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Quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2025
Pressionada por alimentação e gasolina, inflação nos EUA acelera em janeiro
Pressionada por alimentos e energia (incluindo gasolina), a inflação nos Estados Unidos voltou a acelerar em janeiro e fechou em 3% na taxa anualizada, ante 2,9% em dezembro. A alta deve estender por mais tempo a manutenção do atual patamar das taxas básicas de juros pelo Fed (o banco central americano).
A carestia cria um problema a mais para o presidente Donald Trump, empenhado em taxar parceiros comerciais num movimento que, para economistas, pode agravar o aumento dos preços. Também causa embaraços ao Brasil, pois juros altos nos EUA indicam a valorização da moeda americana ante o real, ao mesmo tempo que investidores tendem a optar por títulos americanos em vez de papéis de economias emergentes.
Nesta quarta, 12, o mercado brasileiro já sentiu o impacto do dado americano, com queda na Bolsa, mas foi beneficiado pelo início das tratativas do presidente Donald Trump para o fim da guerra na Ucrânia, o que fez o dólar cair. O Ibovespa, principal índice da Bolsa do País, fechou em baixa de 1,69%, aos 124.380,21 pontos. Já a divisa americana caiu a R$ 5,76 (-0,08%).
Segundo o Departamento de Estatísticas Trabalhistas do governo federal dos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,5% no mês passado, acima das previsões dos economistas. Trata-se do maior aumento no período desde agosto de 2023.
Entre 2022 e 2023, o Fed aumentou as taxas de juros ao maior nível em duas décadas, quando chegou a um patamar entre 5% e 5,50%, na tentativa de conter um pico de inflação de 9,1%, registrado em junho de 2022. Hoje, o juro básico está entre 4,25% e 4,50%, após três cortes no ano passado.
Em janeiro, a autoridade monetária decidiu manter a faixa atual e não indicar mais cortes. A meta de inflação anualizada perseguida pelo Fed é de 2%.
“Não estamos progredindo na redução da inflação”, afirmou Sarah House, economista sênior do banco Wells Fargo. “E isso só deve estender a manutenção das taxas de juros pelo Fed.”
O grande vilão da inflação americana no mês passado foi o ovo, que registrou alta de 15,2%, a maior elevação mensal desde junho de 2015. Desde o ano passado, o produto já subiu 53%. Já o óleo combustível subiu 6,2%, e a gasolina, 1,8%.
Tarifas
Analistas disseram que o cenário pode piorar com a tarifa de 25% para o aço importado pelos EUA determinada por Trump nesta semana. A medida, dizem, pode aumentar o custo de carros, eletrodomésticos e maquinário industrial.
“Há um caldo de incerteza que, se durar e persistir nos próximos meses, poderá fazer com que a confiança dos empresários caia”, disse Anthony Saglimbene, estrategista-chefe de mercado da Ameriprise.
Mesmo com o número ruim, Trump voltou a pressionar o Fed ontem para que baixe as taxas de juros em sua próxima reunião, em 18 e 19 de março. “As taxas de juros devem ser reduzidas, algo que deve acontecer com as tarifas iminentes!”, escreveu ele, na Truth, sua rede social.
O presidente do Fed, Jerome Powell, não pareceu incomodado. “As pessoas podem ficar tranquilas, pois continuaremos a fazer nosso trabalho e tomar nossas decisões com base no que está acontecendo na economia”, disse Powell na Comissão de Finanças na Câmara ontem (mais informações nesta página). Segundo ele, o Fed fez um “grande progresso” para conter a inflação. “Mas ainda não chegamos lá”, disse.
Segundo economistas, taxas de juros mais baixas são improváveis no curto prazo. “A incerteza política generalizada em razão da política de comércio exterior provavelmente alimentará as crescentes expectativas de inflação para os próximos meses”, disse Joe Brusuelas, economista-chefe da RSM.
Outra iniciativa que pode piorar a inflação é a política de deportação em massa de imigrantes. Com menos força de trabalho, os salários podem aumentar e os consumidores terão de pagar por eles.
Para o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, o dado de janeiro deve ser levado em conta para as projeções de todo o ano. “Este é um solavanco bem significativo”, disse o executivo regional – alguns Estados americanos têm sua autoridade monetária e seus representantes integram o colegiado do Fed.
Reação
“Esta é uma notícia ruim para todos os envolvidos: o governo, Trump e Fed”, disse Douglas Holtz-Eakin, presidente do American Action Forum, uma consultoria conservadora.
Trump deve muito de sua vitória em novembro à inflação que incomodou quase todo o governo de Joe Biden. Ontem, o republicano disse que o índice de janeiro seria culpa do antecessor. “Presidentes recebem crédito e culpa por coisas que acontecem sob seu comando, e isso é sob o comando dele (Trump). Essa é a realidade política”, disse Holtz-Eakin.
Criticado por Trump, presidente do Fed diz que não vai renunciar
Em audiência na Comissão de Finanças da Câmara, ontem, o presidente do Fed (o banco central americano), Jerome Powell, afirmou que não vai renunciar ao cargo caso haja um pedido de Donald Trump. “Não”, disse ele, ao ser questionado se deixaria a cadeira do Fed.
Powell foi indicado por Trump, em 2017. O ex-presidente Joe Biden, em 2021, o manteve no cargo para um segundo mandato, que expira em maio de 2026.
No entanto, o republicano parece ter mudado de ideia em relação às competências de Powell para o cargo. Desde o ano passado, ele tem criticado a política monetária adotada pelo Fed e pede um corte de juros, que agora está cada vez mais improvável.
Especialistas dizem que a demissão de um presidente do Fed não é algo trivial. Seria preciso um longo processo, que passaria por uma comissão do Senado, que teria de provar que Powell agiu de má-fé ou foi ineficiente.
Em entrevista recente, ao ser indagado se o titular da Casa Branca poderia demiti-lo, Powell foi mais sucinto: “Não é permitido por lei”. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.