O Andarilho

17.01.2012

DIRETO DE ISRAEL

Ataques terroristas, radicalismo religioso, assentamentos ilegais, jovens atirando pedras em tanques de guerra, ódio, rancor, prisões e represálias. A lista de problemas aqui em Israel é grande e complexa mas talvez você, ao terminar de ler essa coluna, irá se surpreender com a história que eu tenho para contar. “Um tanto parcial”, alguns talvez dirão mas, essa é a minha experiência e convido-o a vir aqui para ver com seus próprios olhos essa terra ainda sagrada para tanta gente.

 

Estou agora na Galileia, em uma fazenda chamada carinhosamente de “Goats with the Wind” em homenagem ao filme “E o Vento Levou”. Das montanhas ao redor onde nossas cabras buscam um pouco de grama fresca entre as pedras e arbustos, vejo no vale abaixo a famosa cidade de Nazaré. É possível ouvir daqui também os chamados para a oração das mesquitas das cidades muçulmanas ao redor que vivem em aparente harmonia com as cidades de maioria judia.

 

Acordo aqui todas as manhãs ouvindo todos aqueles sons tão típicos em qualquer fazenda no mundo inteiro. Não é, porém, o canto do galo que me faz finalmente levantar para mais um dia de trabalho mas sim o sino que chama todos os membros desse lugar tão especial a se reunir para o chá servido no jardim.

 

Esperamos lá, ainda meio adormecidos pelo nascer do sol, tão raro nesses últimos 7 dias que estou aqui. Chove muito nessa época do ano na Galileia. Ao redor da mesa nossa família reúne-se antes de começar o intenso trabalho das primeiras horas do dia, comum em qualquer fazenda com centenas de animais.

 

Amnon e Daliah, os proprietários, dão as últimas novidades e instruções para o grupo de voluntários que, em troca de alojamento e alimentação, ajudam na produção de leite utilizado nos famosos queijos de cabra da fazenda. Somos agora 5, um americano, uma canadense e duas alemãs, mas toda  semana temos algumas despedidas e alguns desejos de boas vindas.

 

Nosso trabalho durante a manhã é cuidar dos cabritinhos recém-nascidos, alimentar suas mães, ordenhar as cabras em lactação, dar feno aos cavalos e a um pequeno grupo de ovelhas. Alguns bebês acabam órfãos ou nascem gêmeos e precisam de atenção especial no pequeno quarto utilizado como creche. Ganham leite na mamadeira o que torna esse o trabalho do dia mais delicado, porém sempre o mais engraçado. Alguns lutam bravamente contra o método porém outros, já mais fortes e menos teimosos pulam ao nosso redor, trepam em nossas costas, mastigam nossas calças ou tentam chupar nossos dedos ocupados com os recém chegados.

 

As 10h00 da manhã, o sino volta a soar e nos reunimos novamente ao redor da mesa no jardim para a recompensa pelo nosso trabalho. Sinceramente nunca me senti tão bem pago na minha vida. A comida servida por Daliah tem sempre aquele sabor de algo preparado com amor o que deixa em todos nós uma incontida sensação de felicidade.

 

À noite, cansados, porém com aquela sensação de dever cumprido, sentamos em roda na sala de jantar com uma lareira sempre acesa. Fazemos alguns minutos de silêncio onde cada um faz suas orações ou simplesmente agradece pela comida ou pelo dia que tivemos. Após, Amnon abençoa um pedaço de pão e passa para cada um de nós tirar um pedaço. Bebemos uma pequena taça de vinho e conversamos animadamente enquanto nos servimos. Conversamos sobre o dia na fazenda, sobre como são as coisas em nossos países, aprendemos um pouco do idioma de cada um e nos surpreendemos com as diferenças e similaridades entre nossas culturas.

 

Estou tendo uma experiência que não podia imaginar aqui em Israel. É um país no qual você conhece pessoas muito interessantes, inteligentes e generosas. Não imaginava poder encontrar tanta paz nessa região na qual ouvimos apenas o contrário sentados confortavelmente diante de nossos televisores. Viajar é sem dúvidas a melhor maneira para conhecermos esse mundo em que habitam pessoas de bem, que tentam fazer daqui um lugar para se viver em paz e harmonia.

 

Um grande abraço e até semana que vem.

Edson Walker

 

 

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Um dos vários guarda-costas da fazenda


O bode mais feio do mundo


Ariel, um dos voluntários da fazenda

Edson Walker