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Quinta-feira, 20 de Novembro de 2025

Homens negros têm três vezes mais chances de morrerem baleados, diz estudo

Segundo o relatório do Instituto Sou da Paz, 80% dos homens mortos por arma de fogo são negros; regiões Norte e Nordeste lideram as taxas de homicídios

Um estudo divulgado pelo Instituto Sou da Paz nesta quinta-feira (20) aponta que homens negros têm três vezes mais chances de serem mortos por armas de fogo do que homens não negros no Brasil. Segundo o relatório “Violência Armada e Racismo: O papel da arma de fogo na Desigualdade Racial”, esse número corresponde a uma taxa de 211%.

A quarta edição do estudo destacou que, embora o número total de homicídios tenha apresentado uma queda, a violência armada permanece em níveis constantes e atinge, majoritariamente, os homens — que representam 94% das vítimas.

O estudo, feito com base nos dados oficiais do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade) e do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), analisou os registros de homicídios entre 2012 e 2023 e os registros de violência armada não letal até 2024.

De acordo com a pesquisa, os jovens de 20 a 29 anos concentram as maiores taxas de mortalidade, com 81,2 mortes a cada 100 mil homens, número três vezes maior do que a taxa observada entre adolescentes e quatro vezes maior do que entre os mais velhos.

Além do gênero e da idade, o estudo aponta que a raça é um fator relevante, dado que 80% dos homens mortos por arma de fogo são negros.

Segundo o relatório, as regiões Norte e Nordeste lideram as taxas de homicídios. Em 2023, somente o Nordeste concentrou quase metade das mortes de homens causadas por armas de fogo, sendo a maior taxa do país com 55,8 mortes a cada 100 mil homens. Dessas vítimas, 90% eram negras.

A região Norte, marcada por conflitos fundiários e ambientais, garimpo ilegal e disputas entre facções, aparece ocupando o segundo lugar, com 45,75 mortes por 100 mil homens. Na sequência, o Sudeste concentra 20% dos homicídios, mas com a menor taxa entre regiões (15,3 por 100 mil).

A pesquisa mostrou ainda que o Sul também tem taxas relativamente menores (19,6), sendo a única região onde existe a predominância de vítimas não negras (66%).

Estados e capitais mais violentos

Segundo a pesquisa, estão entre os estados com os maiores números absolutos de homicídios armados, desde 2012:

  • Bahia: 5.209 homicídios armados registrados;
  • Pernambuco: 2.810 homicídios armados registrados;
  • Rio de Janeiro: 2.596 homicídios armados registrados.

No entanto, ao observar a taxa de homicídios por 100 mil homens, o Amapá lidera o ranking (111,5), seguido da Bahia (73,2), Pernambuco (62), Alagoas (58) e Ceará (52,8). Já nas capitais, os piores índices são em Macapá (123,5), Salvador (107,5), Recife (74,4), e Maceió (72,9).

A pesquisa aponta que, "ao contrário do que costuma ocorrer com os feminicídios, os locais públicos são onde a maioria das mortes de homens por arma de fogo acontecem."

Em 2023, 49% dos homicídios masculinos aconteceram em ruas ou estradas, enquanto as casas representaram 11,6% dos locais de crimes (onde a proporção e incidência costuma ser maior entre idosos). Ainda que ruas, estradas e casas registrem essas porcentagens, a pesquisa observou que uma parcela dos locais onde os crimes acontecem não são especificados (26%).

Entre 2012 e 2024, mais de 58.500 notificações de violência armada contra homens foram registradas no sistema de saúde, sendo 5.605 notificações apenas em 2024, número que corresponde a um aumento de 59% em três anos.

Segundo a pesquisa, assim como na violência armada letal, a maioria das vítimas, são homens negros, e a rua é o principal local onde os crimes acontecem, sendo que 50% das vítimas são negras e 44% não negras.

Para Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, é preciso reconhecer a realidade por meio dos dados analisados na pesquisa. "É preciso investir na prevenção dos fatores da violência armada, controlando a disponibilidade de armas de fogo na sociedade brasileira, tanto no mercado legal quanto no enfrentamento ao seu tráfico ilegal, ponto de partida fundamental para que as políticas públicas de segurança democráticas sejam bem-sucedidas”, apontou a diretora-executiva.

CNN