O Andarilho

21.03.2012

“DIA NOVO”. SIM, é PRIMAVERA POR AQUI!

Nowrūz ou, segundo um artigo na Wikipedia, também conhecido por Nouruz, Norouz, Norooz, Narooz, Nawruz, Newroz, Newruz, Nauruz, Nawroz, Noruz, Nohrooz, Novruz, Nauroz, Navroz, Naw-Rúz, Nowroj, Navroj, Nevruz, Наврӯз, Navruz, Navrez, Nooruz, Nauryz, Nevruz, Nowrouz, (!) pode ser traduzido literalmente como “Dia Novo”. Sim, é primavera por aqui!

 

Estou agora na cidade histórica de Mardin, no sul da Turquia, região de maioria Curda, uma etnia que habita a região chamada de Curdistão que fica entre Irã, Iraque, Síria, Turquia, Armênia e Geórgia. Hoje, 21 de março, é início do outono para nós no Brasil mas também início da primavera aqui no hemisfério norte. Se não temos muito o que comemorar nesta data onde os dias começam a ficar mais curtos e frios, do lado de cá, há muito o que festejar após o longo período de rigoroso inverno. O Nowrūz é a festa do renascimento, da renovação da natureza, o início de, não apenas um dia novo, mas sim, de um ano novo.

 

É uma data festejada há mais de 3000 anos principalmente pelos persas, maioria do povo iraniano, mas também por outros povos que habitam essa região. É o início do ano no Irã, dia de festa e alegria. Aqui na Turquia, porém, para o povo Curdo, não é assim tão feliz. História longa e complicada mas, resumindo, os curdos sonham com a independência, o que não é nada bem vista, é claro, por todos os governos dos países aos quais o Curdistão está anexado. Na Turquia as celebrações do Nowrūz foram até banidas por muitos anos mas agora são permitidas mas com muitas restrições.

 

Uma das principais tradições desse dia são fogueiras nas quais as pessoas pulam sobre para comemorar a passagem do ano novo. Uma tradição nem tanto desconhecida por nós durante o dia de São João, que é a data que marca o início do verão no hemisfério norte. Qualquer semelhança seja talvez apenas coincidência mas muitas vezes as raízes da nossa cultura são muito mais profundas do que a gente imagina. Governos nacionalistas como o da Turquia, trabalham sempre da mesma forma diante de etnias com cultura e tradições diferentes da planejada pela maioria que governa o país. A ideia é “turquisar”, eliminando aos poucos a cultura das minorias fazendo com que ideias separatistas desapareçam com o tempo. Algo nada novo na história e talvez a China, em relação ao Tibete, usa dessa mesma política há muito tempo.

 

Encontrei ontem no hotel mais uma vítima dessas complexas políticas internacionais. A história dele é um pouco diferente mas não menos complexa e desconhecida por nós. Heersh, ou para facilitar, Henrick, como gosta de ser chamado, é um cara que tem muita história para contar. Iraquiano de origem curda da cidade de Kirkut, que não é nenhum paraíso na Terra há muito tempo, é um refugiado aqui na Turquia esperando, junto com seu irmão, asilo político nos EUA. Eles são mais uns daqueles que receberam em suas casas mensagens da Al-Qaeda dizendo que todos aqueles que trabalham para as forças de ocupação americanas ou tem amigos cristãos devem morrer. Depois de uma mensagem dessas não há muito o que fazer além de sair o mais rápido possível da cidade pois esse grupo terrorista já provou muitas vezes que não faz ameaças em vão.

 

Às pressas teve que arrumar um passaporte, que lhe custou U$900, e veio para a Turquia onde seu irmão já o esperava. Henrick está aqui a 5 meses, indo de um lado para outro, seguindo as ordens do governo turco e de sua política de refúgio político que, para curdos iraquianos, é ainda mais difícil. Foram transferidos agora para Mardin onde em um pequeno quarto de hotel vão continuar a longa espera. Estão entediados sem dúvida e cada estrangeiro que encontram é uma oportunidade de sair um pouco da rotina.

 

Passamos várias horas do dia de ontem e hoje pela manhã conversando sobre os mais diversos assuntos. Para mim é uma oportunidade de conhecer mais sobre a cultura e vida dessas pessoas que vivem em um país que não penso em visitar assim tão cedo. O Iraque encontra-se hoje num verdadeiro caos onde as pessoas vivem com medo e inseguras quanto ao seu futuro. Henrick mal vê a hora de ir finalmente para o país dos seus sonhos. Tem uma visão bastante romântica sobre cristãos e o ocidente mas consigo entender sua revolta com seu país e cultura. Sonha com um pouco de liberdade. Algo que nem conseguimos compreender.

 

Segunda passada foi um dia muito especial para mim, o dia da inauguração da minha nova exposição de fotografias na cidade de Curitiba. Com a ajuda de 3 grandes amigos, conseguimos montar uma exposição inédita na cidade com fotos dos países africanos que visitei no ano passado. Para a abertura organizamos uma videoconferência e pude, mesmo distante, participar do evento que aconteceu no Café Babette da Aliança Francesa. A exposição fica até o dia 27 de abril e quem estiver em Curitiba está convidado a tomar um café e ver a exposição.

 

Até semana que vem, Insh'Allah.

Meus amigos durante a abertura da exposição Africophonique.

Vista da cidade de Mardin, no sul da Turquia.

Henrick, iraquiano, exilado político na Turquia.

Edson Walker