Cotidiano

09.07.2008

1ª QUINZENA JULHO 2008

No paraíso dos royalties, o inferno da violência

Ironia do destino

"Se você der uma boa olhada, verá que aqui há lugares muito bonitos para morar", diz Vendelino Royer. O prefeito anda por qualquer lugar da cidade a pé. Dispensa a guarda que o cargo lhe assegura. Pode ser achado aos domingos "num barquinho", no meio do lago. Os filhos saem à noite sozinhos. A família dorme de janelas abertas. Em suma, cuida de "um município que não deve se preocupar muito em crescer".

Fonte

Esta matéria eu vi numa revista chamada "Piauí" da Editora Abril, ao pesquisar algo mais sobre o prefeito que sucumbiu ante a um violento atentado. A revista trata sobre temas diversos e não é do estado homônimo, sendo que é editada em São Paulo. Além das frases atribuídas ao prefeito, a revista fez uma matéria sobre outros aspectos da pequena e tranqüila (sic) Itaipulândia.

Casa com jardim

Quando largou o seminário, o prefeito morou numa favela de Porto Alegre. Não tem boas lembranças do Rio de Janeiro, desde a semana de férias que passou, na casa de parentes, em Parada de Lucas, autêntica praça de guerra entre quadrilhas que disputam a Baixada Fluminense. Agora, governa uma cidade cujo plano diretor limita a quatro andares o gabarito dos edifícios de apartamentos. Só um prédio residencial alcançou esse teto. E, se não dependesse da comissão municipal de desenvolvimento urbano, que concede as licenças, mas da opinião pessoal de Royer, nem ele existiria. O prefeito torce pela casa com jardim.

O que pensar?

Quando vi o corpo estatelado de Vendelino no caixão sobreposto no espaço do centro catequético onde ele deve ter até ministrado catecismo, passei a imaginar o que passava pela cabeça de um homem de 45 anos de idade que não seria mais candidato e que por certo planejava um futuro menos conturbado junto à sua família. O sonho acabou na noite fatídica de oito de julho.

Repensar

A violência continua permeando pelos recantos da fronteira molhada. Mas agora mataram um prefeito. Imaginem só os pobres mortais, que tipo de segurança podem eles esperar? Chegamos ao fundo do poço e parece que todo mundo fica de mãos amarradas. Gente desconfiada, com medo, desiludida e até sem perspectivas. "Mataram o prefeito, o que posso esperar!" exclamava um morador testemunhado pelo editor deste correio!

Entusiasta

Conheci o Vendelino no primeiro grande comício na campanha de 96 quando fui convidado para apresentar os eventos da política em Itaipulândia. Ele era candidato a vereador e foi o que mais me chamou atenção. Seus discursos entusiásticos arrebatavam a audiência. Via que ali não estava somente um vereador. De fato, foi secretário e depois prefeito, mantendo o mesmo estilo irrepreensível de passar suas mensagens. Um tribuno inconteste que foi calado pela violência.

Ponto de honra

Sem dúvida, vai virar ponto de honra para a polícia, para a justiça, a descoberta de toda a trama que culminou com a morte do prefeito de Itaipulândia. É salutar que isso aconteça para tranqüilizar pelo menos um pouco, a população aflita com a ousadia da violência.

Elder Boff