Cotidiano

15.10.2010

FLAUTA DOCE

Não sei se tenho ouvidos musicais, até acho que não.Talvez para flauta doce, quem sabe, apesar de não ser o meu chão.

Curto música, gosto de som às vezes estridente, mas gosto de qualidade. Mas meus ouvidos não são musicais. Acho que são doces. Doces o bastante para agasalhar uma visita inesperada.

Eram 5h45 de uma destas manhãs de outubro e um invasor auditivo afoito, se esbaldava nas adjacências do meu tímpano.
Não sou nenhuma criança, mas tive que apelar pros meus pais que dormiam encastelados no quarto ao lado.

- Acho que tem um bicho no meu ouvido! - Como assim? Perguntou a mãe, enquanto o pai tentava acordar de seu sonoro sono. - Sei lá, mãe, acho que tem um bicho aqui. - Vamos ver filho, vou buscar um óleo, alguma coisa pra por no ouvido. -Não! Retrucou em tom professoral o pai, que concluiu dizendo: "Eu tenho um livro de medicina natural, acho que vi algo sobre bicho no ouvido.

Lá foi ele folear um de seus livros de cabeceira e não é que encontrou mesmo. Travestido de médico, porque de médico e louco, todo mundo tem um pouco, ele deu a receita imediata: - Pega uma lanterninha, daquelas que vem num isqueiro, fica no escuro e aponta a luz para dentro do orifício auricular. - Se o bicho gostar de luz ele sai.

Não deu resultado. - Tem outra coisa, disse o pai, vamos colocar um pedacinho de mamão maduro na borda da orelha, pois o bicho vai sentir o cheiro da fruta e vai querer comer. Dito e feito!

Passaram-se alguns minutos, eu já havia até esquecido do pedacinho de mamão e o bicho, que até então não sabia qual era, começou a se mecher.

Coloquei o dedo, pois coçou, toquei em algo estranho e joguei longe. Era o pedacinho de mamão, ato contínuo, uma formiga, quase um formigão, saiu perdido atrás de comida.

Meus ouvidos não são musicais, mas deveriam estar apetitosos para o paladar do formigão incherido...

(Extraído do blog de Eldriã Lúcio Boff)

Elder Boff