Contando Histórias

30.07.2014

ENTREVISTA GERMANO RABAIOLI, PIONEIRO DE SANTA HELENA

No dia 18 de março de 2014 o professor de História da Escola Estadual Graciliano Ramos – Ensino Fundamental Séries Finais e do CEEBJA de Santa Helena entrevistou um dos pioneiros do município Sr. Germano Rabaioli em sua residência localizada na Avenida Brasil (próximo à Praça Santos Dumont).

Germano nasceu no município de Ita (SC) no dia 21 de Fevereiro de 1937. Integrante de uma família de 05 irmãs e 05 irmãos. Destes, apenas 05 estão ainda vivos, sendo que 03 residem no distrito de Sub-Sede Santa Helena. Casou-se em 1964 com a Sra. Devilde Terol, desta união nasceram duas filhas, uma formou-se em Farmácia e a outra Fisioterapeuta. Rabaioli cursou o antigo primário.

Desbravamento
Com o ímpeto próprio de jovem e influenciado por um de seus cunhados que fazia o transporte de pessoas do oeste catarinense para esta região, não pensou muito, deixou sua família em Ita (julho de 1957) e veio diretamente para Santa Helena. A viagem conforme as condições climáticas demoravam até 05 dias. O trajeto era o seguinte: Ita, Concordia, Chopinzinho, Laranjeiras do Sul, Foz do Iguaçu, Santa Helena.

Germano Rabaioli, seguiu a saga de muitos outros jovens de sua época que procuravam uma região que pudesse lhes oferecer melhor oportunidade de vida. No mesmo ano que aqui chegou (1957) foi contratado para trabalhar de empregado na empresa de João Madallozo. Trabalhava arrancando os tocos de árvores das ruas de Santa Helena usando machado, enxadas, enxadões, foices, bem como, limpava as picadas e os marcos que delimitavam as propriedades urbanas e rurais da empresa Madalozzo, para facilitar a visualização das mesmas aos possíveis compradores das áreas da empresa Madalozzo. Germano Rabaioli trabalhou na empresa Madalozzo até 1961. Relatou que a relação entre ele e os demais funcionários da empresa com o João Madalozzo era muito boa, haja vista pela seriedade, honestidade, carinho que tratava seus trabalhadores. Inclusive Rabaioli comentou que Madalozzo e a esposa Sra. Gertrudes Madalozzo, tratavam-no como seu filho. Para retribuir o carinho que dispensavam à Rabaioli, este limpava o terreiro, cortava lenha para a família de Madalozzo nos momentos de sua folga.

A única dificuldade encontrada naquela época era praticamente a inexistência de transporte e que a maioria das mercadorias que necessitavam vinha de Foz do Iguaçu. Como um “bom” fumante, às vezes faltava cigarro e ele ficava alguns dias sem este produto, porém gostava muito deste lugar por ser rico em água, terras boas e planas, bem diferente de Santa Catarina de relevo acidentado, difícil para trabalhar. O povo que aqui chegava era muito trabalhador, frisou Rabaioli.

Após algum tempo de trabalho na empresa Madalozzo conseguiu adquirir próximo ao Clube União, uma chácara da própria firma pagando-a com o salário que recebia.

Ressalta Rabaioli que Madalozzo destinou 20 alqueires de terra para iniciar o perímetro urbano de Santa Helena e que foi uma cidade planejada, o que os munícipes podem comprovar ao observarmos os traçados das ruas e avenidas. Complementa Rabaioli: as pessoas que adquiriam as áreas, agrícolas ou urbanas não encontravam nenhum empecilho para escriturar suas terras, todas as propriedades estavam legalizadas frente ao Estado Brasileiro.

Lazer: Os riscos da pescaria no Paranazão
No início da formação de Santa Helena havia poucos moradores, em razão de tal situação os momentos de diversão quase não existiam, afirma Germano.

Às vezes nos finais de semana, Armando Cattani, João Madalozzo e Germano Rabaioli envolviam-se em pescaria no Rio Paraná. Rio de imensos cardumes de peixes (na época), porém perigoso pelas fortes correntezas que havia em seu leito, mas era um dos seus divertimentos.

Contou Rabaioli, que entre tantas pescarias que fizeram em uma delas quase os três amigos perderam a vida, motivada por uma forte tempestade que caiu sobre o barco que usavam para pescar no Rio Paraná e o pior, estavam do lado Paraguai quando conseguiram encostar a embarcação a remo do lado brasileiro estavam sem força e com muito medo. João Madalozzo exclamou, biso, biso! Nascemos de novo. Só não fizeram nas calças porque não estava pronta, brinca Rabaioli.

Outro divertimento para os finais de semana era reunir alguns poucos amigos e andar de bicicletas nas ruas e estradas empoeiradas de Santa Helena.

Migrantes
O escritório da firma Madalozzo ficava onde atualmente é a Loja Bem Vestir na Avenida Brasil. Nos fundos do escritório havia um alojamento onde os funcionários faziam suas refeições. À noite deslocavam-se de Jeep para pernoitar no Hotel de Antônio Thomé que ficava na Linha Dois Irmãos. Mas logo surgiu no centro de Santa Helena o Hotel Weber, a partir daí o pernoite acontecia neste local.

Os compradores de terras da Madalozzo, quando chegavam com suas respectivas famílias eram alojados em casarões (espécie de repúblicas) até que fizessem suas residências. O período de permanência nestes abrigos variava de 02 a 03 meses dependendo das condições atmosféricas. Não havia custos financeiros por ocuparem estas residências momentâneas. Era por conta da empresa Madalozzo, esclarece Rabaioli.

Segundo Rabaioli era uma imensa alegria para os rapazes que aqui viviam ao verem chegar novos moradores. Logo procuravam indagar ao chefe da família, perguntando o seguinte: “o senhor tem filhas moças?”, o pai desconfiado com a indagação, respondia de imediato, não tenho não, mas tenho umas cadelas e uns cachorros para servir vocês. Desejam? “Isso não, devolviam os rapazes”. (Risos).


Vai e volta
No ano de 1962 Rabaioli desligou-se da empresa Madalozzo e retornou para Santa Catarina no município de Abelardo Luz para auxiliar seu cunhado que encontrava muito doente e ficou por lá até o ano de 1964. Neste mesmo ano ele e sua família vieram de Santa Catarina e instalaram-se no distrito de Sub-Sede, Santa Helena e aí montaram uma serraria e passaram a trabalhar no ramo madeireiro.

Existia abundante matéria prima, como: peroba, marfim, ipê, canafístula, entre outras. Serravam as madeiras e vendiam para madeireiras de Foz do Iguaçu, a partir daí eram exportada boa parte para Argentina. A madeireira Rabaioli ficava dentro do perímetro urbano de Sub-Sede.

Empreendimentos
Em 1967 a família Rabaioli vendeu a serraria e Germano Rabaioli, comprou um taxi/Kombi atendendo com este meio de transporte pessoas de Sub-Sede e região.

Rabaioli transportou muitos agricultores até Foz do Iguaçu, onde estava instalado o Banco do Brasil. Os proprietários rurais recorriam a esta instituição financeira na busca de crédito para destocar e preparar suas lavouras. Estas viagens eram verdadeiras aventuras, relembra Rabaioli, haja vista que as estradas eram esburacadas, pontes perigosas e era corriqueiro atolar o carro nos lamaçais existentes no trajeto. Trabalhou no ramo de taxi até 1972.

No ano de 1973 começou a trabalhar no ramo de combustível em São Clemente (hoje distrito). Para Rabaioli esta nova atividade empresarial foi muito significativa, porque as terras estavam sendo mecanizadas e era grande a demanda de combustível para abastecer as frotas de tratores, caminhões, carros de passeios que se avolumavam no município e região. No ano de 1998 comprou o Posto Ipiranga da Senhora Eucádia Fockink (Praça Santos Dumont).

Continuou trabalhando na venda de combustíveis tendo sempre como sua parceira a esposa Sra. Devilde Terol Rabaioli. A partir de 2009 arrendou o Posto Ipiranga a seu genro Jailson Martin, proprietário da Farmácia do Povo de Marechal Cândido Rondon. A administração do Posto Ipiranga está hoje a cargo do funcionário Eliseu Barbosa Angnes.

Pioneiro
Germano Rabaioli é mais um dos pioneiros de Santa Helena que colaborou e continua colaborando com o crescimento de Santa Helena. Ele mesmo expressou a seguinte frase, “as dificuldades da vida sempre existiram e continuará existindo na vida de todos nós, porém, com força de vontade todas as batalhas serão superadas”.


Agradeço ao Sr. Germano Rabaioli e sua esposa Devilde Terol Rabaioli que gentilmente em sua residência concedeu esta entrevista, pelo qual oferecerá conhecimentos de alguns aspectos da História de Santa Helena não contadas nos livros até então ao santa-helenenses e demais pessoas da região que gostam de história. Nossos agradecimentos.

Professor João Rosa Correia / Correio do Lago


Germano Rabaioli e a esposa Devilde Terol Rabaioli






Germano Rabaioli com o entrevistador, professor João








João Rosa Correia