Contando Histórias
29.07.2019
Entrevista com Melita Kessler Klier - em comemoração aos 50 anos de fundação da escola estadual Graciliano Ramos
Em comemoração aos 50 anos da fundação da Escola Estadual Graciliano Ramos – Ensino Fundamental Séries Finais de Santa Helena, que ocorreu no mês de março de 2019, estamos realizando entrevistas com personagens que trabalharam nesta escola: ex-diretores, professores/funcionários aposentados, como forma de homenageá-los pelos serviços prestados à mencionada instituição de ensino.
Responsável pelas entrevistas, Prof. João Rosa Correia.
Entrevistada: Melita Kessler Klier – Agente 1.
Na terça-feira, 11 de junho de 2019, entrevistei a Sra. Melita Kessler Klier em sua residência localizada à Rua Pará, 721, Bairro São Luis/Santa Helena. Melita iniciou a entrevista apresentando os nomes de seus pais: Otto Kessler e Maria Celita Arno Kessler, os dois eram de origem alemã. Ambos falecidos e enterrados no cemitério municipal da referida cidade. Disse ela que sua mãe faleceu aos 93 anos de idade. Otto e Maria, constituíram uma família com sete filhos e quatro filhas. Dentre estes, Melita, que nasceu no dia 09 de agosto de 1952 na localidade de Esquina Gaúcha, interior de Crissiumal/RS. Neste município trabalhavam na agricultura em uma pequena propriedade rural da própria família.
Depois de anos trabalhando na agricultura, seus pais venderam a propriedade e adquiriram uma serraria no mesmo município em que residiam e assim passaram a trabalhar no ramo madeireiro. No entanto, a atividade madeireira tornou um pesadelo ao Otto, porque ele passou a contrair constantes gripes e pneumonias, decorrentes das constantes chuvas, frios e calor que enfrentava diariamente em seu trabalho, pois, tinha a incumbência de extrair madeiras (toras) das florestas para abastecer a serraria dessa matéria-prima. Situação que os obrigou destituir do referido empreendimento e retornar à atividade rural, no qual adquiriu novamente em Crissiumal, uma área agrícola. No citado município, Melita estudou até a quarta série primária (hoje 5º ano). Durante os anos que residiu com os pais em Crissiumal, os auxiliavam nos afazeres do lar, lavouras e chegou a trabalhar em casa de famílias no município que nascera.
No ano de 1970, os pais de Melita vieram visitar os irmãos da Sra. Maria que residiam em Santa Helena. Nesta visita, os pais de Melita foram influenciados pelos parentes a transferir residência de Crissiumal para Santa Helena. Ao retornar deste passeio, a princípio, Otto relutou deixar o RS, no entanto, sua esposa o convenceu da transferência de domicílio, pois Maria gostou muito do lugar que visitara. Por isso, Otto resolveu vender os bens patrimoniais que lá possuíam e vir com a família (agosto/1970) para Santa Helena, onde adquiriu um terreno urbano com uma casa de madeira sobre o imóvel.
Quando aqui chegaram, Melita contava com 18 anos de idade. Seus familiares passaram a trabalhar de diaristas nos serviços que encontravam, indiferente se o trabalho fossem em lavouras e/ou serrarias. No ano de 1975, Melita reinicia os estudos e consegue concluir a 5ª Série (hoje 6º ano – Ensino Fundamental) estudando à noite no Graciliano Ramos. Os anos se passaram e em 03 de dezembro de 1976 Melita e Ernesto Klier uniram-se em matrimônio. Desta união, tiveram uma filha e três filhos: Eliane, Renato, Roberto e Rodrigo Klier, os dois últimos, gêmeos. Todos nasceram em Santa Helena.
Assim que fixaram residência em Santa Helena, Melita conseguiu emprego na Prefeitura Municipal como zeladora (meio período/20 horas), na gestão política/administrativa do então prefeito Arnaldo Weisseimer (em memória). Função que trabalhou por quinze meses consecutivos. Nas outras 20 horas semanais, trabalhava duas vezes (8 horas) na residência do citado prefeito e três vezes (doze horas) auxiliava nos trabalhos de limpeza da Escola Marechal Deodoro da Fonseca. Evidentemente, além de cuidar dos afazeres doméstico de sua residência.
No mês de março de 1977 surgiu uma vaga de trabalho no setor de serviços gerais/agente 1 na Escola Estadual Graciliano Ramos. Quem ocupava este emprego, até então, era Maria Vagner que tinha solicitado à direção da escola, a exoneração do trabalho, porque iria residir em Medianeira. Sendo ela, vizinha de Melita, alertou-a da oportunidade de conseguir este emprego, uma vez que precisava ser preenchido por outro (a) funcionário (a). Alertada e precisando trabalhar para auxiliar nas finanças domésticas, Melita deslocou até a escola Graciliano Ramos com a intenção de conquistar a vaga de trabalho deixada por Maria Vagner. Em conversa com o gestor escolar procurou demostrar-lhe estar interessada no trabalho de zeladora da instituição de ensino. A direção solicitou seus documentos pessoais para efetivar a contratação e de imediato passou a trabalhar no Graciliano Ramos.
No mês de maio de 1977 o Estado o nomeou como Funcionária Pública Estadual da referida escola. Decorridos dois anos prestando serviços na Escola Graciliano Ramos (1979), pediu desligamento do trabalho, porque precisava acompanhar o esposo que estava deslocando a Dourados para trabalhar de tratorista numa fazenda deste município do Mato Grosso do Sul. Diante disso, Melita apresentou ao diretor do Graciliano Ramos, sua cunhada de nome Célia para que esta continuasse exercendo o trabalho em seu lugar. A direção da escola aceitou a troca de funcionárias, (obs. lembrando que naqueles anos os critérios para contratação de funcionários estaduais eram bem diferentes dos tempos atuais). Porém, passados dois meses e meio que Melita estava residindo em Dourados, foi comunicada que Célia não poderia ser contratada legalmente pelo Estado, porque a mesma apresentou somente o protocolo que constava o nº de identidade. Segundo Melita, naquela época o RG (Registro Geral) era um documento imprescindível para contratação de funcionário do Estado. Por conta desta situação, Melita continuava com o contrato de trabalho de zeladora/agente 1 (exposto acima) em seu nome. Ao tomar conhecimento disso, Melita precisava retornar à Santa Helena para resolver as pendências documentais com a direção da Escola Graciliano Ramos. Explicou ao esposo sobre esses fatos e lhes disse que, se a direção da Escola a aceitasse novamente trabalhar no referido educandário, reassumiria imediatamente a função de zeladora (Agente 1), haja visto que, Dourados nem um pouco lhe agradara para morar.
Ao estar com a direção do Graciliano Ramos, Melita expôs o desejo de continuar trabalhando na escola, prontamente foi aceita pelo diretor da escola. E assim, o casal retornou em definitivo à Santa Helena. Ao continuar exercendo os serviços de merendeira/zeladora na escola Graciliano Ramos, Melita comentou que houve momentos que tiveram de limpar as salas de aulas com os estudantes no horário que estavam estudando. Isto decorria da necessidade de deixar o ambiente escolar em condições adequadas, no que diz respeito à higiene, para os alunos que estudavam no período subsequente ao turno anterior. Esta medida era em razão do exíguo espaço de tempo entre os turnos de trabalho, bem como, do reduzido número de funcionários que trabalhavam na limpeza da escola. Ainda segundo Melita, os “transtornos” apontados não geravam nem indisciplina e nem maiores prejuízos do ensino/aprendizagem para com os educandos, porque professores e estudantes, sabiam e tinham consciência da necessidade dessas medidas, com isso, as zeladoras podiam executar seus trabalhos dentro de certa “normalidade”.
Relembrou ainda que na década de 70, as ruas da cidade de Santa Helena era de chão, o que resultava nos dias de chuvas, muito barro e, nos dias de sol, muito pó. Imaginem como ficavam as salas de aulas! Exclamou Melita. Além de realizar limpeza das dependências da escola, Melita trabalhava de cozinheira, no qual preparava os alimentos em enormes caçarolas/panelões de alumínio que seriam servidos diariamente aos estudantes durante recreio escolar, nos períodos matutino, vespertino e noturno.
Destacou ainda Melita, que sempre sonhara em retornar aos estudos que deixara à décadas. Todavia, tinha a consciência dos desafios a ser superados para alcançar o sonho de concluir o Ensino Fundamental e Médio, pois, trabalhava diariamente na escola, além de cuidar dos filhos e demais afazeres do lar. Porém, esses obstáculos não foram empecilhos suficientes que a impedissem de concluir o Ensino Fundamental no Graciliano Ramos e o Ensino Médio no ano de 1999 no Supletivo (hoje CEEBJA) de Santa Helena, onde estudava no período noturno. Ressaltou ainda que ao deslocar de sua residência até a escola, quer fosse para trabalhar e/ou estudar, percorria de bicicleta, indiferente se estivesse chovendo ou não. Por isso, para vencer os compromissos explicitados, tinha que levantar todos os dias às cinco e trinta da manhã e somente ia dormir à meia noite, quando conseguia organizar as tarefas daquele dia. Esses esforços, afirma Melita, foram compensadores, porque, os conhecimentos que adquiriu trabalhando na Escola, bem como, as aprendizagens que conseguiu com o Ensino Fundamental e Ensino Médio, serviram para melhor orientar a educação de seus filhos. Além disso, ao conquistar os certificados escolares descritos acima, possibilitou-lhe ascensão profissional, por consequência disso, ganho financeiro.
Dos trinta e um anos de serviços prestado ao Graciliano Ramos, partes Melita trabalhou em conjunto/parceria com os funcionários do Colégio Castelo Branco e Escola Municipal Marechal Deodoro da Fonseca, pois professores (as), funcionários (as) e estudantes compartilhavam das mesmas infraestruturas físicas das citadas escolas. Na década de 1990, o poder público municipal e estadual reestruturaram os espaços físicos das escolas de sua jurisdição, com isso, cada educandário passou a administrar o ensino/aprendizagem em prédio escolar próprio, não necessitando mais dividir os espaços físicos entre Escola Municipal Deodoro da Fonseca, Escola Estadual Graciliano Ramos Ramos e Colégio Castelo Branco de Santa Helena. Portanto, com os desmembramentos dessas escolas, os agentes 1 (serviços gerais de outrora) passaram a atender somente na escola que estava contratada para prestar o referido serviço.
Nas três décadas de trabalho dedicado às escolas da cidade de Santa Helena, em especial no Graciliano Ramos, Melita relatou também que tinha uma relação de confiança e respeito para com os colegas de profissão, professores e direção da escola. Por isso, afirma que no setor que trabalhava, os serviços que executava, transcorria sem maiores atritos e desavenças. Em relação aos estudantes, disse ela que, por trabalhar, ora na cozinha, ora no setor de limpeza da escola, não tinha contato direto com os discentes, porém, ao deparar com atitudes inoportunas de determinados educandos, sempre que possível aconselhava-os de como deveria comportar na escola para o bem destes e da comunidade escolar.
Quanto à participação na comunidade onde reside a trinta e sete anos (Bairro São Luiz), Melita foi coordenadora do grupo de reflexão, bem como, tesoureira da Igreja Católica e atual tesoureira da Sociedade de Damas Arco Irís do citado Bairro.
Por último, agradece diariamente à Deus por tudo que o Criador lhes proporcionou, principalmente pela família que constituiu, pois esta lhes proporciona felicidade e significado em sua vida. São eles: Eliane Klier, professora de Geografia, graduada pela Unioeste de Marechal Cândido Rondon, atual gestora do CEEBJA – Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos em Santa Helena; Renato Klier,Técnico em Automação, trabalha numa empresa de Pato Branco/PR; Roberto Klier, Técnico de Segurança do Trabalho, funcionário de uma firma de Cascavel; Rodrigo Klier, Técnico em Eletrônicos/Eletricista, reside e trabalha na Empresa Mocelin de Santa Helena. Todos eles trabalham na profissão em que são especializados.
Mensagem:
“Saiba, Melita, que os Agentes 1 (outrora conhecidos como prestadores dos serviços gerais), compõe com a direção escolar, com os agentes 2 (secretários (as), pedagogos (as), professores (as), ‘engrenagem’ que movimenta o sistema educacional do Estado do Paraná. Portanto, tenha certeza que o trabalho que você desempenhou ao longo de 31 anos na Escola Estadual Graciliano Ramos foram importantes e por isso, contribuíram e muito na educação de milhares de crianças, adolescentes e adultos que estudaram durante o período que ali trabalhou”.
Professor João Rosa Correia.