Cotidiano

07.01.2008

DEZEMBRO - 2007

O PRÓXIMO BURACO

Era dia de finados, visitei o campo santo após a missa da matriz, que era pra ser no cemitério e não o foi por causa da chuva.
Além de visitar o túmulo de meu primeiro filho e do avô dele, seu Isidoro, depois de passar pela cruz grande, fui olhar os primeiros enterrados do cemitério principal do município. Pela inscrição nos túmulos, acho que a inauguração se deu na metade da década de 50. Muitos sobrenomes que não vemos mais hoje estão lá. Até corpos guaranis repousam em nosso cemitério central, pelos sobrenomes que observei. Outro fato curioso é a quantidade de jazigos, que não refletem obviamente o número de entes falecidos, pois muitos espaços estão ocupados por dois e até três falecidos. Passado cinco anos, pode ser ocupado o mesmo espaço. Mais ou menos há umas 50 fileiras que comportam em média 45 sepulturas cada na horizontal, o que daria um número aproximado de 2.500 mortos, mas como existem locais com mais de um, pode haver mais ou menos de 2.800 a 3.000 falecidos no cemitério principal de Santa Helena.
Contando desde 1957, como ponto de partida, temos 50 anos. Dividindo 50 por 3.000, chegamos a uma média de 60 pessoas, falecidas por ano. Um pouco mais do que um falecimento por semana a contarmos as 52 semanas do ano.
Voltando ao caso dos túmulos que têm mais de um falecido, conversei com uma pessoa que entende mais do assunto, que me disse que após cinco anos, pode ser enterrada outra pessoa no mesmo lugar onde já exista um sepultado.
Até uma dica para as famílias de Santa Helena e da região. Passado o tempo, para evitar que o cemitério se espiche até no lago, caso nosso, seria de bom alvitre, ir reutilizando os espaços e poderíamos parar com a saga dos buracos abertos. Agora, têm tanto buracos abertos, feitos à máquina. É uma loucura. Depois de cinco anos, me disse a fonte, só estão os ossos e osso mais comprido é o da canela. Minto. Disse que era a canela no meu programa pela Grande Lago. Na verdade a minha fonte me ajudou a equivocar-me, pois o maior osso do corpo é o fêmur, o das coxas. Após cinco anos, a madeira do caixão está lá, na maioria das vezes intacta, as roupas estão lá, e tudo isso é recolhido e queimado. Juntam-se delicadamente os ossos, os colocam numa caixinha à parte e faz-se o sepultamento do outro ente que faleceu da família, acomodando o pequeno invólucro ao lado do novo morto.
Teve um caso que me foi relatado, que depois de sete anos, o corpo de uma senhora que não é daqui, estava intacto. Queriam mudá-lo para outro cemitério e tiveram que desistir. Passaram-se mais três anos, novamente o corpo foi encontrado intacto. Mais cinco anos, ou seja, 15 anos após o falecimento, novamente encontraram o corpo da mulher, inteiro e daí, a família resolveu levar este corpo de um cemitério da região, para São Paulo, mesmo assim, pois os parentes estão todos lá. É raro, mais isso acontece. Voltando à história dos buracos abertos no cemitério. Demais espaço aberto dá uma impressão meio ruim. Alguns até concordo. Aliás, é salutar a gente visitar o final da carreira, lá onde está o próximo buraco e refletir. O próximo pode ser meu. Isso ajuda a gente pensar que a vida aqui na terra é uma passagem. A gente não sabe a hora e a hora pode ser a qualquer momento. Ao visitar o cemitério, visite o próximo buraco e reflita. Se fosse eu este próximo a ser enterrado ali, estaria preparado? Pelo menos sabemos o que é estar “preparado”?

Elder Boff