Brasil | Falta de saneamento
Sábado, 22 de Novembro de 2025
Especialista alerta para urgência do saneamento na crise climática
Cerca de 3,4 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a saneamento básico, segundo relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU). Além......
Cerca de 3,4 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a saneamento básico, segundo relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU). Além dos impactos no meio ambiente e na saúde humana, o problema agrava a emergência climática.
Em entrevista à Agência Brasil, o consultor de Água e Clima na Sanitation and Water for All (SWA), Jose Gesti, explica que enchentes, secas prolongadas, insegurança alimentar e deslocamentos forçados são sintomas da intensificação da crise hídrica e de saneamento.
Segundo ele, sem serviços resilientes de água e saneamento, os países não conseguem se adaptar à emergência climática. Cada evento ganha dimensões ainda mais extremas onde a infraestrutura urbana é falha.
Consultor de Água e Clima na Sanitation and Water for All (SWA), Jose Gesti – Foto: Divulgação/SWA
Gesti participou de eventos promovidos pela SWA na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém. A SWA é uma associação internacional ligada ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que reúne governos e sociedade civil.
A situação do saneamento básico em Belém é um exemplo de conexão entre a situação local e global do problema. A sede da COP30 está entre os dez piores municípios do país no ranking de saneamento produzido pelo Instituto Trata Brasil. Em 2025, apenas 27,51% da cidade tinha atendimento de esgoto.
Nesse sentido, o especialista defende que políticas e financiamento públicos e privados priorizem comunidades historicamente excluídas, com mais transparência e participação social.
Agência Brasil: Quais os principais desafios hoje para avançar com a agenda de saneamento básico?
Um relatório recente da ONU mostra que 2,1 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável segura, e 3,4 bilhões carecem de saneamento seguro, incluindo 354 milhões de pessoas que ainda praticam a defecação a céu aberto.
Esses não são números abstratos – representam crianças bebendo água de rios contaminados, famílias presas em ciclos de doenças evitáveis e comunidades incapazes de romper com a pobreza.
Agência Brasil: Como podemos conectar o tema com o da emergência climática?
É por isso que, na Reunião de Ministros de Setor de 2025 em Madri, defendemos o fim de abordagens fragmentadas e isoladas. Integrar água, saneamento, saúde, meio ambiente e finanças é essencial para fortalecer a resiliência e melhorar a eficiência.
Evidências mostram que cada dólar investido em água e saneamento gera múltiplos retornos, melhorando a saúde pública, a produtividade econômica e a estabilidade climática. Água e saneamento, portanto, não são temas periféricos – são centrais para a ação climática.
Esgoto a céu aberto na cidade de Belém – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Agência Brasil: Considerando que Belém enfrenta desafios históricos nessa área, que você pode ter observado durante sua estadia, em que medida a COP30 representa uma oportunidade para destacar esses temas e conectar a realidade local com os debates globais?
Os debates mostram que a comunidade global reconhece cada vez mais que, sem sistemas fortes de água e saneamento, os países não estão preparados para as pressões climáticas já em curso. Colocar água e saneamento no centro das negociações climáticas cria espaço para transformar desafios locais em prioridades globais, atrair financiamento, mobilizar iniciativas políticas e acelerar implementações práticas.
A COP30 também é uma oportunidade para dar visibilidade às perspectivas das comunidades e demonstrar soluções integradas – como projetos urbanos permeáveis, redes de esgoto resilientes e proteção de bacias hidrográficas – que reduzem impactos de desastres e fortalecem a resiliência social. Isso permite que vozes locais influenciem decisões globais, deslocando o debate de promessas para resultados mensuráveis.
Agência Brasil: Você concorda que existe uma relação direta entre o acesso desigual à água e ao saneamento e o que especialistas denominam racismo ambiental?
Jose Gesti: Ao redor do mundo, as comunidades mais afetadas pela falta de serviços adequados de água e saneamento são, de forma desproporcional, populações marginalizadas. Elas têm maior probabilidade de viver em áreas com infraestrutura limitada, maior exposição à contaminação e enchentes recorrentes, e menos recursos para recuperação. Esses padrões são resultado de décadas de investimento público desigual – não coincidência.
Quando o acesso à água potável depende de raça, geografia ou renda, não estamos discutindo apenas lacunas de infraestrutura – estamos falando de injustiça estrutural e violações de direitos humanos básicos. Essa é a expressão prática do racismo ambiental.
Para superá-lo, políticas e mecanismos de financiamento precisam priorizar explicitamente comunidades historicamente deixadas de lado, garantir transparência e responsabilização, e fortalecer o protagonismo da sociedade civil na tomada de decisões.
A equidade deve ser a base da prestação de serviços públicos – porque saneamento resiliente e inclusivo é essencial para sociedades saudáveis, seguras e prósperas.
Fonte: CGN com informações da Agência Brasil








