Contando Histórias
12.05.2017
Entrevista com Lídio e Nair Israel, personagens importantes para o desenvolvimento de Santa Helena
Professor João Rosa Correia entrevista: Lídio Omar Israel e Nair Israel na residência do casal (chácara) localizada na Linha Rosa Branca, no dia 05 de fevereiro de 2017, em Santa Helena, Paraná.
Lídio e Nair começam relatando diversos aspectos de suas vidas. Disseram que eles dois e demais familiares são oriundos do Rio Grande do Sul. Lídio Israel é um dos quinze filhos (4 em memória) do casal Nadir e Levindo Israel (falecidos e enterrados no cemitério municipal de Santa Helena), todos filhos de Nadir e Levindo foram registrados no Cartório de Registro Civil Monteiro de Horizontina.
Lídio nasceu no dia 08 de junho de 1947. Frequentou os bancos escolares onde completou as sérias finais do ensino fundamental em Horizontina. Seus pais foram agricultores naquele município, além das atividades na agricultura, os pais do Lídio trabalhavam com criação de gado de corte, leiteiro e porcos. A diversificação nas atividades agropecuária demandava diariamente muitos cuidados com os animais e lavouras; sendo esses trabalhos executados manualmente, pois, naquela época praticamente não existia o auxílio de máquinas agrícolas para os trabalhos no campo; motivo que obrigou Lídio desde criança ajudar os pais nas lidas rurais. Disse que, ele e seus irmãos ficavam na obrigação de preparar diariamente pasto e quirela de milho como complemento alimentar aos animais que possuíam. Tinham também a obrigação de limpar o chiqueiro dos porcos, estribarias, galinheiro, capinar os inços das lavouras com o uso de enxada e tração animal, entre outros afazeres domésticos.
Lídio Israel também comentou que seu pai adquiriu uma outra propriedade rural, (sítio) próximo ao vilarejo de Boa Vista de codinome Mato Queimado, região pertencente ao município de Horizontina. A aquisição da propriedade por Levindo tinha como intenção de que seu filho Lídio fosse cuidar da referida área agrícola. Diante da proposta de seu pai, Lídio resolveu enfrentar o desafio.
Na ocasião Lídio estava namorando com Nair Gresele (filha do Professor Pedro Gresele/Teolina Hirst Gresele; falecidos e enterrados no cemitério municipal de Santa Helena PR), que viria a ser sua esposa. Lídio e Nair de comum acordo resolvem casar-se na intenção de morar na nova propriedade rural de Levindo, oficializando a união no município de Horizontina no dia 26 de julho de 1969. Assim, o jovem casal iniciou as atividades do campo nas terras de Levindo Israel. Da união matrimonial, tiveram três filhos, Marcelo Israel, nascido em Horizontina (em memória), Carmem Israel (nasceu em Dom Armando – na época Distrito de Medianeira) e Neusa Israel (Santa Helena). Há de ressaltar que com o passar dos anos, Levindo Israel e os filhos além de trabalharem na agricultura e pecuária, passaram a exercer atividades comerciais no RS.
Após alguns anos exercendo trabalhos na lavoura, Lídio e Nair resolvem deixar de trabalhar na agricultura no RS; passaram a sonhar que se aventurassem no comércio certamente a luta seria intensa, de muito trabalho, mas com a possibilidade de proporcionar uma vida de mais conforto à família que estava apenas iniciando. No entanto, para que isso fosse possível, almejavam conhecer novos horizontes fora do RS que pudesse oferecer melhores perspectivas às suas existências.
A propaganda a respeito dos encantos e riquezas no oeste do Paraná eram constantes no RS nas décadas passadas. Diziam o seguinte; que bastava aos interessados que fixassem residência no oeste paranaense, vontade de trabalhar, coragem e perseverança, o sonho de sucesso financeiro seria alcançado. Acreditando nas propagandas e na perspectiva de dias melhores, Lídio e a esposa fixam residência em meados do ano de 1972 na cidade de Capitão Leônidas das Marques (oeste do Paraná); passando a trabalhar na atividade comercial, comprando e vendendo alimentos e utensílios domésticos.
Neste empreendimento fez parceria com seu sogro e sogra (Pedro/Teolina Gresele). Trabalharam com este comércio até primeiro de agosto de 1973. As vendas no comércio de Lídio e Pedro eram efetuadas quase que exclusivamente aos trabalhadores das inúmeras madeireiras (serrarias) que na época existia em Capitão Leônidas Marques. Com o devassamento rápido das florestas ocorreu o enfraquecimento do ciclo madeireiro, a economia financeira do comércio de Capitão Leônidas Marques que girava em função da madeira, entra em decadência. Esta situação força Lídio e sua família a sair de Capitão L. Marques. Em vista disso, novamente estavam à procura de um lugar que pudessem oferecer sonhos de uma vida econômica mais estável.
A esta altura Santa Helena despontava como um novo e próspero município do extremo oeste paranaense. Ao saberem da fartura e viabilidade deste no campo comercial, em 1973, Lídio e Nair mudam-se para Santa Helena.
Assim que se instalam na sede do município, de imediato alugam em parceria com Valdemar Berlarmino (em memória), as dependências do então salão Meyer, que ficava na esquina da Rua Amazonas com a Rua Argentina (Bairro Baixada amarela). No salão exerciam as atividades comerciais de bar, bolão, salão de baile e residência; ja que Lídio e a família moravam no local.
Meses depois, de terem alugado o salão Lídio e Valdemar que eram sócios desmembram a parceria comercial; no entanto, Lídio e família continuaram gerenciando os negócios no Salão Meyer por conta própria. Lídio recorda que o município de Santa Helena contava com uma expressiva população em seu espaço territorial na década de 1970. Por ser tradição dos gaúchos o gosto pelo jogo de bolão (que hoje é conhecida como bocha na região), a “gauchada” (como eram denominados) que frequentava em grande número seu estabelecimento comercial, principalmente à noite e finais de semana, no qual disputavam acirradas partidas de bolão. Durante as disputas dos jogos, evidentemente consumiam e muito a tão famosa geladinha (cerveja) e os mais diversos salgados: pastéis, coxinha, espetinho, frango assado, dentre outros, preparados na hora pela família Israel.
Outra atividade que acontecia quase que semanalmente no salão, os bailes aos sábados animados pela banda de música Som Livre, e aos domingos não faltava os matibailes. Lídio fez questão de relatar que às vezes não tinha nenhuma programação festiva na sede do município no domingo à tarde. Por este motivo, diversas vezes o músico Aldair Arnold solicitava ao Lídio seu consentimento para fazer um matibaile no salão Meyer. Autorizado, Aldair dirigindo sua Kombi saia pelas ruas de Santa Helena anunciando o matibaile no salão; com o início, a partir das 14 horas. Assegura Lídio que o salão ficava repletos de casais, além de jovens solteiros (as) e aí dançavam animadamente até por volta das 22 horas, quando iam dispersando, até porque segunda-feira precisava estar no trabalho. Estes encontros festivos, afirma Lídio que rendia bom dinheiro, pois com ele ficava o lucro nas vendas das bebidas e salgados e ao Aldair a renda que obtivesse das entradas dos participantes no matiné. Neste sentido realizaram diversas parcerias, contou Lídio Israel.
No inicio da sua colonização (década de 1979),o município de Santa Helena ainda em desenvolvimento, começa a passar diversas preocupações e inquietações às pessoas que aqui residiam. O governo brasileiro através da acessória de imprensa passa a divulgar intensamente a respeito da formação de um imenso lago (Lago de Itaipu) nas terras que margeavam o Rio Paraná, desde de Foz do Iguaçu até Guaíra. Tal fato põe os santa-helenenses em desespero, pois, boa parte das terras agricultáveis que fazia parte da área territorial do município iria ficar debaixo da água com a formação do reservatório, como de fato ocorreu. Isto representaria a diminuição da população, como consequência, os moradores do município entendiam que as atividades comerciais sofreria forte impacto. Mais uma vez Lídio e família vê-se num impasse, ficar em Santa Helena, para ver o que aconteceria com o lugar após a formação do lago? Ou deslocar para outra região do Estado do Paraná? Ou aventurar em direção a outro Estado da Federação? Depois de muitos questionamentos, indagações, resolvem deixar Santa Helena e fixam moradia no Distrito de Dom Armando.
Esta transferência deu-se porque negociaram em 1975, o estoque e demais utensílios de uso no Salão Meyer pertencentes à família Israel com Ornélio Fagundes, proprietário até então de um posto de combustível na localidade de Dom Armando. A negociação ocorreu da seguinte maneira: Lídio ficaria de posse de 50% no Posto de Combustível e 10 lotes urbanos onde estava instalado a referida empresa. Este empreendimento comercial ficava ao lado do Estádio de futebol Dom Armando (Missal). Negócio realizado, imediatamente passaram a trabalhar na revenda de combustíveis e demais serviços do gênero, como exemplo: lavagens de caminhões, automóveis, troca de óleo, borracharia, entre outros. Relembra Lídio que em Dom Armando teve como clientes família Pleth, os proprietários da madeireira Mascarello, Jofen, Almiro Sartor, entre tantas outras pessoas. Simultaneamente às vendas de combustíveis Lídio e família passaram a comprar e vender suínos e cereais em sociedade com Orlando Trentini. O local das transações comerciais dos produtos agropecuários acontecia na mesma área onde estava instalado o posto de combustível.
Na região oeste do Paraná, Lídio e a família estavam melhorando financeiramente e não pretendiam se mudar. Mas, um dos irmãos de Lídio Israel, Luís Israel (em memória) que continuou residindo em Horizontina veio lhes visitar. Nesta visita Luís disse ao Lídio que era proprietário de dois comércio no RS. Negociava alimentos, utensílios domésticos, compra e vendas de cereais, no interior do município de Horizontina e Boa Vista do Buricá. Afirmava de forma convincente ao irmão que seus empreendimentos iam muito bem, em razão disso encontrava em desenvolvimento. Sendo assim, Luís precisava de uma pessoa de confiança para auxiliá-lo nos negócios no RS, e por conhecer e saber da capacidade de gerenciamento do irmão Lídio Israel, gostaria que ele e a família fossem trabalhar em seus empreendimentos no Rio Grande do Sul. Para isso, Luís fez uma proposta de parceria nos negócios com o irmão. Depois de analisar a proposta, Lídio aceitou auxiliar Luís em suas atividades comerciais no RS. E assim, Lídio e família (1976) vendem o comércio em Dom Armando e retornam ao RS.
Ao chegar em Boa Vista do Buricá, de imediato iniciam os trabalhos no comércio do irmão, aparentemente tudo estava conforme combinado entre eles no oeste do Paraná. Pelo volume de negócios que eram realizados nos dois comércios, Lídio acreditava que os mesmos apresentavam bons lucros. Porém, para sua surpresa, seu irmão Luís vendeu a um terceiro o comércio de Boa Vista de Buricá. Comércio em que Lídio e família estavam envolvidos diretamente nas vendas dos produtos do estabelecimento comercial. Esta decisão, obrigou Lídio e família deslocar até o comércio na localidade de Boa Vista de Horizontina. É importante frisar que a gerência geral dos negócios estava sob a responsabilidade de Luís Israel. Diz Lídio que ser comerciante é estar às voltas de riscos financeiros. Justamente no ano de 1976 houve uma super safra de soja no RS. Luís que já negociava produtos agrícolas, (1976) resolveu comprar dos agricultores uma expressiva quantidade de soja que poderia num curto espaço de tempo render-lhe um bom lucro. Infelizmente, ocorreu que os preços da soja naquele ano teve rápida e acentuada queda do valor por saca do produto. Na medida que venciam os prazos de pagamentos para com os sojicultores e sem dinheiro o suficiente para saldar as dívidas assumidas em razão da inesperada desvalorização da soja, Luís de uma hora para outra abandona os negócios da empresa sem muita explicação, fato que deixou Lídio Israel e família numa situação adversa e complicada frente aos credores.
Situação embaraçosa, Lídio perguntava a si mesmo, o que fazer agora? Assumir as dívidas que não era de sua responsabilidade? Estes questionamentos remetia-o a inquietações e reflexões. Antes de abandonar os negócios, Luís em breve conversa com Lídio, disse a ele que feche as portas do comércio e/ou se ficasse movimentando os negócios da empresa, que procurasse na medida do possível quitar as dívidas com os agricultores, que era sua maior preocupação, salientou o entrevistado. Lídio diante do impasse e em conversação com a esposa Nair propuseram ao Luís, se este deixasse o estoque que havia na empresa, os equipamentos que existia na loja e um terreno urbano na cidade de Horizontina, a família lutaria incansavelmente até que conseguissem quitar as dívidas para com os agricultores. Segundo o casal, esta preocupação era motivada, por entenderem as dificuldades enfrentadas pelos agricultores no dia-a-dia, pois, estiveram sempre ligados de forma direta e/ou indiretamente às atividades do campo, daí, do interesse incondicional de saldar os compromissos financeiros com os credores rurais de Horizontina, apontou Lídio. Prontamente Luís aceita a negociação e com esta decisão, os negócios da empresa ficaram sob o comando do Lídio e esposa. Na sequência Luís desloca de Horizontina e vem à Santa Helena.
Na medida que Lídio e Nair negociavam as mercadorias, máquinas que existia no empreendimento comercial, lote urbano e de posse do dinheiro que recebiam nas transações comerciais, pouco a pouco iam saldando as dívidas para com os agricultores. Ainda de acordo com Lídio Israel, o que também auxiliou saldar as dívidas em Horizontina foi a reserva financeira (dinheiro) que a família conseguiu conquistar no oeste do Paraná quando aqui estava residindo e para lá levaram suas economias. Lídio ainda fez questão de destacar que entregou utensílios domésticos (casa) aos credores em troca de dívidas do irmão. Acrescentou que um dos principais motivos que levou a assumir essas dívidas, foi pelo fato de ter nascido e crescido com seus irmãos naquele município (Horizontina), por isso tinham muito apreço e consideração pela gente que lá residiam. Preocupava-o também o seguinte, que ao sair de Horizontina, bem como, seu pai Levindo e alguns de seus irmãos, o sobrenome Israel constituía num sinônimo de consideração e respeito pela sociedade daquele município, porque honravam com as obrigações que assumiam com aquele povo. Em resumo, focado sob a ótica da coerência e da honestidade, Lídio sentia na obrigação de honrar os compromissos (dívidas) contraída e deixada pelo irmão Luís, assim comentou. Acreditava que esta atitude livrá-los-iam de qualquer mácula junto à população de Horizontina.
A essa altura dos acontecimentos Lídio tinha em mente que ao saldar as dívidas financeiras frente aos credores (ruralistas), retornaria de imediato para Santa Helena. E que se deixasse dívidas sem quitar, os deixaria preocupado e apreensivo, haja vista que ficou residindo em Horizontina, parentes seus, cunhado/a, sobrinhos e muitos amigos. Situação que os incomodava, como retornaria àquele município para visitar às pessoas de seu convívio social que por lá ficaram? Questionava a si próprio! Certamente não sentiria confortável, porque provavelmente iria encontrar antigos credores, especialmente agricultores. Estas preocupações foram superadas, pois, com determinação, em um curto período de tempo conseguiu quitar os compromissos com os agricultores. Contas pagas, imediatamente Lídio Israel e família deixam Horizontina e deslocam mais uma vez à Santa Helena.
O retorno aconteceu no ano de 1977. Relembra que vieram de Horizontina praticamente sem recurso financeiro, como diz o ditado popular “com uma mão na frente e outra atrás”. A chegar em Santa Helena, sem dinheiro mas com muita disposição para o trabalho, Lídio imediatamente fez parceria com seu pai Levindo Israel, dono do açougue Rio Grandense. O comércio de carnes estava instalado à Rua JM Madalozzo (João Marcelino Madalozzo), e o nome de Açougue Rio Grandense em homenagem ao Estado do RS, berço da família Israel enfatizou o entrevistado. Lídio realizava as compras e o mesmo abatia os animais no abatedouro de carnes que havia na chácara de seu pai Levindo, situado à Rua Ângelo Cattani. Ainda de acordo com ele, após fechar negociação com os responsáveis da empresa encarregada na construção da Ponte sobre o Rio São Francisco Falso (1981/82) que serve de ligação entre Santa Helena/SubSede, ficou sob sua responsabilidade de fornecer ininterruptamente até o término dos trabalhos do citado empreendimento federal, toda carne bovina, suína e de aves que fosse necessária para alimentação dos trabalhadores que executavam os serviços naquela obra. Ressalta Lídio que as vendas das carnes (atendimento) ao público era realizado principalmente pela família Israel, sob a orientação, supervisão da Sra. Nair e filhos do casal. Por cinco anos (1977/82) Lídio e família manteve o açougue em sociedade com Levindo. A partir de 1982 cessam a parceria.
No ano de 1983 resolvem trabalhar no ramo mercadista. Nome que escolheram Mini Mercado Rio Grandense (ainda em alusão à terra Natal dos Israel e demais gaúchos residentes em SH), mais tarde trocaram para Mercado Cometa Haley. O mercado estava instalado na esquina da JM Madalozzo com a Rua Paraguai, próximo ao açougue. Lídio e família gerenciavam os negócios dos referidos empreendimento com apoio de alguns funcionários, destacando Nara Santin, Edomir Francisco dos Reis, Nega Baltazar, Ednara Santin, Cleomar, Peteca, Nelson Gresele, entre outros. Nesta atividade comercial trabalharam até 1989 quando venderam o empreendimento comercial e retornam ao ramo de açougue. Lídio fez questão de ressaltar que o maior boi comercializado em seu açougue da raça Holandês pesou mil quilo vivo. Abatido e carneado 550 quilos de carne e que foi adquirido do agropecuarista santa-helenense Luís Caetano Alegrette na década de 1990. Ao retornarem com as atividades de carnes, passam a exercer os trabalhos no açougue sem parceria com terceiros, ficando assim exclusivo a administração e gerenciamento sob responsabilidade da família de Lídio Israel. Lídio fez questão de destacar que nas atividades comerciais que exerceu ao longo da vida, jamais recorreu a propaganda (anúncios) dos negócios da família, seja em meios de comunicação falado (rádio) e/ou escrito (jornais). Segundo ele, o melhor propagandista de qualquer negócio é o cliente. Ao receber um digno tratamento pelo proprietário (s), funcionário (s), aliado com bons preços e uma mercadoria de qualidade, certamente retornará ao estabelecimento comercial. Além disso, com certeza o cliente (s) falará (ão) a outras pessoas sobre o atendimento obtido naquela empresa, e se for de elogios, sem sombra de dúvidas resultará no aumento da clientela do estabelecimento comercial, por consequência disso, ocorrerá (ão) maiores vendas dos produtos, disse o entrevistado.
Há medida que o tempo “corria”, as condições econômicas da família melhoravam e a saudade do RS acompanhava-os, assim que sobrava um tempo deslocavam à passeio com a finalidade de visitar amigos e parentes que ficaram morando em Horizontina. Ao encontra-los, as conversas fluíam naturalmente, sem nenhuma preocupação e dor na consciência da época que residiram no município gaúcho, pois as compras e vendas que fizeram por lá todas ficaram quitadas integralmente, afirma Lídio.
Filosofou o entrevistado, “A mais nobre riqueza de um ser humano está no seu caráter e idoneidade moral”. Na caminhada da vida, inúmeras situações acontecem às pessoas, algumas alegres, outras tristes e algumas muito triste. Foi o que aconteceu no dia 18 de julho de 1992, um acidente fatal que vitimou Marcelo Israel (filho de Lídio/Nair). Neste dia o jovem rapaz dirigia o Caminhão Ford Cargo carregado de bujão de gás (Cascavel/Santa Helena) que tombou a poucos metros da Ponte Queimada ceifando sua vida no local do acontecimento. Uma semana após esta fatídica tragédia, outra aconteceu na família. A filha do casal Carmem Israel ao preparar carne para um cliente, teve a infelicidade de decepar o dedo polegar direito na serra de cortar carne. Outro momento de muito sofrimento. Tiveram que deslocar às presas a Cascavel para procurar atendimento médico na intenção de fazer cirurgia de implante do dedo extirpado. Foram inúmeras viagens aquela cidade com a finalidade de realizar os curativos que exigia o caso. O tratamento prolongou por seis meses e com isso o dedo aos poucos se “restabeleceu”, evidentemente não na sua originalidade, mas o suficiente para que Carmem pudesse conduzir a vida quase normal com os cinco dedos de sua mão que tinha sido afetado pelo acidente.
Estas tragédias desorientou momentaneamente a família Israel e sem condições emocionais para continuar trabalhando no comércio decidem fechar as portas do açougue em 1993. Venderam as instalações comerciais e alugaram os imóveis, pois os empreendimentos imobiliários lhe pertenciam. Nair Israel, procurava conforto nas palavras divinas e em contato com outras pessoas que passava por sofrimentos iguais ou parecidos aos seus. Passou a acreditar que certamente esses acontecimentos eram desígnios de Deus. Mesmo sendo choques quase insuportáveis de aguentar e superar, o Criador sabe o que ele prepara aos seus filhos aqui na Terra disse ela. Acrescentou Nair, os anos subsequentes aos acidentes foram difíceis de serem superados, porém, o tempo não retira as dores da alma, mas ajuda a diluir os sofrimentos que venha enfrentar qualquer ser humano.
Passados uns dois anos dos fatídicos fatos ocorridos, Nair Israel busca força e retorna trabalhar com atividade comercial. Abre uma loja de roupa à Rua Paraguai nº 1730 (ano/1994) num espaço do antigo barracão da Skol. Propriedade que lhes pertenciam.
Até então a família morou (Santa Helena) em casas que já haviam sido construídas pelos antigos donos dos terrenos adquiridos por Lídio e Nair; e no ano de 1998 a família Israel constroem uma residência de alvenaria num dos barracões do antigo barracão da Skol com espaço apropriado para Nair comerciar roupas e neste novo local trabalhou até 2010. Auxiliava-a nas vendas de roupas a funcionária Maurita de Oliveira e posteriormente a cunhada popularmente conhecida por Nega Israel e a sobrinha Alessandra Gresele. Sobre Lídio Israel, comentou que esteve envolvido na política santa-helenense desde que fixou residência neste município. Nas campanhas disputadas pelo candidato Silom Schmidt para prefeitura de Santa Helena, Lídio os apoiou. Pelo seu apoio e companheirismo foi convidado por Silom para trabalhar no setor departamento da secretaria de obras entre 1997/2004.
Depois desse período trabalhando como servidor público nomeado, afastou dos trabalhos na prefeitura. A partir desse momento passou a cuidar de seus investimentos em Santa Helena, até porque ampliaram os negócios no município. No ano de 2004 Lídio Israel e o genro Vilmar Lindermayer adquiriram uma chácara na Linha Rosa Branca, assim que Nair Israel desativa o comércio de roupa no ano de 2010, transferiram residência para a propriedade rural adquirida na Linha Rosa Branca pela família.
Alugou a residência às filhas Carmem e Neusa Israel (advogadas). As advogadas adaptaram a residência para trabalhar com escritório de advocacia. Carmem e Neuza Israel advogadas formadas pela UNIPAR – Universidade de Toledo na década de 1990.
Lídio e Nair Israel continuam residindo na citada área rural, cuidam de animais domésticos, principalmente de gados bovinos e aves. Na mesma propriedade rural está instalada a fábrica de vigas de concreto que são utilizadas na construção de pontes sobre rios, este empreendimento pertence a Vilmar Lindermayer (genro de Lídio Israel e Nair). A respeito do açougue (empreendimento imobiliário) de Lídio Israel, este vendeu-o posteriormente ao deixarem de trabalhar com o comércio de carnes. No ano de 2009 Lídio vendeu a propriedade que estava instalado o mini mercado na esquina da JM Madalozzo com a Rua Paraguai. Quanto a outros imóveis de Lídio e Nair, um está locado para a Igreja Deus e Amor que fica à Rua Paraguai, e outro, a antiga churrascaria Barrica na Avenida Paraná com a esquina Arnaldo Busatto também alugado para fins religiosos.
O casal, concluiu a entrevista dizendo o seguinte, “depois de décadas de intenso trabalho, em especial no município de Santa Helena, amealharam alguns bens de capital. Além disso, conseguiram aposentar pelo INSS por tempo de contribuição comercial e atividades rurais. Agregando aposentadoria (casal) e aluguéis de seus imóveis locados em Santa Helena, permite-os uma vida com certo conforto material”, aponta-os.
Lema do Lídio: Trabalho, Trabalho, Trabalho. . . sempre. Assim concluiu a entrevista.
Agradeço ao casal Lídio/Nair Israel por ter concedido a entrevista, haja vista da importância de registrar a história individual dos sujeitos históricos, pois, a construção histórica de um povo, nada mais é a somatória da história de vida dos indivíduos que vivem em um meio social. Sendo assim, esta produção histórica é uma contribuição que pode auxiliar no entendimento e compreensão do desenrolar da história política/econômica/social/cultural de Santa Helena destes últimos 44 anos. Prof. João R. Correia.