Cotidiano

03.06.2015

ENXADA

Encontrei um velho amigo ontem numa instituição financeira e quando esperávamos para a chamada, fiz uma brincadeira, dizendo que a vida deveria estar boa pra ele, ostentando uma barriguinha bem saliente, não que a minha esteja tão diferente.

Perguntei a ele, na condição de agricultor, se ele pega no cabo do guatambu.

Ele respondeu que não abraçar sua enxada rotineiramente, pode dar um tédio, pois com a era do maquinário as coisas ficaram diferentes.

“Um agricultor moderno trabalha um mês por ano na lida direta, no envolvimento específico na terra, o resto é negociar, ir ao banco, ao cerealista, olhar a lavoura”, disse ele.

É claro que negociar, ir ao banco, ao cerealista, olhar a lavoura, também é considerado trabalho, mas entendi o espírito do que ele me dizia.

Por isso ele pega na enxada e repassa constantemente sua lavoura para tirar a erva daninha que insiste em permanecer, mesmo depois dos herbicidas.

“Às vezes nem amanheceu direito, já estou de prontidão para repassar a lavoura”, concluiu.

Depois que ele me disse isso, me passou um filme pela cabeça.

Não é tão incomum, quando cruzamos por extensas lavouras, ver um cidadão lá no meio, isolado, com uma enxada nas costas.

Acho que tem bastante gente que ainda trás por companheira, se contrapondo aos maquinários e herbicidas, uma saudosa enxadinha afiada.


Elder Boff