Brasil | Malas trocadas

Sexta-feira, 08 de Março de 2024

Brasileiros com malas trocadas devem ficar presos por mais 75 dias à espera de audiência na Turquia

Polícia Federal enviou inocência de casal para autoridades turcas em outubro, mas caso segue sem solução

O casal de brasileiros Ahmed Hasan e Malak Treki, que teve bagagens trocadas por malas recheadas de cocaína, teve o julgamento adiado em 75 dias pela Justiça turca e deve aguardar uma nova audiência na Turquia até o dia 21 de maio.

O homem, que é líbio-brasileiro, e a família embarcaram em São Paulo no dia 22 de outubro de 2022 para Istambul, na Turquia. Depois, seguiram normalmente para a Líbia, onde moram. Já em maio de 2023, ao retornar sozinho à Turquia, Hasan foi preso acusado de tráfico internacional de drogas.

A mulher de Hasan saiu da Líbia para a Turquia para participar de uma audiência sobre o caso e foi presa. Ela também foi levada para um presídio, porque o Ministério Público local disse haver risco de fuga.

Em outubro, a Polícia Federal Brasileira alertou as autoridades turcas sobre a inocência do casal.

Audiência adiada

Uma audiência do caso aconteceu nesta quinta-feira (7). De acordo com a advogada de defesa do casal, Luna Provázio, na ocasião foram ouvidas duas testemunhas que trabalham na alfândega do aeroporto de Istambul e nenhum prova desfavorável aos acusados foi apresentada.

Ainda de acordo com a defesa, os funcionários do aeroporto relataram que não observaram atitude suspeita do líbio-brasileiro e disseram que o casal não apareceu pra buscar as malas que continham drogas e estavam etiquetadas com seus nomes.

Uma testemunha falou que ouviu boatos de que esse crime de troca de malas era comum no Aeroporto de Guarulhos, mas que não havia tomado conhecimento por meios oficiais, seja por autoridades brasileiras ou plela Interpol.

Apesar da oitiva de duas testemunhas, havia mais um funcionário listado, que não compareceu. Por isso, a Justiça optou por encerrar a sessão e marcar uma nova audiência para o dia 21 de maio.

Até lá, o casal deve seguir encarcerado em celas separadas.

O Ministério Público solicitou que um novo teste de DNA seja colhido para descartar que o casal tenha tido contato com as malas onde estavam as drogas. Essa será a segunda vez que o mesmo teste será realizado pelas autoridades turcas. O primeiro mostrou que não havia relação entre o material genético dos acusados e as bagagens analisadas.

Apelo ao Planalto

Nas redes sociais, a advogada Luna Provázio afirmou que o casal está fragilizado e com a saúde degradada, mental e fisicamente. “Estão extremamente magros”, relatou a defesa.

A defensora do casal pediu publicamente para que o presidente Lula ou alguma autoridade do primeiro escalão entre em contato com as autoridades turcas e alerte sobre essa questão humanitária.

Em publicação no Instagram, a advogada lembra que a estratégia funcionou no passado.

“No período do governo Bolsonaro o Brasil enfrentou uma questão na Rússia que foi resolvida com uma carta e uma ligação do Presidente para o Putin. O caso era de um brasileiro que foi preso na Rússia por entrar com um medicamento que era legalizado no Brasil, mas era proibido naquele país. Essa ligação entre os presidentes conseguiu solucionar o caso mais rapidamente e trouxe o brasileiro de volta ao país”, escreveu Luna.

Relembre o caso

Imagens do terminal aeroportuário obtidas pela CNN mostram a apreensão de duas bagagens com 43 kg de cocaína. Ambas foram embarcadas de Guarulhos em nome da esposa do brasileiro.

Hasan e a família não foram presos em flagrante porque as malas com a droga só saíram quatro dias depois, de Guarulhos para a Turquia, em 26 de outubro de 2022, quando eles já haviam desembarcado.

Segundo a PF, a etiqueta da mala deles foi retirada e, em vez de usar no próprio dia, a etiqueta foi guardada para usar alguns dias depois no voo onde a droga foi despachada efetivamente.

Presas na Alemanha

Em abril, duas brasileiras de Goiânia foram presas na Alemanha por conta de troca de etiquetas em malas no aeroporto de Guarulhos. A PF descobriu o caso e enviou provas para a Justiça alemã, que concedeu liberdade a Jeanne Paolini e Kátyna Baía em um mês.

Parte do processo que correu na Justiça alemã foi anexado ao caso que tramita na Turquia. A defesa do casal de brasileiros citou, inclusive, a indenização que será concedida às brasileiras.

As investigações apontam uma rede ligada a uma facção de São Paulo que usa o despacho de bagagens para envio de drogas à Europa sem conhecimento dos turistas. Ao menos dez pessoas da organização já foram presas.

CNN