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Quarta-feira, 11 de Setembro de 2024

Thiago Maia retrata papel de Roger em nova fase do Inter, aponta objetivos e promete luta do grupo

Volante concede entrevista exclusiva, valoriza chegada de D'Alessandro e elogia Fernando e Gabriel Carvalho

As conversas do técnico Roger Machado com o elenco do Inter são alguns dos fatores que ajudaram a construir o atual momento do Inter se reerguer na temporada. O volante Thiago Maia detalhou a nova fase do clube gaúcho, prometeu dedicação e pegada na reta final do ano e estipulou o objetivo de estar o mais alto possível na tabela do Brasileirão.

Thiago Maia contou que Roger usa as conversas no dia a dia para mobilizar o grupo. Um dos pedidos constantes é a entrega, algo que casa com o estilo do volante colorado. Ainda assim, o camisa 29 desfruta de maior liberdade para avançar a partir da parceria com Fernando.

O carrinho, como o dado na área do Juventude que resultou em gol será visto outras vezes. O sorriso que o acompanhou ao longo da entrevista na tarde de segunda-feira passa a leveza e confiança para a sequência do trabalho.

– Sempre queremos colocar o time lá em cima. Fazer um bom Brasileirão, entregar o que a torcida merece. Peço que não desistam. Eu posso estar mal tecnicamente, mas sempre me doarei como se fosse o último prato, como diz o Roger. A fotografia é estar na melhor parte da tabela possível – explicou Thiago Maia.

Confira trechos da entrevista:

ge - Como avalia o seu momento no Inter?
Thiago Maia
 - O início foi bem difícil pelo vai, não vai. Eu já tinha dado a palavra que viria. Tanto o Braz (Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo) quanto o Tite sabiam. Foi a realização de um sonho. Sempre foi muito difícil enfrentar o Inter, ainda mais aqui no Beira-Rio. Agora estou mais leve, solto, ambientado. Conheço todo mundo, a cidade.

E o momento atual do time?
Temos pontos positivos. O Roger tem conversado muito conosco, seja com o grupo, seja individualmente. Ele se preocupa em deixar tudo bem explicado. Isso tem sido notório nos jogos. Nos treinos, ele para bastante e tenta passar a ideia. Tem dado certo.

Qual a diferença entre o trabalho do Coudet e o do Roger?
Primeiro a língua (risos). O Coudet é um cara bastante inteligente, mas, no Brasil, o treinador vive de vitórias. Elas não estavam vindo. O Coudet foi um cara que brigou pela minha vinda. Em uma das últimas entrevistas que dei, foi mal interpretado o que falei sobre a questão física. O método de trabalho era diferente. Ambos são excelentes treinadores, que tentam dar o máximo. Com o Coudet, ali no fim, os resultados positivos não estavam vindo. Infelizmente, é o futebol.

Com o Roger, você tem atuado como segundo volante, com o Fernando de primeiro. Sente-se confortável nessa posição?
Minha característica é de primeiro volante de marcação, mas o Roger encontrou esta forma de eu chegar mais próximo à área. Consigo chegar, finalizar, dar um passe. Tem dado certo. Treino muito e ele me cobra para pisar na área. E temos um grande jogador para atuar de primeiro, o Fernando, que dispensa comentários. Por onde passou, como joga, a experiência. Quando perdemos a bola, vemos o Fernando e ficamos despreocupados porque ele sabe os atalhos.

Falando em pisar na área, você deu uma assistência para o gol de Gabriel Carvalho contra o Juventude. E antes, marcou gol também contra o Juventude. O que deu mais prazer?
Fico feliz pelo Gabriel, que vive um grande momento. Fazer parte do primeiro gol dele no profissional, uma realização de um sonho. Não é à toa que ele foi para a seleção (sub-20). É da casa, muito prazeroso. Mas, prefiro o gol. No carrinho, a minha característica, roubar a bola e fazer. Foi engraçado. Até comentei com o Tabata. Roubei a bola e fiquei: "E agora? Faço o quê?". Chutei e fiz o gol.

Como é a conversa que vocês têm com o Gabriel?
Ele é um moleque muito tímido. Nem sei se aparenta aos outros. Conversa pouco. Quando tentamos falar com ele, às vezes, nem o ouvimos. Digo que hoje ele é um pequeno homem. Cresce a cada jogo, a cada treina. Mostra seu valor e se firma. Contamos muito com ele. Daqui a um tempo realizará o sonho de jogar na Europa, não sei... Espero que possa continuar muito tempo conosco para nos ajudar.

Você ficou marcado no período da enchente por participar dos resgates. O que te motivou a ir para a linha de frente?
Vi de perto muitas pessoas que perderam tudo o que construíram em 30, 40 anos. Mortes de pessoas, animais, as casas... Quando ficamos o período concentrado em Itu, no terceiro dia liguei para minha mãe e disse que achava que não dava mais, que estava pesado. Não conseguia treinar direito. Lembrava o que povo estava passando. Quando cheguei, fui muito bem recebido e criei um carinho muito grande pelo Rio Grande do Sul. Não quis ajudar para aparecer, mas, quando estava em casa, algo me incomodava. Estava tudo bem comigo, sem ser afetado. Comprei alimentos, depois fui com o pessoal na igreja. Comprei um jet-ski, depois um barco. Meus pais sempre disseram que, quando eu pudesse, deveria ajudar. Me ajudaram lá atrás. Pensei na minha família lá em Roraima, como seria? Aos poucos, fui me erguendo. Meus pais e o Coudet me ajudaram. O próprio pessoal do Inter.

Thiago Maia pelo Inter

  • 21 partidas
  • 19 jogos como titular
  • 1 gol
  • 1 assistência
  • 2 cartões amarelos
  • 1.507 minutos em campo

Uma foto sua, carregando uma senhora nas costas e com água até o peito, viralizou nas redes sociais e foi notícia em todo o Brasil. Como foi esse resgate? Já conseguiu encontrar com ela depois disso?
A dona Evair (Gomes Carneiro), ainda não consegui vê-la. Ela foi a um jogo, mas eu adoeci e não nos encontramos. Falamos por WhatsApp. Que ela possa vir e seja um amuleto para nós. Ela é brincalhona. Me disse que já tinham tentado resgatá-la quatro vezes. O celular dela descarregou e ela não conseguia falar com o filho. Eu pedi para ela dar o número, mas ela não sabia o número. Peguei uma bolsa onde tinha os contatos e falei que estava com ela. Depois ele soube quem eu era. O importante é que ela está bem. Ela até me prometeu fazer um bolo. Estou devendo uma visita (risos).

Durante o período de treinos na PUCRS, vi uma torcedora o chamar de herói. Como é ser reconhecido assim?
Não tenho esse apego. Tinham muitos civis ajudando. Sou uma figura pública e a repercussão é maior. Quando fui a restaurantes, me agradeceram, mas fui só uma parte. Muitas pessoas ajudaram. Fico feliz, mas não quero esse título de herói. Quero ser conhecido como o jogador que conquistou títulos no Inter. Quero ser lembrado desta forma.

E como foi voltar a jogar no Beira-Rio depois de tudo o que aconteceu?
Quando você está contra é muito difícil. O meu primeiro jogo como titular pelo Santos foi aqui e eu caí no "La Boba" do D’Ale. Era novo e ficou marcado. A torcida do Inter sempre apoia. O estádio é um dos mais bonitos. O campo nem se fala. Estar a favor é muito gostoso. Você vê a família, a torcida cantando. Estávamos devendo, mas agora estamos em outra situação. O estádio cheio nos ajuda. Espero ter histórias boas aqui dentro.

O D'Alessandro, aliás, agora é dirigente. Como é a relação com ele?
Pelo tamanho que tem no clube, fico até meio tímido em falar com ele. É um cara vitorioso, um ídolo. Tento conversar, olho para ele. Sempre pergunta se precisamos de algo. Veio para somar e tem dado certo.

Depois de um início turbulento com o Roger, o time mostrou evolução. O que a torcida pode esperar nos próximos jogos?
Cada jogo como se fosse uma guerra. Quarta será muito difícil. O Fortaleza está brigando lá em cima, mas jogaremos com a nossa torcida. O Beira-Rio é diferente. Esperamos conseguir um resultado positivo. Sei que no início do ano tinha uma expectativa grande, mas muitas coisas ocorreram. Estamos nos reerguendo. Treinamos e nos doamos para caramba. Estávamos devendo. Que a gente consiga manter esta sequência.

Libertadores ou Sul-Americana. Qual será a briga do Inter no restante do Brasileirão?
É jogo a jogo. Temos um jogo difícil na quarta (contra o Fortaleza). No início do ano, os objetivos eram muito diferentes dos de hoje. Esperamos chegar na parte de cima. O Inter não pode ficar fora da Libertadores, Copa do Brasil, Sul-Americana. Eu queria (terminar o ano) com o título. Sempre queremos colocar o time lá em cima. Fazer um bom Brasileirão, entregar o que a torcida merece. Peço que não desistam. Não jogamos para perder. Eu posso estar mal tecnicamente, mas sempre me doarei como se fosse o último prato, como diz o Roger. A fotografia é estar na melhor parte da tabela possível.

G1