O Andarilho

21.12.2011

A VIDA NO OÁSIS DE SIWA

A vida no oásis de Siwa, no noroeste do Egito, voltou rapidamente ao normal após a partida da jovem egípcia, motivo de tanta confusão, intriga e ciúmes entre os habitantes dessa pequena cidade isolada pelo tempo e deserto. Cidades pequenas são parecidas em qualquer parte do mundo, a fofoca espalha-se sempre na mesma velocidade mas as mudanças causadas pelos choques de culturas em Siwa parecem andarem no mesmo ritmo das suas carroças puxadas ainda por burros. Lá  mulheres mostram seus rostos apenas para seus maridos ou filhos e homens são condenados a chibatadas se não possuírem dinheiro suficiente para reparar seus erros. Melhor comportar-se nesses lugares se você estiver viajando sem muito dinheiro.

 

“Eita vida besta”, diria o poeta. Mesmo assim, sem perceber, acabei seduzido pela preguiça que contagia o lugar e uma semana inteira passou em apenas um piscar de olhos. Passei dias conhecendo pessoas nos cafés da cidade ou me perdendo pelos pequenos caminhos cercados por plantações de tâmaras ou olivas que cobrem essa pequena região. As tâmaras maduras são ainda abundantes no local e trabalhadores colhem-nas no interior das matas que possuem ainda palmeiras centenárias. Pequenas carroças puxadas por burros chegam até as estradas principais carregadas com caixas cheias dessa preciosa fruta, tão cara para nós brasileiros mas aqui oferecida gratuitamente como votos de boas vindas. As olivas maduras parecem também tão apetitosas mas, quem já provou uma colhida diretamente da árvore, nunca mais o fará pois seu gosto é insuportável.

 

Buscando um pouco mais de emoção, mas sempre tentando ficar o mais longe possível de qualquer delegacia de polícia, resolvi visitar alguns dos fantásticos templos espalhados nas margens do Nilo, no sul do Egito. A história dessa antiga civilização não para de me surpreender e hoje consigo entender melhor do porquê de tantas capas da National Geographic virem estampadas com o tema. Após ter conhecido tantos lugares diferentes no mundo, ao contemplar sua arte e arquitetura, eu paro e duvido muitas vezes da história da evolução da cultura humana.

 

Antes de chegar na cidade de Luxor, fiz uma pequena parada na capital. As coisas por lá permanecem tensas e o futuro do Egito continua incerto com uma onda de pessimismo começando a tomar conta após a euforia da revolução que destituiu uma ditadura de mais de 40 anos. Presenciei uma cena na rua que demostra como as coisas estão fugindo do controle. Uma confusão, causada por um acidente de trânsito, acabou resultando na depredação de um carro por um grupo de jovens. Os poucos policiais no local puderam apenas assistir a cena sem esboçar qualquer reação. Na praça Tahrir, a apenas 5 min do local, cerca de 10 pessoas morreram nos últimos 3 dias de confrontos com a polícia. Naquele mesmo dia, o líder do exército, em uma declaração para a imprensa, deu um ultimato aos manifestantes dizendo que não vão mais tolerar nenhum tipo de ataque a órgãos públicos da cidade.

 

Em Luxor, as coisas andam mais tranquilas e o tempo esculpido na pedra, alheio aos últimos eventos do país, continua trazendo ao visitante aquela sensação de fascínio diante do esplendor do Egito antigo. Visitei ontem o templo de Karnak, provavelmente o maior complexo arquitetônico do mundo voltado ao Deus ou deuses que governam a vida dos homens. O conjunto de esculturas, pinturas, alto-relevos, colunas e templos é realmente fascinante. É possível perder-se no tempo admirando cada detalhe sempre rico em história e simbologismos.

 

Um que chama a atenção é um alto-relevo de um homem com apenas um braço, uma perna e um grande pênis ereto. Uma figura que não atrairia muita atenção em templos antigos na Índia mas aqui o fato fez com que eu dedicasse algum tempo na internet para descobrir a história dessa imagem. Conta a lenda que um faraó, ao partir para a guerra, deixou um ancião como responsável por suas mulheres no palácio. Ao voltar, todas, com exceção da mais feia, estavam grávidas. Ao descobrir desta que o responsável era o ancião, o faraó em um acesso de raiva, mandou cortar uma perna e um braço abandonando-o após no deserto. Anos mais tarde, todos os seus filhos tornaram-se grandes guerreiros e ajudaram na vitória de importantes batalhas e alguém resolveu homenagear o genitor de tão heroica prole.

 

Desejo a todos os meus leitores um ótimo natal e um próspero ano novo. Muitas felicidades em 2012 e que esse não seja realmente o último ano da história do homem como andam dizendo por aí. Vou passar o natal na península do Sinai, a apenas 400kms da cidade de Belém, em Israel que será o próximo país que irei visitar. Quem sabe chegarei ainda a tempo para presenciar a vinda dos 3 reis magos. Quem quiser acompanhar minha viagem e ver mais fotos e comentários pode fazer isso através da minha página no Facebook (www.facebook.com/walkertravels).

 

Um grande abraço e até o ano que vem.

 
Paisagens incríveis no oásis de Siwa.

Esfinges com a imagem de Amon-Rá, o deus sol do Egito antigo.

O magnífico templo de Karnak.

Edson Walker