O Andarilho
06.06.2012
EIS QUE O ANDARILHO RETORNA À CASA
COLUNA DO ANDARILHO
por Edson Walker
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Eis que o andarilho retorna à casa. “Mas,” você deve estar se perguntando, “andarilho tem casa?” É claro que sim. Todo mundo tem pelo menos uma lembrança de um lugar onde foi criança, onde aos poucos descobriu-se como um novo ser humano. É onde começa a história de cada um de nós. E esse lugar é, ainda hoje para mim, a casa da minha mãe.
Sim, estou de volta. Mais de 10 meses depois de mais de 52.000 kms pelo mundo, estou de volta. Sei que 52 mil parece mentira mas é o que, por curiosidade, calculei ligando em linha reta as principais cidades que passei desde que saí de Porto Alegre no dia 25 de julho do ano passado. Se contar todas as curvas e ruas por onde andei buscando fotos e histórias dá para aumentar mais alguns poucos mil na soma total. “É chão!” como diria o incrédulo. Daria para dar mais do que uma volta na Terra seguindo a linha do Equador que tem 'apenas' 40.075 kms.
Não foi fácil sair da Geórgia. Todo andarilho sabe que dos lugares podemos trazer apenas lembranças mas ninguém é livre do seu destino e esse nunca se importa com seus planos. Segue sempre implacavelmente dando-lhe tudo o que você precisa. Nunca o que você quer.
No caminho de casa parei por 5 dias na cidade de Roma para visitar amigos que havia conhecido no Marrocos. Foi como terminar bem a longa viagem desse ano. Boa comida, companhia, arte, história e vinhos acompanharam todos os meus dias lá. Visitei lugares famosos como o Coliseu e o Vaticano. Não vi o papa mas fui para a praia perto de Roma no domingo onde a maioria dos romanos refugiou-se naquele dia de muito sol e calor.
Roma tem muita história, é como um imenso museu. Meu passatempo preferido lá foi me perder pelas belíssimas ruas coloridas com prédios com flores na janela e motos Vespa estacionadas nas suas entradas. Numa dessas tardes de sol intenso, entrei na Catedral de São Pedro e me maravilhei com todas aquelas obras de arte, ouro e mármore. Parei vários minutos, quase que em contemplação, diante de uma delas que me atraía em especial desde as aulas de história da arte da universidade em Santa Maria. Estava diante da Pietá de Michelangelo, uma das esculturas mais famosas do mundo. Maria, com seu rosto delicado e olhar triste, segurava Jesus morto em seus braços. É incrível imaginar algo tão belo feito por esse artista florentino quando tinha apenas 23 anos de idade. Foi realmente um gênio esse Miguel Ângelo.
Domingo à noite era hora de dizer adeus novamente mas antes disso minha amiga Elisabetta convidou-me para jantar na casa dos seus pais. Fui ansioso para a casa dos Farroni pois dias antes havia provado em sua casa um fettuccini feito pela mãe com molho ragu, chamado aqui por nós brasileiros de bolonhesa. Já comi muita massa na minha vida mas esse fettuccini feito com massa caseira foi algo que não tem lugar no mundo que você possa comprar. Tirei até foto do prato e minha amiga achou engraçado pois para ela é algo tão normal. No final da janta, momento para a gaffe do dia. Enquanto lutava para enrolar os longos fios de massa no meu garfo, peguei minha faca e cortei-a pela metade. Pelo jeito isso é como misturar Coca-Cola com vinho na Geórgia. Uma ofensa à cultura local mas que sempre rende boas risadas.
Bom, agora é tempo de readaptação. Talvez a parte mais difícil da vida de um andarilho seja voltar para casa. Mas volto com muitos planos, muitas ideias e sonhos novos. E o mundo é cada vez maior. Se tenho muita história para contar? Minha pergunta é: Tens tempo para ouvir?
Abraços e até a semana que vem.
O Coliseu dos gladiadores de Roma.
A Pietá de Michelangelo esculpida em 1499 quando ele tinha apenas 23 anos.
Jantar de despedida na família Farroni.