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Sábado, 14 de Setembro de 2024

Coreia do Norte: o que se sabe sobre o enriquecimento de urânio para produção de armas nucleares

Regime norte-coreano divulgou fotos de Kim Jong-un em instalação secreta. Especialistas dizem que país pode produzir até 18 bombas nucleares por ano.

Em um ato significativo de desafio contra os Estados Unidos, a Coreia do Norte tornou pública imagens raras de uma instalação secreta construída para enriquecer urânio para bombas nucleares. O líder norte-coreano, Kim Jong-un, exige que o país expanda rapidamente o programa de armas nucleares.

Na segunda-feira (9), Kim Jong-un afirmou que o país está implementando uma política de construção de força nuclear, o que proporcionará um aumento "exponencial" do número de armas nucleares.

O líder norte-coreano disse ainda que o país precisa ter uma presença militar forte contra as "ameaças" impostas pelos Estados Unidos e aliados.

Já na sexta-feira (13), o governo norte-coreano divulgou imagens de Kim visitando uma instalação para enriquecimento de urânio — combustível para bombas nucleares.

Veja, a seguir, o que se sabe sobre o caso.

O que aconteceu?

O jornal oficial norte-coreano, Rodong Sinmum, publicou várias fotos mostrando Kim conversando com cientistas e oficiais militares em um salão lotado de tubos cinzas. A Coreia do Norte não especificou onde a instalação está localizada ou quando Kim a visitou.

Especialistas dizem que as fotos provavelmente revelam uma sala de centrífugas em uma das duas plantas conhecidas que já haviam sido associadas a atividades de enriquecimento de urânio.

Embora se acredite que a Coreia do Norte tenha outros locais ocultos de urânio, é improvável que eles tenham sido exibidos publicamente por meio de visitas de Kim. As atividades do líder norte-coreano são monitoradas e analisadas de perto por outros países.

Yang Uk, analista do Instituto Asan de Estudos Políticos da Coreia do Sul, disse que o número de centrífugas mostradas nas fotos seria de cerca de 1.000.

Isso é aproximadamente o número de centrífugas necessárias para produzir urânio suficiente para uma única bomba — de cerca de 20 a 25 quilos — quando operadas ao longo de um ano.

Foi a primeira vez que a Coreia do Norte divulgou uma instalação de enriquecimento de urânio desde 2010, quando permitiu que um grupo de acadêmicos da Universidade de Stanford, liderado pelo cientista nuclear Siegfried Hecker, visitasse uma unidade.

Por que isso é preocupante?

Embora especialistas estrangeiros e funcionários do governo tenham analisado minuciosamente os relatos e imagens da Coreia do Norte, não ficou claro se o país estava comunicando algo significativamente novo sobre tecnologias de combustível nuclear.

Mas a notícia é um lembrete claro de uma ameaça conhecida, porém crescente. Kim continua a acelerar a expansão de programas de armas nucleares e mísseis, enquanto mantém relações cortadas com a Coreia do Sul e os Estados Unidos.

Nos últimos meses, Kim pediu várias vezes por uma expansão “exponencial” do arsenal nuclear da Coreia do Norte para combater o que ele entende como ameaças externas lideradas pelos EUA.

As fotos divulgadas na sexta-feira tiveram, provavelmente, o objetivo de demonstrar que o país tem a capacidade de produzir combustível para bombas, correspondendo às ambições de Kim, dizem especialistas.

Desde 2022, o líder norte-coreano tem acelerado a expansão de sistemas de mísseis com capacidade nuclear, incluindo armas projetadas para atingir tanto o território continental dos EUA quanto aliados americanos na Ásia.

O progresso da Coreia do Norte no programa de enriquecimento de urânio é uma grande preocupação para rivais e vizinhos. O urânio altamente enriquecido é mais fácil de ser transformado em arma do que o plutônio.

Enquanto instalações de plutônio são grandes e produzem radiação detectável, tornando-as mais fáceis de serem detectadas por satélites, centrífugas de urânio podem ser operadas quase em qualquer lugar. Isso inclui pequenas fábricas, cavernas, túneis ou locais de difícil acesso.

Especialista estimam que a Coreia do Norte poderia estar operando cerca de 10.000 centrífugas de urânio em vários locais, o que constitui o núcleo do programa nuclear do país.

A estrutura seria capaz de produzir combustível suficiente para cerca de 12 a 18 bombas por ano. Até 2027, a Coreia do Norte possivelmente terá acumulado combustível suficiente para produzir cerca de 200 bombas, segundo o especialista Yang Uk.

Diplomacia nuclear

O governo do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump teve a oportunidade de desacelerar a expansão do programa nuclear da Coreia do Norte. Em 2018, ele se envolveu em uma diplomacia de alto nível com Kim Jong-un.

No entanto, as negociações fracassaram após a segunda cúpula, em 2019. Os americanos rejeitaram as exigências norte-coreanas de um alívio significativo das sanções em troca do desmantelamento do complexo de Yongbyon.

As negociações nucleares continuam paralisadas enquanto Kim promete avançar ainda mais com as ambições nucleares da Coreia do Norte.

Especialistas dizem que o objetivo de longo prazo de Kim é forçar os Estados Unidos a aceitarem a Coreia do Norte como uma potência nuclear e negociar concessões econômicas e de segurança a partir de uma posição de força.

Alguns especularam que ele poderia tentar aumentar a pressão em um ano de eleição nos EUA, possivelmente com uma demonstração de mísseis de longo alcance ou uma detonação de teste nuclear.

Do ponto de vista dos EUA, a visita de Kim à instalação nuclear pôde ser comparada às visitas públicas realizadas pelo ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad à planta de enriquecimento de urânio do Irã. Em 2006, o país anunciou a retomada das operações, que estavam suspensas por três anos.

Após anos de negociações difíceis, o Irã e seis potências mundiais, lideradas pelos Estados Unidos, anunciaram um acordo nuclear abrangente em 2015. O tratado delineava restrições de longo prazo ao programa nuclear do Irã e a remoção de muitas sanções internacionais.

No entanto, o acordo desmoronou em 2018, quando Trump retirou unilateralmente Washington do acordo, chamando-o de “o pior acordo de todos”.

O Ocidente tem lutado para encontrar um novo acordo com o Irã, cujo programa nuclear avançado agora enriquece urânio um nível mais próximo do necessário para armas.

G1
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