Contando Histórias

13.01.2015

Entrevista com Luis Carlos Kozerski e José Alberto Kozerski

Na quinta-feira, dia 31 de dezembro de 2014, o Professor de História João Rosa Correia entrevistou os irmãos Luis C. Kozerski e José Alberto Kozerski, na residência da família, localizada na Rua J.M. Madalozzo.

Eles iniciaram relatando os nomes de seus pais, Argemiro Kozerski e Hedviges Kozerski, ele de origem polonesa e ela de origem polonesa e italiana. Tiveram sete filhos, que são: Luis Carlos Kozerski, José A. Kozerski, Gladis Kozerski (nascidos em Erechim RS), Paulo Kozerski, Mauro Kozerski, Ester Kozerski e Paula Kozerski (nascidos em Santa Helena).

Foram a terceira família a instalar-se na promissora cidade santa-helenense (março de 1958). Deslocaram-se do município de Pato Branco (sudoeste do Paraná) no qual fixaram residência na Rua João Marcelino Madalozzo, mais conhecida por J.M. Madalozzo, e ainda continuam no mesmo local até os dias de hoje (centro de Santa Helena - PR).

O objetivo da família era continuar trabalhando no ramo de marcenaria, visto que em Pato Branco já desenvolviam esta atividade. Segundo os entrevistados, estes disseram que Argemiro Kozerski por ser um exímio e perfeccionista marceneiro tinha dificuldade em trabalhar com empregado. As poucos vezes que se obrigou contratar funcionários pela extensa procura dos móveis que faziam sob medida, sentiu decepcionado, em razão dos serviços executados sem dedicação e profissionalismo dos trabalhadores por ele contratados. Por isso, procurou trabalhar na marcenaria somente usando a mão-de-obra familiar. Relata Luis C. Kozerski, que ele próprio, aos seis anos de idade, auxiliava seu pai nos diversos trabalhos da marcenaria. Aos nove anos de idade conhecia todo o funcionamento dos maquinários da empresa e que já executava alguns serviços de marceneiro. Luis recorda que quase aconteceu um enorme desastre com um dos irmãos durante os trabalhos na marcenaria, em razão da vontade de aprender o mais rápido possível os segredos da profissão de marceneiro, ainda criança (1962) José Alberto Kozerski num ato de curiosidade acionou um dispositivo de uma máquina que acabou prensando seu pé e que quase foi dilacerado. Com a intervenção médica, aos poucos os ferimentos foram cicatrizando o que deixou sequelas quase imperceptíveis.

Dando continuidade a história dos Kozerski, Luis C. Kozerski mencionou que aos 12 anos de idade já sabia fazer todos os tipos de móveis que fossem solicitados pelos clientes, e com perfeição. E aos quinze anos de idade, seu pai recorreu à justiça e o emancipou com o objetivo de que fizesse parte legal do quadro social da empresa e dos demais trâmites que se fizessem necessários para agilizar o funcionamento das atividades empresarial. Disse também, que Argemiro Kozerski trabalhou no ramo de marcenaria em Santa Helena até 1978. Neste ano, conseguiu a doação de quarenta e dois alqueires de terras no município de Ariquemes no Estado de Rondônia. Em seguida, mudou-se para aquele município. De Santa Helena partiu Argemiro, Hedviges e Luis Carlos Kozerski. Aos poucos abriram as terras em Rondônia e passaram a plantar cacau e café. Concomitantemente instalaram em Ariquemes uma marcenaria. Porém, anos depois, o Brasil é assombrado com a inflação astronômica (chegou atingir o patamar de 84% ao mês, década de 1980). Isto dificultou a continuidade na agricultura e no comércio em Ariquemes, obrigando-os a vender os bens materiais que haviam adquirido no referido município, destacou Luis.

No entanto a marcenaria Kozerski em Santa Helena continuou em funcionamento através dos demais filhos e noras. Relata Luis e José A. Kozerski, que as facilidades de trabalhar com marcenaria, quando aqui chegaram, era a abundância de matéria-prima (madeira) existente em Santa Helena e região, como se pode observar através das fotos da época.

No início, os móveis fabricados na marcenaria Kozerski eram negociados quase todos em Foz do Iguaçu. Luis Kozerski relembra que a estrada de ligação entre Santa Helena e Foz do Iguaçu estava constantemente em precárias condições de trafegar. Na época chovia muito, o que dificultava sua conservação, pelo fato de ser estrada de chão. Isto complicava o escoamento da produção moveleira. Porém, com perseverança e coragem, as adversidades iam sendo transpostas. Ressalta Luis, que várias vezes acompanhou seu pai a Foz do Iguaçu para auxiliá-los na instalação de portas, janelas e montagem de móveis, aos clientes daquele município. Ele acrescentou que às vezes chegou ficar uma semana trabalhando naquele município, para assentar todos os móveis adquiridos na empresa Kozerski pelos cidadãos de Foz do Iguaçu.

A partir de meados da década de 1960, ocorre um considerável aumento da população de Santa Helena. Este fato fez com que muitos santa-helenenses ao precisar de um móvel (guarda-roupas, bancos, camas, estantes, entre outras utilidades domésticas) recorriam à marcenaria Kozerski. Paralelamente, passaram a vender madeiras quadradas, ou seja, vigas, caibros e tábuas para atender aos moradores que chegavam a Santa Helena e estavam necessitando construir suas residências. No entanto, outras dificuldades os Kozerski tiveram que enfrentar no início dos trabalhos em Santa Helena. Acrescenta-se à falta de mão-de-obra especializada no conserto das máquinas quando estas apresentavam algum defeito mais sério. Afirmam os irmãos Kozerski, que conforme o problema apresentado pela máquina, às vezes era preciso deslocar a Cascavel ou a Foz do Iguaçu para sanar tal situação. Dependendo do caso e da emergência no conserto do maquinário, chegavam a buscar socorro em Curitiba para resolver o problema do equipamento danificado. Além da falta de mecânicos em Santa Helena, vale reafirmar, as estradas na região oeste paranaense se constituíam todas de chão e esburacadas. Agravava-se ainda mais quando chovia o que era comum no início da colonização de Santa Helena, dificultando, e muito, o transporte dos maquinários para aquelas cidades que fossem executados os reparos. Na época, os motores eram todos movidos a diesel, pois não havia energia elétrica em Santa Helena até 1971, relembra os irmãos.

Para Luis e Alberto Kozerski, apesar dos diversos obstáculos que apresentava Santa Helena no limiar dos anos de 1960/1970, mas, segundo eles, “tudo era feito com muita garra, determinação e vontade de vencer os obstáculos que surgiam, sempre com um sonho de uma vida melhor para toda a família e, por outro lado contribuir para o crescimento de Santa Helena” enfatizou-os.

Ainda de acordo com os irmãos Kozerski, trabalhar no ramo empresarial na atualidade, ficou mais fácil em relação ao passado, nos aspectos de comunicação, técnicas de produção, aperfeiçoamento da mão de obra, transporte e energia elétrica. Entretanto, o que dificulta são os encargos sociais elevados, juros exorbitantes cobrados pelos bancos estatais e/ou privados. Estes fatores complicam a expansão empresarial, entendem os irmãos. E acrescentam outros problemas, como a concorrência e a escassez de matéria-prima (madeira). Os Kozerski ainda mencionaram, “se quisermos manter os trabalhos na marcenaria, temos que buscar madeira do Estado do Mato Grosso e principalmente do Paraguai, o que acaba onerando os custos de produção, por consequência a margem de lucro do empresário diminui”.

Mesmo diante destas dificuldades e desafios, a família Kozerski continua atuando no ramo de marcenaria. Finalizam que a vida da família sempre esteve ligada ao ramo madeireiro e assim conseguimos vasta experiência nesta atividade empresarial e com isto vamos tocando os negócios da empresa.

A marcenaria Kozerski foi a primeira empresa do ramo a instalar-se no município de Santa Helena e ainda continua em pleno funcionamento. Com certeza, a maioria das residências do município possui algum trabalho executado pela empresa Kozerski, seja esquadria, portas e ou janelas.

Obs.: Atualmente além de empresário, José Alberto Kozerski é professor de História da rede Estadual de ensino em Santa Helena e Luis Carlos Kozerski reside no município de Ariquemes RO.

“Agradeço a espontaneidade destes senhores em conceder esta entrevista em pleno dia 31 de dezembro de 2014. Pessoas que foram agentes oculares da história de Santa Helena. E que ao longo da vivência e convivência dessa gente no município santa-helenense fizeram e continuam fazendo parte do progresso deste lugar”. Professor João Rosa Correia.

Início da Marcenaria Kozerski 1958 - Rua João Marcelino Madalozzo - conhecida por J.M. Madalozzo. Marcenaria e residência eram acopladas (unidas) como se observa na foto. Início da Marcenaria Kozerski 1958 - Rua João Marcelino Madalozzo - conhecida por J.M. Madalozzo. Marcenaria e residência eram acopladas (unidas) como se observa na foto.
Vista áerea - marcenaria. A esquerda Av. Paraná, década de 1970 despovoada. Vista áerea - marcenaria. A esquerda Av. Paraná, década de 1970 despovoada.
Vista aérea da Marcenaria. A esquerda Av. Paraná povoada. Década de 1990. Vista aérea da Marcenaria. A esquerda Av. Paraná povoada. Década de 1990.
Residência da família Kozerski. Construída no ano de 1966. Primeira casa em alvenaria de Santa Helena. Cruzamento das Ruas J.M. Madalozzo com a Rua Paraguai. Centro de Santa Helena. Residência da família Kozerski. Construída no ano de 1966. Primeira casa em alvenaria de Santa Helena. Cruzamento das Ruas J.M. Madalozzo com a Rua Paraguai. Centro de Santa Helena.
Quadro de 1987 - 30 Anos da empresa - SH. Quadro de 1987 - 30 Anos da empresa - SH.
Instações da marcenaria - Rua JM. Madalozzo. Instações da marcenaria - Rua JM. Madalozzo.
Marcenaria instalada no Parque Industrial nº 2. Próximo ao Porto Internacional de Santa Helena. 1994. Marcenaria instalada no Parque Industrial nº 2. Próximo ao Porto Internacional de Santa Helena. 1994.
Esquerda para direita: Paulo Kozerski, José Alberto Kozerski e Luis Carlos Kozerski. Esquerda para direita: Paulo Kozerski, José Alberto Kozerski e Luis Carlos Kozerski.
Plaina Três Faces. Plainava e fazia o macho e fêmea. Assoalho e forro. Idade mais de 60 anos. Empresa Kozerski. Plaina Três Faces. Plainava e fazia o macho e fêmea. Assoalho e forro. Idade mais de 60 anos. Empresa Kozerski.
Máquina Combinada. Origem italiana. Idade aproximada 80 anos. Executava cinco funções - plaina, desimpenadeira, circular, furadeira, tupia (fazer moldura). Máquina Combinada. Origem italiana. Idade aproximada 80 anos. Executava cinco funções - plaina, desimpenadeira, circular, furadeira, tupia (fazer moldura).
Máquina Combinada. Empresa Kozerski. Máquina Combinada. Empresa Kozerski.
Luis C. Kozerski mostra como o irmão José A. Kozerski quase perdeu o pé na máquina. Luis C. Kozerski mostra como o irmão José A. Kozerski quase perdeu o pé na máquina.
Paulo Kozerski, José Alerto Kozerski, Luis Carlos Kozerski e João Rosa Correia. Paulo Kozerski, José Alerto Kozerski, Luis Carlos Kozerski e João Rosa Correia.
Melhor visualização da Castanheira. Árvore nativa da região Amazônica Brasileira. Parece que adaptou perfeitamente ao nosso clima, solo e relevo. Melhor visualização da Castanheira. Árvore nativa da região Amazônica Brasileira. Parece que adaptou perfeitamente ao nosso clima, solo e relevo.
Professor João Rosa Correia e Luis C. Kozerski e o motor Vicstron. Professor João Rosa Correia e Luis C. Kozerski e o motor Vicstron.
Paulo Kozerski defronte da castanheira plantada em 1994 no pátio da casa SH. A semente da desta vegetação foi trazida de Ariquemes Ro. Está com uns 20 metros de altura. Paulo Kozerski defronte da castanheira plantada em 1994 no pátio da casa SH. A semente da desta vegetação foi trazida de Ariquemes Ro. Está com uns 20 metros de altura.
Luis C. Kozerski disse também que a vegetação que aparece ao fundo são gabiroveiras plantadas em 1964, ao redor da residência da família SH. Luis C. Kozerski disse também que a vegetação que aparece ao fundo são gabiroveiras plantadas em 1964, ao redor da residência da família SH.
Grandiosa castanheira ao fundo. O pátio da residência da família Kozerski é composto de 10 terrenos de 600 metros quadrados cada um. Por isso é possível abrigar uma árvore desta magnitude. Grandiosa castanheira ao fundo. O pátio da residência da família Kozerski é composto de 10 terrenos de 600 metros quadrados cada um. Por isso é possível abrigar uma árvore desta magnitude.

João Rosa Correia