Cotidiano

15.12.2011

DE ARREPIAR

O rapaz queria pescar aquele Tucunaré que via saltitar frequentemente do lado direito do espaço redondo à direita do atracadouro da praia de Santa Helena.

Certa feita, janeiro, sol escaldante, pegou sua bicicleta, a vara com molinete e desceu da cidade até a praia, cedo, logo após o almoço.

Sua mãe lhe disse que era melhor esperar para mais tarde, pois o sol estava a pino, principalmente em se tratando do horário de verão.

Olhou para trás, sorriu, como se despedisse, com um olhar diferente de como sempre fazia. Sensibilidade de mãe ou não, algo de diferente e muito traumático viria acontecer.

A notícia não tardou a chegar. O filho estava desaparecido. Encontraram o seu equipamento de pesca, a varinha com molinete na beirada do lago naquele ponto onde ele dizia que saltitava o Tucunaré.

A linha estava esticada até mais para dentro do lago, numas plantas aquáticas, onde a isca havia enroscado.

O rapaz não voltou mais, perecendo afogado, provavelmente vitimado por um ataque epilético que sofria de vez em quando.

Os bombeiros procuraram até o anoitecer e como de praxe, retomariam as buscas ao amanhecer do outro dia.

O pai do jovem e seu tio, que me contou a história, agoniados, não suportaram esperar até no outro dia e continuaram vasculhando o local e quando eram 5h da manhã, localizaram o corpo e o retiraram da água.

Colocaram o jovem inerte no barco e puxavam para a beirada, quando, como por encanto, um Tucunaré, sem mais e sem menos, pulou pra dentro da embarcação.

Elder Boff