Notícias da Região | Saúde
Domingo, 18 de Maio de 2025
Fumar, beber e ser sedentário: quando as consequências dos maus hábitos começam a surgir?
De acordo com especialistas, comportamentos na idade adulta geram consequências diretas no processo de envelhecimento.

Em que momento a vida começa a cobrar pelos hábitos que tivemos ao longo dos anos? A pergunta pode parecer profunda, mas um estudo finlandês apontou que essa conta pode chegar muito antes do que se pensava, já aos 36 anos.
Clique aqui para participar de um dos nossos grupos no WhatsApp
De acordo com os pesquisadores, seria a partir dessa idade que o corpo passaria a sentir as consequências negativas de práticas como beber, fumar e não praticar exercícios físicos.
Mas especialistas ponderam que é preciso colocar os dados em perspectiva e entender que, em alguns casos, os efeitos nocivos podem aparecer até antes dessa idade.
"Não é um número exato para a maioria das pessoas e não significa que pode ser interpretado como 'posso beber, fumar e ser inativo fisicamente à vontade até chegar aos 36 anos e nessa idade eu tenho que mudar, planejar o envelhecimento' ", alerta Marco Túlio Cintra, geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Para os médicos, apesar das ressalvas sobre a idade extremamente específica determinada pela pesquisa (entenda mais abaixo), o estudo reforça uma mensagem importante: os hábitos na idade adulta geram consequências diretas no processo de envelhecimento.
Fim da linha aos 36 anos?
Lúcia Sales, pneumologista e coordenadora da Comissão Científica de Epidemiologia da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), explica que a afirmação da idade vinda do estudo vem, na realidade, da metodologia utilizada.
A pesquisa, feita por um grupo de estudo finlandês, foi publicada na revista científica "Annals of Medicine" em abril de 2025. O levantamento utilizou dados coletados de voluntários em diferentes idades – 27, 36, 42, 50 e 61 anos – sobre hábitos como tabagismo, consumo de álcool e prática de atividade física.
O objetivo era entender como esses comportamentos considerados de risco se acumulam ao longo do tempo e quais são suas consequências para a saúde a longo prazo.
Entre os principais impactos negativos, os pesquisadores identificaram aumento dos sintomas depressivos, redução do bem-estar psicológico, piora na autoavaliação da saúde e alta no número de fatores de risco metabólicos.
"Como observado na discussão do artigo, o assunto é complexo e multifatorial. [...] Em grande parte, os efeitos dependem da carga de exposição e do tempo de uso", explica a pneumologista.
Marco Túlio ainda lembra que a análise se trata de uma média observada de quando os efeitos negativos começam a aparecer – ou seja, essa idade pode variar muito de acordo com o comportamento de cada um ao longo da vida.
"O que acontece quando envelhecemos é um resultado do acúmulo das consequências dos maus hábitos sobre o organismo", pontua o geriatra.
Sem hora para a contar chegar
Os especialistas explicam que não existe uma idade exata em que o corpo começa a sentir as consequências dos hábitos construídos ao longo da vida.
Lúcia Sales comenta que o prazo para esses impactos acontecerem é variável, tanto para a idade como para o tipo de patologia decorrente da rotina que a pessoa tem.
"Por exemplo, na questão do tabagismo, o risco acontece a partir de um coeficiente chamado anos/maço: a partir de 10 anos/maço, maior o risco para desenvolver doença pulmonar obstrutiva crônica; a partir de 20 anos/maço, maior risco para câncer de pulmão", detalha a pneumologista.
Ela ainda afirma que, assim como o tabagismo, o etilismo e o sedentarismo são conhecidamente fatores de risco para maior mortalidade, além de comprometer a qualidade de vida das pessoas.
"Não há uma idade certa [para começar a sentir os impactos]. A mensagem é, quanto mais cedo se preocupar com hábitos saudáveis de vida, melhor", analisa o geriatra Marco Túlio Cintra.
Quando começar a mudar os hábitos?
Ainda que não haja uma idade certa para que os efeitos negativos sejam sentidos – e que as consequências ao longo do envelhecimento vão depender diretamente do comportamento durante a vida adulta – os especialistas recomendam que algumas práticas devem ser repensadas o quanto antes.
Eles explicam que também não há uma idade certa para que o cuidado com a saúde comece e que os bons hábitos devem ser cultivados desde a juventude.
"Com relação à idade em que a pessoa deve começar a cuidar desses hábitos, a resposta é ontem. Quanto antes melhor", aconselha Cintra.
Entre as medidas para se ter um envelhecimento saudável, eles destacam:
- Priorizar uma alimentação saudável, reduzindo ao máximo a ingestão de alimentos processados e evitando excessos de sal e açúcar.
- Praticar atividade física.
- Procurar dormir para realmente descansar o corpo e a mente, com noites de sono reparador.
- Não fumar.
- Para quem não tem problemas com a ingestão de álcool, ter um consumo em um nível considerado sociável, eventual.
- Manter a mente estimulada de maneira saudável, priorizando atividades como ler, conversar com amigos e praticar algum hobby, por exemplo.
De acordo com os médicos, um estilo de vida saudável contribui para a diminuição no risco de desenvolvimento de doenças crônicas, redução do estresse e manutenção da boa saúde mental.
"O autocuidado, seja na prevenção de doenças ou nos pequenos atos do dia a dia voltados para o nosso próprio corpo e mente, minimiza as consequências não desejadas na evolução natural da vida", comenta Lúcia Salles.
G1