Internacionais | Piadas preconceituosas

Terça-feira, 29 de Outubro de 2024

Piadas preconceituosas em comício não ajudam Trump

Resultado da eleição depende da disposição de eleitores de relevar o que os desagrada em nome da economia e imigração

A extensão do dano causado pelas piadas preconceituosas do comediante Tony Hinchcliffe, no comício de domingo (27) de Donald Trump em Nova York, depende de um fator decisivo dessa eleição: até que ponto os eleitores estão dispostos a relevar esses aspectos do candidato republicano em nome da expectativa de que com ele a economia pode melhorar.

No palanque, Hinchcliffe chamou Porto Rico de “uma ilha flutuante de lixo”, disse que os latinos “amam fazer bebês”, repetiu uma velha piada que relaciona os negros com o hábito de comer melancia, para sugerir que eles são preguiçosos e “primitivos”, chamou os palestinos de atiradores de pedras e os judeus, de sovinas.

O cantor porto-riquenho Ricky Martin, uma celebridade entre os latinos, declarou: “Isso é o que eles pensam de nós”. E pediu voto para Kamala Harris.

As piadas, sobretudo em relação aos porto-riquenhos, pegaram tão mal que motivaram algo raro: a campanha de Trump veio a público se justificar. Um comunicado assinado por Danielle Alvarez, assessora da campanha, afirmou que elas “não refletem as visões do presidente Trump ou da campanha”.

Os moradores de Porto Rico, um estado americano no Caribe, não têm direito de votar na eleição presidencial. Mas os porto-riquenos que moram no continente têm, e eles são cerca de 5,8 milhões, dos quais, 3,3 milhões registrados como eleitores.

O voto latino, em geral, é bastante cobiçado. Ele representa cerca de 15% dos eleitores nos Estados Unidos, aproximadamente 36 milhões de pessoas. A Pensilvânia, o estado-pêndulo com o maior número de cadeiras no Colégio Eleitoral, 19, tem quase 600 mil eleitores latinos, o que representa 6%. No mesmo estado, 11% dos eleitores são negros. Em uma eleição tão disputada, esses votos podem fazer falta.

As pesquisas mostram que as principais preocupações dos eleitores são o alto custo de vida, os rumos da economia e o fluxo de imigrantes ilegais. E a maioria considera que Trump lida melhor com essas questões do que Harris. Entretanto, as mesmas pesquisas dão vantagem a Harris, ainda que dentro da margem de erro.

A explicação para esse aparente paradoxo é a alta taxa de rejeição a Trump. Essa rejeição por sua vez é motivada pelas atitudes de Trump com relação a uma ampla gama de fatores, incluindo sua linguagem divisiva e preconceituosa e seus ataques às instituições democráticas.

O que decidirá essa eleição será a disposição dos eleitores que rejeitam essas características de Trump em votar nele assim mesmo por acreditar que a economia e a contenção da imigração, por exemplo, melhorariam sob seu governo.

CNN