de outros agricultores, duas áreas de terras remanescentes de Itaipu: uma de seis e outra de sete alqueires, no qual, escriturou diretamente em nome de seus seis filhos.
Obs. Remanescentes, áreas de terras que ficaram fora dos limites do Lago de Itaipu.
A construção de Itaipu, no entendimento de Antenor, foi uma tragédia social e econômica para os santa-helenenses. Social, porque ao indenizar as áreas de terras que seriam alagadas pelo reservatório, obrigou por força de lei, agricultores e moradores de vilarejos que residiam a décadas, deixarem aquelas localidades. Econômica, porque, não levaram em consideração as construções que haviam na propriedade, como exemplo: chiqueirões de porcos, galpões de armazenamentos de cereais, galpões usados para proteção dos implementos agrícolas (tratores, colhedeiras (ceifas), entre outros), bem como, árvores frutíferas, e residências dos agricultores, pelos quais, diversas eram grandes e de ótimo acabamento.
Os prejuízos econômicos para com os agricultores relacionadas as indenizações de Itaipu, não pararam por aí, porque, o indenizado ao adquirir outra propriedade rural, quase sempre, comprava áreas de terras sem nenhuma benfeitoria construída sobre o imóvel negociado. Se quisesse continuar vivendo da agricultura e residindo na “nova” área, era preciso recomeçar tudo novamente, como, quando chegaram em Santa Helena em 1958. Resumiu Antenor este assunto, com a seguinte frase: “A Itaipu deixou para os agricultores de Santa Helena, um baita prejuízo sócio/econômico, falo isto, porque fui um dos colonos prejudicado com a formação do Lago de Itaipu”.
Um dos tristes acontecimentos na vida de Antenor, foi a trágica morte do sogro Francisco Maraskim em Subsede no ano de 1962. A tragédia familiar aconteceu porque David Scolari (cunhado de Francisco) viajou do RS com destino a Santa Helena na intenção de comprar terras na localidade de Subsede. Francisco Maraskim conhecia uma propriedade rural próxima à suas terras, pertencente à Imobiliária Madalozzo, que estava à venda e foi mostrá-la a Scolari.
Francisco e David, levaram consigo as espingardas municiadas, até porque caminhariam mata adentro e, no caso de encontrar algum animal silvestre pelo caminho, estariam preparados para abaté-lo. Para infelicidade de ambos, o que encontraram, uma enorme árvore caída ao chão, obstruindo a passagem na trilha de acesso às terras que pretendiam conhecê-la e, resolveram atravesá-la pulando sobre aquele obstáculo. Francisco alcançou a espingarda ao cunhado, até que ele conseguisse ultrapassar a obstrução do “caminho”. Assim que Francisco Maraskim ultrapassou o obstáculo, David Scolari foi lhe alcançar a espingarda com o cano apontado em direção ao cunhado. O gatilho da arma enroscou num cipó do arbusto caído e, ao tentá-lo retirar daquele enrosco, ocorreu o disparo da espingarda, que acertou o peito de Francisco Maraskim, ceifando sua vida instantaneamente.
Fatalidade que poderia ter sido evitada, porque segundo Antenor, seu sogro era uma pessoa experiente no manejo de armas de caças. Porém, uma distração inoportuna, custou-lhe a vida, além de ocasionar desespero ao cunhado, sofrimento e dor a todos os familiares do falecido.
Festividades, Antenor comentou que, com sua gaita animou festas de casamentos, de aniversário e bailes na cidade e no interior de Santa Helena. Bailes, animava nos finais de semana, porque, de segunda-feira à sexta-feira, trabalhava derrubando mata, abrindo estrada com o uso de foice e machado ou plantando/colhendo cereais nas terras da família. Na sede do município (SH), animou bailes no Hotel Weber e no Clube Incas. E, que aprendeu as notas musicais, bem como, tocar sanfona, sem frequentar escola de música. Expressou: “aprendi de cabeça tocar gaita”. Em Santa Helena, conheceu Arno Nagel, sanfoneiro que também brilhantou com sua sanfona/gaita momentos de alegria dos santa-helenenses no início da colonização do município.
Os organizadores dos bailes, ao contratar Terol para animar a festa, lhe remunerava com as arrecadações que obtinham das pessoas que entravam naquele encontro festivo. Lembra de um baile que animou com sua gaita na casa de diversão, onde atualmente está o shopping Mazzochin (centro de SH), que rendeu-lhe 500 mil reis (para época, uma renda extraordinária, disse ele). Ao animar festas na cidade de Santa Helena, percorria a pé os nove quilômetros que separava/separa Subsede da sede do município, perfazendo dezoito quilômetros (ida/volta) com a gaita sobre os ombros.
Comentou também que, ao retornar de um baile em Santa Helena Velha, presenciou o nascimento do filho de Antoninho Alegretti, fato que aconteceu na balsa de travessia do Rio São Francisco Falso. Este caso, ocorreu porque o médico Dr. Miguel que atendia em Santa Helena recusou atender a gestante em seu hospital (sem dizer a razão), o que levou o esposo conduzir a esposa grávida de caminhão para o hospital de Marechal Cândido Rondon. Quando estavam na balsa esperando completar a travessia do rio, para seguir viagem, repentinamente a criança nasceu. Mãe e filho aparentavam estarem bem de saúde, por isso, a família dali mesmo, retornou para casa. Esta criança, no decorrer da vida dela, receberia o apelido de “Copinho” – inmemorian.
Destacou Antenor alguns aspectos do futebol de campo de Santa Helena, no qual, foi partícipe dos acontecimentos. Disse que ele, Germano Rabaiolli, Argemiro Kozerski e Luis Remonti, foram precursores na fundação do clube Incas e também atuaram como atletas neste time (1959).
Porque Incas? Vejamos o que disse Antenor sobre este nome. Convidaram João Marcelino Madalozzo (sócio-proprietário da Colonizadora Madalozzo) para ser o presidente da agremiação que pretendiam fundar. Madalozzo aceita a indicação de presidente, no entanto, com a seguinte ressalva, desde que concordassem com o nome Incas. Prontamente aceitaram, mas, quiseram saber o porque daquele nome. Respondeu João M. Madalozzo, “admirava a história do povo Inca e que estava diante de uma excelente oportunidade para homenageá-los”.
Agremiação esportiva constituída (Incas), faltava o local para a prática esportiva, o qual, utilizaram por alguns anos a outrora Praça Manoel da Nóbrega, atual praça Orlando Webber (área central de SH), como campo de futebol. Neste espaço improvisado, o Incas disputou jogos com times de SH e região.
Time do União, surgiu segundo Antenor, das desavenças entre algumas pessoas que fundaram o Incas Futebol Clube. Por conta dos desentendimentos, afastaram da direção e do elenco do Incas. Apaixonados pelo futebol de campo, essas pessoas, reúnem e fundam o União Futebol Clube (1964), com isso, continuaram jogando futebol de campo. Antenor, foi um dos afastados que além de contribuir na fundação do União, atuou por alguns anos, como atleta desta agremiação esportiva. Campo e sede do União, está localizado à Rua Ângelo Cattani (centro de SH)..
O entrevistado deixou de atuar no União para auxiliar na fundação do time do Nacional de Subsede, porque o “vilarejo” de seu domicílio, tornara pujante e, entre seus moradores, havia muitos adeptos do futebol de campo e que, almejavam um time pelo qual representasse a comunidade onde moravam. Além de fundador do Nacional de Subsede, Antenor foi atleta por sete anos e meio desta agremiação esportiva. Formalizado a fundação do Nacional, faltava o campo, neste primeiro momento, improvisaram a Praça Central da localidade (atualmente Praça Edemar Arend) como campo de futebol.
Espaço que necessitava de ser lavrado para que fosse possível desenvolver jogos de futebol. Por não haver naquela época tratores para fazer o serviço de lavração do terreno da praça, os dirigentes do time do Nacional, recorreram ao Moacir Maraskim que com seu burro, lavrou o improvisado campo de futebol. Anos depois, a “praça/campo” foi nivelado pela patrola municipal de Marechal Cândido Rondon, porque Subsede, até então, estava sob administração política do citado município. Neste local, disputaram partidas entre Nacional e demais equipes de futebol de campo do município, bem como, de Entre Rios do Oeste, Pato Bragado, Marechal C. Rondon e Foz do Iguaçu.
No final da década de 1960 a diretoria do nacional, adquiriu diversos lotes urbanos no centro de Subsede e construíram o campo de futebol. A partir de então, passaram a jogar futebol neste novo espaço, que permanece até os dias atuais, como praça esportiva daquela comunidade.
Ressaltando que os campos de futebol no início da colonização do município eram de chão, por conta disso, as partidas disputadas num dia chuvoso, os atletas ficavam enlameados, quase irreconhecíveis, por outro lado, nos dias de sol, ficavam empoeirados pela intensa movimentação dos jogadores em campo.
Ao relembrar da época de atleta, Antenor é enfático em dizer que os jogadores do passado jogavam com prazer, garra e determinação, por isso, nos dias de jogos os torcedores compareciam em grande número aos estádios do município onde estavam acontecendo as partidas de futebol. Vibravam intensamente com as jogadas e gols do time que torciam, onde deixavam transparecer em seus rostos, pura alegria e emoção.
Nos times que atuou como jogador de futebol, Incas/União – (SH) e Nacional (Subsede), Antenor foi médio volante, às vezes, centroavante. Na posição de centroavante, numa partida jogando pelo Nacional versus Linha Gaúcha (interior de SH), pelo campeonato municipal, conseguiu marcar três gols e num jogo contra o time do Tiradentes (Linha Salete), quatro gols, disse, “pensa na felicidade que senti naquele dia”.
Enquanto jogador de futebol do Nacional, sagrou-se campeão da memorável Taça Paraná, disputada no campo do Miguelito na década de 1970. Atualmente o campo do Miguelito faz parte da reserva de Itaipu. Atletas desse time: em pé: Germano Rabiolli, Irineu Belloni, Euclides Demenigle, Danilo Maraskim, João Rufino, Armindo Draghetti, Eitor Sasse, Orlando Chagas, Nelci Demenigle e Ernesto. Agachados: Romildo Draghetti, Nelson, João Chagas, Ari Klass, Antenor Terol, Vílson Demenigle.
Sentindo cansaço físico, deixou de jogar futebol aos 36 anos de idade, porque este esporte exige do atleta bom preparo físico, para desempenhar a contento esta modalidade esportiva e a idade pesa bastante para um jogador de bola, destacou Antenor.
Antes de abandonar definitivamente os campos de futebol, disputou jogos na ponta esquerda, porque, para Antenor, este lado do campo, exigia do jogador de futebol, menos esforços físicos em relação às demais posições que existia neste esporte.
No dia de jogo do Nacional e que, o técnico não tivesse presente, Antenor assumia o comando do time, procurava escalar os atletas que demonstravam naquele momento, melhores condições físicas e técnicas para disputar a partida, sempre na perspectiva que apresentassem um bom futebol.
Na opinião de Antenor, há décadas o futebol de campo deixou de ser um esporte de entretenimento do povo e sim, uma mercadoria valiosa, onde dirigentes e atletas passaram a vislumbrar possibilidade de obterem vultosos ganhos financeiras (dinheiro) com as negociações de jogadores.
A obsessão pelo dinheiro faz com que os atletas profissionais e dirigentes de clubes da atualidade, fiquem mais preocupado com o lado financeiro, do que desempenhar a atividade futebolística como desempenhavam os atletas de outrora, que pouco ou nada recebiam para jogar. Por isso, a mercantilização do futebol tem afastado os torcedores das arenas esportivas pelo Brasil afora.
Educação, Antenor relatou que nas terras de seu cunhado Clair Zamban foi construída a primeira escola “primária” pelo município de Marechal Cândido Rondon, porque antes da emancipação política/administrativa de Santa Helena (1967), as terras em que ficava a escola, estava sob a administração rondonense. O primeiro professor a ministrar aulas nesta unidade educacional, foi Adelino Zamban (também cunhado de Antenor).
A inauguração dessa escola foi com uma churrascada a base de carne de animais silvestres (pardos), que foram abatidos dias antes da festa pelos agricultores/caçadores daquela comunidade para esta finalidade. Nesta caçada, uma Anta conseguiu escapar momentaneamente da mira dos caçadores. Em seu encalço, estava o fiel amigo de caçadas de Antenor, Baito.
De imediato Antenor recorreu ao seu barco (caíque) e passou a “navegar” Rio acima em direção à Ponte Queimada, porque, o Baito conduziu a anta a seguir o curso do Rio São Francisco Falso. Após percorrer alguns quilômetros em meio à floresta, a anta, acuada e no desespero que encontrava, lançou-se às águas do Rio na tentativa de atravesá-lo e continuar a fuga, floresta afora.
Seguindo-a, estava Antenor que, de dentro do caíque, (próximo à Ponte do Rio São Francisco Falso) desferiu dois tiros de espingarda rossi calibre 28 na anta quando deixava do rio. Aproximou do animal e, descarregou as balas do revólver taurus 38, atirando em sua cabeça. O peso deste animal, era de aproximadamente 115 quilos. A carne desta anta também foi utilizada no churrasco de inauguração da referida escola. Foi um grandioso festejo, porque, além da participação da comunidade local, participaram deste encontro muitas pessoas da cidade de Santa Helena, que vieram em caravana transportados no caminhão de Antoninho Alegretti até o local da festa.
Nesta escola, os filhos de Antenor estudaram o antigo primário (1ª a 4ª série); ensino ginasial (5ª a 8ª série G. Ramos); segundo grau (Col. Humb. Castelo Branco – sede do município).
Católico fervoroso, Antenor há trinta anos assina o Calendário Antoniano e a Revista Salete. Diversos católicos assinam estas revistas que são endereçadas à sua residência e, assim que recebe dos carteiros, redistribui os devidos exemplares aos respectivos assinantes.
Encerrou a entrevista dizendo que seus pais e esposa, são falecidos e, estão sepultados no cemitério de Subsede. A esposa Elzira faleceu no dia 20 de agosto de 2012.
“Agradeço a atenção e a disponibilidade do Senhor Antenor Terol em narrar fatos da colonização de Santa Helena, no qual, foi diretamente partícipe. Histórias que certamente servirão aos santa-helenenses do presente e do futuro, conhecer aspectos do cotidiano vivenciados pelos primeiros moradores deste município”. Prof. João Rosa Correia.