Música

25.09.2013

CARTA DE UM MÚSICO AO PÚBLICO

Estive pensando, que palavras usar para exprimir o sentimento de dor que sinto ao me confrontar com situações musicais amedrontadoras, como defender a música pornográfica aos ouvidos e que põe em dúvida a inteligência humana que, segundo cientistas, nos difere de outros animais. Me deparei com as belas palavras do músico Teko Laccovic publicada em seu blog (http://blogdotekuh.wordpress.com/2013/09/23/carta-de-um-musico-ao-publico/) e percebi que nada mais de minha autoria precisava ser dito. 

Publicado em 23 de setembro de 2013 por tekolacovic

 

 

"A vida de um músico regular, sem padrinhos, “longe demais das capitais” e movido unicamente por uma paixão incessante e misteriosa de simplesmente tocar e atingir pessoas com esses sons, muitas vezes demonstra seu sorriso após longos períodos de cara fechada.

O primeiro obstáculo é a luta ilógica de se vender algo que não se vende, simplesmente.

Em meio a pobre consciência de uma sociedade que consome música diariamente, mas quede maneira paradoxal e frequente nos indaga: “Você tem esse hobby pra complementar a renda do seu emprego?”, espaçados entre as pechinchas quase sempre imorais na hora do acerto do cachê, divididos pelo massacre midiático de músicas apelativas e desconstruidoras, abafados pela indiferença governamental à arte, estão os êxtases que surgem da execução perfeita daquele tema que sempre encantou, numa salva de palmas espontânea, pela vista de um bar de cadeiras vazias e cheio de corpos eretos, cantantes e dançantes… Pelo grandioso, simples e inexplicável ato de ser ouvido.

A mesma sociedade que fere com o mais cortantes dos objetos o coração de toda uma classe apaixonada, tem o poder de alimentar essas mesmas paixões com o mais primitivo dos impulsos humanos: interação. A música – obviamente – é um impulso genuinamente interativo e sua chama só é alimentada pelo público.

Então a vocês, pessoas que naturalmente tem os ouvidos agraciados por qualquer linguagem musical, aqui vai um apelo: Precisamos de ouvidos. Não falo representando os músicos apadrinhados, que vendem – antes de qualquer coisa – seus corpos esculturais e trazem como brinde alguma canção de conteúdo raso, repetitivo e de temática instintiva. Falo aqui em nome daquele profissional conhecido do seu conhecido, que rala estudando, dando aulas, carregando os instrumentos no lombo e cantando para a digestão de senhores endinheirados pra conseguirem fazer a próxima digestão e assim, de maneira tão estranha, tentar “viver dignamente”. Falo em nome daqueles que escrevem músicas com temáticas reais e relevantes e têm de engolir a frustração de serem calados pela hipnotizante repetição de recortes musicais “poetizados” de maneira igualmente repetitiva por frases como “Ela corre na beira da praia e bate o bumbum n’água e bate o bumbum n’água”. Eu falo representando a classe que aposta no seu potencial humano, público. Porque essa classe geralmente aposta pra perder, se obrigando, assim, a alimentar esse mesmo mercado improdutivo por simples instinto de sobrevivência, tornando você – cada vezmais – parte de um rebanho de artisticamente idiotas.

O que pedimos? Seus ouvidos, seu reconhecimento, seu humanismo. Um pequeno esforço cerebral de uma sociedade que desconhece a própria história e assassina, assim, o próprio futuro.

E mais do que tudo, gostaríamos de agradecer a você que hoje é uma exceção. A você que participa do movimento dialético de apoio aos movimentos artísticos e recebe de volta uma arte melhor, uma arte consonante e contemporânea, uma arte VIVA.

Por favor, doem um pouco mais seus ouvidos e suas mentes para aqueles que são – e sempre serão – seus semelhantes.

Por favor, cantem pensando."

Debora Schnorr