Contando Histórias

09.08.2018

Conheça a trajetória do professor santa-helenense Osmar Manieri Carlesso

Em comemoração aos 50 anos da fundação da Escola Estadual Graciliano Ramos – Ensino Fundamental Séries Finais de Santa Helena, que ocorrerá no mês de março de 2019, estamos realizando entrevistas com personagens que trabalharam nesta escola: ex-diretores, professores/funcionários aposentados, como forma de homenageá-los pelos serviços prestados à mencionada instituição de ensino.

Responsável pelas entrevistas, Prof. João Rosa Correia.

Entrevistado: Professor Osmar Manieri Carlesso - Matemática

Quinta-feira, 22 de março de 2018, eu, professor João Rosa Correia, entrevistei o Professor Osmar Manieri Carlesso em sua residência, à Rua Paraguai 2057 (área central de Santa Helena, Paraná). Portanto, vejamos a trajetória histórica deste educador santa-helenense. Apresentou os nomes de seus pais: João Manieri e Orlanda Carlesso Manieri, ambos descendentes de italianos e seguidores do catolicismo.

A família do Professor Osmar, por parte de pai, era constituída de 14 pessoas. Destes, alguns nasceram na Itália na região da Calábria e outros no Estado de São Paulo/Brasil. Ressaltou que seu pai João Manieri, era o caçula e nasceu no interior paulista. Na Itália, os familiares do Professor Osmar trabalhavam na agricultura. Emigraram para o Brasil por volta de 1900. (Significado de emigração: é o ato de deixar o local de origem - a pátria - com intenção de se estabelecer em um país estranho.)

Assim que chegaram em terras brasileiras, esses imigrantes passaram a trabalhar de agregado na cafeicultura no município de Penápolis/SP. (Significado de imigrantes: entrada de indivíduo ou grupo de indivíduos estrangeiros em determinado país, para trabalhar e/ou para fixar residência, permanentemente ou não; Agregado aqui representa pessoa que executa serviços em uma propriedade agrícola, mas não tem um contrato de trabalho.)

Naquela época o café despontava como um produto de alto valor comercial no mercado europeu e norte americano. A valorização, aliada à grande procura desta mercadoria (café), estimulava os cafeicultores a expandir os negócios, por isso necessitavam de muita mão de obra para trabalhar nas lavouras cafeeiras no Estado de São Paulo. O governo brasileiro facilitava e incentivava a entrada de imigrantes europeus no país.  Neste contexto histórico que ocorreu a emigração da família Manieri para o Brasil.

Professor Osmar nasceu em Penápolis no dia 08 de Março de 1949. Faz parte de um núcleo familiar de 11 irmãos, sendo 04 femininos e 07 masculinos. Destes, três in-memorian. No ano de 1951, seus pais migram de Penápolis (SP) para Paiçandu/PR, onde passaram a trabalhar em um sítio de café de 5 alqueires na condição de agregados. (Migração: é o deslocamento de indivíduos dentro de um espaço geográfico, de forma temporária ou permanente). Após dois anos (1953) trabalhando nesta localidade, João Manieri consegue acumular certa quantia em dinheiro, com isso adquire 5 alqueires de terras na localidade de São Tomé que pertencia ao município de Cianorte (norte do Paraná).

De Paiçandu à São Tomé a família Manieri deslocou de caminhão, porque entre essas duas localidades existiam estradas que possibilitavam trafegar com automotores. Há época, o vilarejo de São Tomé contava com uma venda de secos e molhados (armazém que negociava cereais, alimentos e demais utensílios domésticos). As terras adquiridas por João Manieri ficavam 8 km de distância do lugarejo de São Tomé e 23 quilômetros de Cianorte. Ao precisar comprar alimentos e/ou qualquer utilidade doméstica em São Tomé, era preciso percorrer a cavalo enfrentando trilhas (picadas) abertas na mata, porque estrada inexistia.

Ao fixar residência na área rural de São Tomé, João Manieri providenciou a construção de um local para abrigar a família. A cobertura da moradia era de lona emprestada do tio de Osmar. Quanto a alimentação, cozinhavam em panelas de ferro assentadas sobre tijolos expostas no “pátio da casa”, pois era iminente o risco de pegar fogo se preparassem os alimentos no interior da improvisada residência. O improvisado “fogão” permanecia acesso toda noite, com a finalidade de espantar as onças que rondavam o local, lembrando que a região do norte paranaense naquela época (década de 1950) era formada por extensas florestas nativas, por isso, repletas de animais silvestres.

Professor Osmar fez questão de dizer que seu pai sempre trabalhou com a atividade cafeeira. Dos cinco alqueires iniciais que João Manieri havia adquirido em 1953, há de destacar que com o transcorrer dos anos trabalhando na cafeicultura no norte paranaense e ganhando dinheiro com este produto, conseguiu comprar 40 alqueires de terra em São Tomé. Sempre que adquiria uma nova área de terra, imediatamente plantava café. O empenho que dispensava aos cafezais, os tornou um dos fortes produtores do cereal da região de seu domicílio (norte paranaense).

Todavia, João Manieri e esposa também tiveram a preocupação de cuidar da educação escolar dos filhos. Assim que Osmar Manieri atingiu a idade de frequentar os bancos escolares foi encaminhado à Escola Rural Barão do Rio Branco, que ficava em São Tomé, onde completou antigo primário (1ª a 4ª Série) em 1960, (atualmente corresponde ao Ensino fundamental Séries Iniciais 1º ao 5º Ano). Pela falta de ensino ginasial onde residiam (hoje Ensino fundamental Séries Finais – 6º ao 9º Ano), Osmar ficou por uns anos sem frequentar a escola. Fora dos bancos escolares, Osmar passou a auxiliar os pais nos trabalhos cafeeiros.

Preocupados com a formação intelectual dos filhos e interessados concedê-los estudos, em 1966 João Manieri e família transferiram residência para Cianorte. Neste ano Osmar participou do exame de admissão que era exigido na época aos que pretendiam ingressar no ensino ginasial. Aprovado frequentou a 5ª Série (atualmente 6º Ano) em Cianorte. Entretanto, seus pais encontraram dificuldades de adaptação naquela cidade e retornam no final de 1966 a viver no sítio em São Tomé. No ano seguinte (1967) inicia-se no município de Japurá (sede administrativa do distrito de São Tomé) o ensino ginasial.

Japurá ficava distante 7 km de São Tomé e este trajeto Osmar tinha que percorrer de carroça diariamente para chegar à Escola. Diante dessa dificuldade de locomoção, em 1968 João Manieri adquiriu um JEEP com a finalidade de facilitar o deslocamento do estudante Osmar até a instituição de Ensino em Japurá, o que lhe permitiu concluir em 1969 o Ginásio (atualmente 9º ano).

Em 1970 tem início o Ensino Normal (atualmente Formação de Docente) em São Tomé, e Osmar passa a frequentar este estudo na cidade de origem, no entanto, logo depois solicita sua transferência para Japurá por ficar mais próxima do sítio onde residia. Nesta cidade no ano de 1972 concluiu a formação de professor (Ensino Normal). De posse do diploma de professor “primário”, foi contratado em 1973 pela Prefeitura Municipal de Japurá, para lecionar na Escola Rural Rio Branco, onde estudara em anos anteriores. Neste mesmo ano (1973) prestou vestibular para o curso de Matemática (nível Superior) na FAFIMAN – Faculdade de Filosofia de Mandaguari. Aprovado, cursou a Faculdade concluindo este grau de ensino em Julho de 1976. Osmar e colegas universitários fretaram uma Kombi que os transportavam diariamente de Japurá a Mandaguari até a conclusão do ensino superior. Destacou ainda que participou de estudo de Pós-Graduação: “Especialização em Didática e Metodologia do Ensino”, concluído em 08 de fevereiro de 1998 pela UNOPAR – Universidade Norte do Paraná/Londrina.

Residindo na região norte do Paraná, professou Osmar lecionou Matemática durante dois anos (1975/1976) no Colégio Estadual Castelo Branco – 2º Grau (Ensino Médio) de Japurá. No dia 21 de Janeiro de 1977 deixa Japurá e vem à Santa Helena com o objetivo de continuar lecionando Matemática nas escolas deste município.

A transferência foi motivada pela incerteza de continuar trabalhando na escola de Japurá, porque a SEED - Secretaria de Estado da Educação do Paraná impôs mudança da carga horária de trabalho prevista para o ano letivo de 1977 aos professores. Aqueles(as) que já lecionavam 32 horas aulas passariam a ministrar 44 horas aulas semanais. Este acréscimo de 12 horas de trabalho semanal por professor diminuiria a necessidade do Estado de contratar novos educadores. Situação que preocupava professores de início de carreira que era o caso do Professor Osmar.

Portanto, o risco de ficar sem trabalho na área da educação motivou-o migrar de Japurá para Santa Helena. Disse ele que ainda recebeu incentivo de Antônio de Paulo Moreira que no ano de 1976 lecionou Matemática em Santa Helena nas Escolas Estaduais: Graciliano Ramos e Castelo Branco. Eles se conheciam desde os tempos de estudantes de Magistério em Japurá e por isso tornaram-se bons amigos. Comentou professor Osmar que o professor Antônio iria para São Paulo cursar Engenharia Mecânica e as aulas de Matemática que lecionava certamente seriam dele, pois em Santa Helena havia uma carência de professores nesta área do saber. Sendo assim, (fevereiro de 1977) professor Osmar, em contato com a direção da Escola Estadual Graciliano Ramos e Castelo Branco conseguiu assegurar as aulas de Matemática que desistira o Professor Antônio. Obs. Pela amizade entre eles possibilitou que por uns meses morassem no mesmo quarto do Hotel Paludo de Santa Helena, enalteceu professor Osmar.

Em 1978, professor Osmar tornou-se vice-diretor da Escola Estadual Graciliano Ramos, sendo diretor Nelson Kolling. Entre 1979/1980 foi designado diretor da referida Escola pela SEED-Secretaria de Estado do Paraná.  Além de administrar o Graciliano Ramos, respondia pela extensão de ensino de São José das Palmeiras. Paralelamente ao cargo de diretor escolar, lecionava 44 horas aulas como suplementarista (espécie de Professor PSS da atualidade).

O excesso de horas de trabalho lhe atribuído pelo Estado, obrigava-o a permanecer três turnos nas escolas (manhã, tarde e noite). Ao ser aprovado no concurso de Professor Estadual (1980), passou a trabalhar 20 horas aulas em sala de aula (extraordinárias) no Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco e 20 horas (concurso) na direção da Escola Graciliano Ramos.

Entre 1986 a 1988 trabalhou na inspetoria de ensino de Santa Helena. No município o inspetor de ensino tinha a responsabilidade em acompanhar a aplicabilidade da política educacional da Secretaria da Educação do Paraná – SEED.  (Obs. As inspetorias de ensino foram extintas na gestão do governo Roberto Requião na década de 1990. No lugar dessas inspetorias, o Estado criou o cargo de documentador escolar. O profissional da educação ao ser nomeado para esta função ficava e ainda fica na prerrogativa de ligação entre os interesses educacionais no município com o NRE – Núcleo Regional de Ensino de sua jurisdição, bem como representar o chefe do NRE nos eventos escolares que este não puder se fazer presente.)

Com a extinção das inspetorias de ensino, Professor Osmar reassume em 1992 as 40 aulas de Matemática, na Escola Estadual Graciliano Ramos. No período de 1993 à 2000 comandou a Secretaria de Educação de Santa Helena nas gestões política/administrativa de Júlio Morandi/Silom Schmidt e Silom Schmidt/Aquiles Mafinni. Nestas administrações foram implantadas dois importantes centros educacionais, que atendiam santa-helenenses e demais brasileiros de diversas regiões do país interessados em estudar nestas escolas, que são: Supletivo - transformado em CEEBJA – Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ensino Fundamental e Médio) e a extensão da UNIOESTE, com os cursos de Pedagogia, Educação Física e Ciências da Computação. (Obs. Importante registrar que a infraestrutura da UNIOESTE/SH foram construídas totalmente com os recursos do município.)

Por conta dessas escolas, Professor Osmar sente realizado enquanto educador, porque a Secretaria de Educação do município encontrava sob sua responsabilidade quando da implantação destas instituições de ensino em Santa Helena. Afirma ele que demandou enorme esforço da equipe de trabalho do setor de educação municipal até que fosse possível regularizar toda documentação exigida pelo setor educacional do Estado do Paraná e da União para liberar a abertura e funcionamento das turmas de estudantes das referidas instituições de ensino. Entende Professor Osmar que toda energia empregada para concretização destas escolas não foram em vão, porque há anos Santa Helena vem colhendo os “frutos” deste investimento financeiro dispendido pela municipalidade. Entretanto, por questões políticas/econômicas a extensão da Unioeste de Santa Helena, ficou desativada durante alguns anos.

A partir de 2014, o poder público de Santa Helena repassou toda infraestrutura que abrigava a UNIOESTE de Santa Helena à UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, no qual oferece curso de Ciências Biológicas, Ciências da Computação e Agronomia, completou Osmar.

Importante destacar também, que em 1996 o professor Osmar (PMDB) candidatou e concorreu à vereador. Nestas eleições conseguiu ficar primeiro suplente para a Câmara Municipal. Na eleição seguinte (2000) novamente lançou-se candidato elegendo-se vereador (PMDB), assumindo a legislatura (2001 à 2004), compondo com os demais eleitos, a Câmara Municipal de Santa Helena. Na tentativa de reeleger-se vereador, concorre às eleições de 2004, porém, ficou segundo suplente. Assumiu a cadeira de vereador no ano de 2008 porque dois vereadores eleitos pelo PMDB resolveram desligar do partido. A lei eleitoral brasileira da época prévia a perca do mandato àqueles que desvinculasse da sigla partidária pelo qual fora eleito. O mandato era do partido, em razão disso foi possível o retorno do Professor Osmar à Câmara de Vereadores.

Se faz necessário salientar que Professor Osmar exerceu os mandatos de vereador e ao mesmo tempo ministrava 40 aulas de Matemática na Escola Estadual Graciliano Ramos. Isto era e é perfeitamente conciliável, porque as sessões da Câmara de Vereadores acontecem a partir das 19 horas e nas segunda-feira de cada semana, ficando assim tempo livre o suficiente para o professor trabalhar na escola que atua, apontou Osmar.

Depois de trabalhar por 35 anos, Professor Osmar aposentou-se ano de 2009. Porém, na gestão do prefeito Jucerlei Sotoriva (2013 à 2016) desempenhou por três anos consecutivos a função de assessor pessoal do vice-prefeito Margon Strarburguer e em 2016 deixou a assessoria e comandou a Secretaria Municipal de Esportes de Santa Helena. Disse ainda que há décadas participa do Lions Club de Santa Helena, pelo qual foi secretário e presidente desse clube de prestação serviços sociais; colaborou com a Igreja Católica Santo Antônio, ocupando o cargo de secretário da Paróquia quando pároco o Padre Gringo (in-memorian).

Sobre a vida pessoal, professor Osmar chegou solteiro em Santa Helena, no entanto, já era noivo da então senhorita Zelma, que residia em Japurá. Casaram-se no dia 23 de julho de 1977 em Japurá. Deste enlace matrimonial tiveram dois filhos: Leandro Manieri Carlesso e Adriana Manieri Carlesso. Ambos nasceram em Santa Helena Paraná.

A respeito da Sra. Zelma, além de cuidar dos afazeres do lar, tem como profissão costureira. Atende aos clientes na residência do casal e realiza costura em geral. Nas gestões administrativas dos prefeitos: Júlio e Silom ministrou aulas de corte/costura aos munícipes santa-helenenses. Auxilia de forma voluntária nos serviços da Igreja Católica Santo Antônio, nas festas do Padroeiro e encontros de noivos.

Quantos aos filhos do casal, Leandro estudou na Escola Municipal Marechal Deodoro – Ensino Fundamental Séries Iniciais (1º ao 5º Ano) e Escola Estadual Graciliano – Ensino Fundamental Séries Finais (6º ao 9º ano). Iniciou e concluiu o Ensino Médio no CEFET de Medianeira. Cursou a Faculdade de Medicina em Presidente Prudente (SP), ao concluí-la, especializou-se em Cardiologia. Atualmente trabalha na área de formação no município de Santa Fé do Sul (SP). Casado, pai de um filho: Elzo Manieri, com nove anos de idade; Adriana frequentou os bancos escolares de Santa Helena nas seguintes escolas: Marechal Deodoro (Ensino Fundamental Séries Iniciais) e Santo Antônio (Ensino Fundamental e Ensino Médio). Formação Superior, Faculdade de Psicologia em Umuarama (noroeste do Paraná). Trabalha 20 horas pela Prefeitura de Japurá atendendo como Psicóloga e atende clientes numa clínica particular na cidade de Umuarama, local de sua residência. 

Mensagem:

“Agradeço ao Professor Osmar e esposa Senhora Zelma, por acreditarem no trabalho de registo que desenvolvo em prol da memória historiográfica do povo santa-helenense e  diante disso descreveram a trajetória histórica que já viveram ao longo de suas existências, com destaque à história dos quarenta e um anos vividos no município de Santa Helena, Paraná. Tenho convicção que o exemplo de luta e determinação que desempenharam e ainda continuam desempenhando, sejam elas, atividades sociais (voluntárias) e/ou profissionais na comunidade, demonstrado neste documentário, certamente servirão para encorajar as gerações do presente e futuras a prosseguir lutando à favor do bem-estar desta sociedade”. Professor João Rosa Correia.

















































































João Rosa Correia