Cotidiano

15.02.2016

70 CENTAVOS

Encontrei Valter remexendo na lixeira em frente ao prédio onde ficamos por alguns dias no carnaval em Capão da Canoa, cujo apartamento me foi cedido gentilmente pelo primo Osmar, desfrutando da companhia de sua família.

Valter me disse ter uns 27 anos e que mora na rua desde que abandonou a família ou foi abandonado por ela.

Catando lata, papelão e plástico, circula pelas ruelas daquela bela cidade, contrastando com a beleza aparente dos passantes, doirada pelo sol intermitente.

Ao lado do seu carrinho de fabricação própria, o Lobo, cachorro de estimação que às vezes, guarda uma distância de uns 20 metros dele, só observando o dono.

- De dia dá pra pisar nele que não faz nada, mas à noite, quando armo a minha barraquinha, ele vira um feroz cão de guarda.

- Você tem um ponto fixo pra dormir?

- Não, vario sempre. Já que não tenho casa, pra que ficar no mesmo lugar?

- Quanto pagam pelo quilo do plástico?

- 70 centavos!

Puxei uns trocos que estavam no bolso de meu short.

- Toma, pelo menos uns 15 quilos pra ti.

- Muito obrigado e que Deus nunca lhe deixe faltar nada...

E ali se foi o Valter empurrando seu carrinho, acompanhado pelo Lobo, que mais tarde lá estará para lhe proteger.

Alexandre Carvalho/ Fotoarena Alexandre Carvalho/ Fotoarena

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