Contando Histórias

30.07.2014

ENTREVISTA COM ARMANDO CATTANI, PIONEIRO DE SANTA HELENA

Santa Helena Paraná, cidade com muitas Histórias a ser contadas.
No final do mês de novembro os professores de História: João Rosa Correia e Eroni Simonelli com os alunos Wilson Carlos Pinheiro Brugg, Giulia Eduarda Cauduro do 8º Ano B; Tanayara Gazzierro e Mateus Vazzatta do 8º Ano A da Escola Estadual Graciliano Ramos Ensino Fundamental Séries Finais de Santa Helena, entrevistaram o pioneiro santa-helenense em sua residência localizada à Rua Ângelo Cattani, o Sr. Armando Cattani, nascido em 16 de julho de 1936 no Estado do Rio Grande do Sul.

Armando relatou que sua família é composta de 12 irmãos sendo 09 homens e 03 mulheres. Eles vieram da comunidade de Via Duto/Erechim Rio Grande do Sul no ano de 1942. O pioneiro tinha apenas 07 anos de idade quando mudou-se para Santa Helena, com seus familiares. Portanto Armando Cattani está residindo no município há 70 anos.

Para chegar a Santa Helena utilizaram ônibus e trens de ferro como meios de transporte. No Paraná, passaram pelas cidades de Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu. De Foz do Iguaçu até Santa Helena Velha vieram de barco, que fazia o itinerário até Porto Mendes. O deslocamento da família Cattani para a região oeste paranaense foi motivada em razão dos comentários no Rio Grande do Sul que se fazia na época (década de 40) sobre a fertilidade da terra, por ser plana, preços baixos e facilidades de pagamento. Tal situação atraiu inúmeras famílias gaúchas para a região.

Ao chegar às terras santa-helenenses foram acolhidos pela família de Líbio Ferri que residia há alguns anos em Santa Helena Velha. Logo que se instalaram naquela localidade adquiriram 02 colônias de terras, porém como não havia divisões delimitadas das áreas, perderam as mesmas, pois não conseguiram localizar com precisão as terras compradas. A partir daí foram obrigados a trabalhar para outros colonos.

Após muita labuta conseguiram novamente comprar terras em Santa Helena Velha. A produção de queijo, salame, frangos, entre outras eram vendidas às pessoas que paravam no porto em Santa Helena Velha e revendiam em Foz do Iguaçu. Passados alguns anos negociaram a propriedade com a família de Mário Noro.

Corria o ano de 1958, quando a empresa Madalozzo, de Erechim RS, que havia adquirido uma área de terra anos antes com o objetivo de formar a cidade de Santa Helena, concentrou esforços para sua execução. Armando Cattani, na época com 22 anos de idade e conhecedor da região foi contratado pela Madalozzo, tornando-se funcionário entre 1958 a 1961. Ele e seu pai Ângelo Cattani serviram de guia da referida empresa na escolha do melhor local de instalação do futuro perímetro urbano de Santa Helena. Após a decisão do local, Armando Cattani e Germano Rabaiolli (este também contratado pela Madalozzo) trabalharam incansavelmente na abertura e demarcação da Avenida Brasil e das demais ruas da nova cidade que iniciava. Período de muito sacrifício, haja vista que a maioria das tarefas era executada pelas forças dos braços, ressalta Cattani.

Na época a empresa dispunha de apenas um Jeep para realizar as locomoções do empresário, funcionários e dos possíveis compradores de terras. No corre/corre do dia-a-dia o Jeep quebrou o molejo, como não havia mecânica em Santa Helena (1958) Madalozzo confiou e entregou 80.000,00 (oitenta mil cruzeiros – dinheiro da época) ao Sr. Cattani para que deslocasse de Santa Helena até Foz do Iguaçu para consertar a peça defeituosa. Armando Cattani partiu de bicicleta carregando o molejo. Levou consigo farolete e um revolver em razão do perigo na estrada, tudo era mato. Esta viagem durou aproximadamente 14 horas de ida e volta, afirma o pioneiro.

Santa Helena obteve o primeiro meio de transporte regular passando em seu território via estrada em 1966, através da Empresa Maringá. No entanto os primeiros moradores de Santa Helena continuavam enfrentando dificuldades ao precisar fazer uma viagem a outras regiões do Estado/País. Como por exemplo, ao deslocar a Cascavel, o tempo de duração de ida e volta era de 03 dias, isto é, quando chovia e para Foz do Iguaçu uma noite e um dia na mesma situação. Após trabalhar para empresa Madalozzo e pela facilidade de pagamento das terras (05 anos sem juro e correções monetárias), chegou a comprar 08 chácaras da própria empresa ao redor do perímetro urbano de Santa Helena.

O pioneiro ressaltou a respeito da exuberância da vegetação nativa que havia em Santa Helena e região. Composta de muitas madeiras de ótimo valor comercial, como exemplo, cedro, pinheiro, marfim, ipê, entre outras. Após a derrubada das matas efetuada por muitos trabalhadores braçais, as mesmas (especialmente o cedro) eram vendidas aos argentinos. Transportavam as madeiras até a barranca do Rio Paraná, em seguida lançava-as nas águas do referido Rio amarrando-as uma às outras (dezenas/centenas de árvores) e utilizando da correnteza do rio o que facilitava a chegada da “mercadoria” no seu destino. Esse de transporte ficou conhecido como Jangada.

Cattani comentou que a venda de uma carga de porco era suficiente para comprar e pagar uma chácara. Segundo Armando Cattatni, João Madalozzo desconfiava das pessoas de “cor”. Assim que passou a vender as terras, chegou um negro por nome Sebastião oriundo da região de Erechim demonstrando interesse na aquisição de terras, Madalozzo designou seu Armando Cattatni para mostrar as propriedades. Relatou Cattani, para o espanto do Madalozzo, Sebastião interessou por duas chácaras e na hora de negociar puxou da “gaiaca” o dinheiro pagando à vista as propriedades. Neste momento Cattani disse ao Madalozzo, “veja bem, pau véio é que dá bom mel”. Sempre é bom não menosprezar as pessoas, enfatizou Cattani.

Na década de 1960 ocorreu um rápido crescimento populacional de Santa Helena, com isto houve a necessidade de construir um local apropriado para o lazer dos santa-helenenses. Além do futebol, os munícipes gostavam de frequentar bailes, normalmente animados por violeiros paraguaios, sendo que a iluminação era por lampião, jogar bolão e que a primeira cancha de bocha de Santa Helena pertencia a Orlando Weber (este em 1967 tornou-se vice-prefeito. Toda essa efervescência sócio-cultural fez com que a família Cattani, Argemiro Kozerski e outras lideranças se mobilizassem com a finalidade de fundar o Clube Recreativo e Esportivo União, na chácara que pertencia a Armando Cattani. Relembrou Cattani que Argemiro Kozerski foi também um dos fundadores do Clube Esportivo Incas.

A Rua Ângelo Cattani e o próprio nome do Clube União Ângelo Cattani são homenagens à família Cattani pelos relevantes trabalhos prestados à Santa Helena. Armando Cattani casou-se com Izita Gallo no ano de 1958, com quem teve 07 filhos, sendo 05 meninas e 02 meninos. Relatou também que o primeiro morador da Avenida Brasil foi Marino Carvalho. Ajudou também a enterrar no cemitério municipal a primeira pessoa falecida em Santa Helena de sobrenome Tomas. Foi difícil a abertura da cova, pois havia enormes raízes para serem arrancadas, lembrou Cattani. Ainda acrescentou, quando uma pessoa precisasse de tratamento médico teria que deslocar-se a Foz do Iguaçu via Rio Paraná pelo fato de Santa Helena não dispor do serviço hospitalar no início da formação do município.

Armando Cattani frequentou os bancos escolares em Santa Helena Velha. Nos confidenciou o seguinte fato na época de estudante, disse ele “quando estudava gostava de realizar certas “malandragens”, certa feita eu e alguns colegas de aulas ao perceber a passagem de um cavaleiro próximo à escola, passamos a atirar torrões de barros no transeunte, só para incomodá-lo” relembra Cattani. Ao completar 18 anos de idade passou a servir o exército brasileiro em Foz do Iguaçu.

Relembrou outros fatos históricos que ocorreu nestas 7 décadas residindo no município santa-helenense, que Santa Helena Velha era uma localidade de muitas posses de terras; o salão Meier movimentou muitos momentos de lazer em Santa Helena por vários anos; a primeira cerealista para compra e vendas de produtos agropecuária instalada entre 1962/63 pertenceu e pertence até hoje à família Alegrette; o primeiro banco financeiro a instalar-se foi o Bamerindus S/A; primeira serraria instalar-se em Santa Helena ocorreu no atual Bairro da Vila Rica de propriedade de um Sr. com sobrenome Pi; na região do IBC muitos colonos iniciaram o plantio de café; um dos principais protagonistas da História de Santa Helena, João Madalozzo no ano de 1966 fixou residência no município de Medianeira trabalhando no ramo de serraria e mais tarde faleceu naquela cidade.

Um dos momentos marcantes para Armando Cattani ocorreu na década de 1970 quando se deu o início do processo indenizatório das terras pertencentes ao município de Santa Helena para a construção da Hidrelétrica de Itaipu. Na época os moradores organizaram-se e protestaram contra a construção do lago. Se sentiam lesados pela Itaipu Binacional pelos valores que seriam pagos pelas suas propriedades agrícolas. O primeiro manifesto aconteceu em frente do atual escritório de Itaipu, na Avenida Brasil, próximo à entrada da Praia. Este movimento teve grande participação dos próprios colonos e contou com o apoio da Igreja Católica através do Pároco Valentim e de pastores de Igrejas Evangélicas de Santa Helena.

Concluiu Armando Cattani, “eu tinha 08 chácaras que foram indenizadas pela Itaipu, na medida em que os colonos foram sendo indenizadas, muitas famílias iam embora, na época via muitas casas serem carregadas e mudanças deslocando para o Brasil afora. Foi muito triste” finalizou Cattani. Mesmo assim, Armando Cattani arranjou forças e candidatou-se ao cargo de vereador pelo PMDB no ano de 1982, entretanto não se elegeu.

Os entrevistadores agradecem ao Sr. Armando Cattani pela colhida em sua residência e pela relevante entrevista que concedeu aos professores e estudantes neste encontro.

Professor João Rosa Correia / Correio do Lago

Ângelo Cattani e esposa, pais do entrevistado.













João Rosa Correia