Cotidiano
11.11.2011
EM MEMÓRIA DE SEU AQUELINO
Meu pai completa hoje, exatos 80 anos. Nascido em Osório, Rio Grande do Sul em 28 de janeiro de 1929, migrou para São Miguel do Oeste em Santa Catarina na década de 40. Em meados da década de 70 veio para Santa Helena, onde montou a Casa Barraquinha, uma das cinco ou seis lojas que citei na coluna de ontem.
Serviu o exército, do qual se orgulha ter chegado a cabo, foi fazedor de cachaça, dono de hotel, bar e restaurante, época inclusive em que nasceram seus filhos homens e que adotou uma menina. A outra nasceria em Santa Helena, temporã.
Foi fumante, tomava uns tragos, mas nunca se embebedou. Lembro-me como se fosse hoje, quando o acompanhava por incursões na chácara ao fundo dos estabelecimentos comerciais que mantinha em sociedade com um irmão mais velho, Antonio, que algumas vezes eu voltava para o bar em busca de um maço de “Tufuma”, um mata-rato sem filtro da época.
Espécie de homeopata, seu Aquelino gosta de plantas medicinais e está curtindo como nunca sua chácara onde cultiva, além de peixes, milho, feijão, cebola, batata, frutas, uma grande variedade de alternativas naturais para a saúde, a qual preserva com muita determinação.
Ao levantar, antes do chimarrão apinhado de chás, toma uma colher reforçada com mel e azeite de oliva e se não me falha a memória (a dele é melhor quase sempre) toma cloreto de magnésio, dizendo ser uma composição química milagrosa para prolongar a vida, pois serve para um monte de coisas.
Austero com coração de manteiga. Apreciador de um carteado e sempre se enerva ao perder. Homem de fé, sabedor de que a vida terrena, que vive achando alternativas para prolongá-la, é uma passagem e por isso se dedica diariamente às suas orações e não deixa de ir à igreja, todo final de semana.
Seu Aquelino, 80 anos de uma história repleta de bons exemplos para a gente. Só para se ter uma idéia, recomeçou praticamente do zero a sua vida ao vir para Santa Helena com 46 anos. Eu me lembro daquele início de ano de 1975, estava com oito anos. A Avenida Brasil sem um centímetro de asfalto, mas com vários centímetros de poeira. Aquela velha casa de madeira, empoeirada. Minha mãe lacrimejou, mas a determinação do meu pai foi contagiando todo mundo.