Notícias da Região | São Miguel do Iguaçu
Sábado, 10 de Maio de 2025
Prefeito de São Miguel do Iguaçu aprovou aumento do próprio salário antes da reeleição e agora estuda terceirização do hospital municipal

O prefeito de São Miguel do Iguaçu, Boaventura Manoel Joao Motta, sancionou ainda em sua gestão anterior — antes da reeleição — um projeto de lei que elevou o próprio salário e o de membros do alto escalão da administração municipal. A justificativa na época era tornar os cargos mais atrativos, especialmente com a intenção de contratar médicos especialistas para a rede pública.
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Com a recondução ao cargo, o tema voltou a gerar repercussão, desta vez com os rumores de que a Prefeitura estaria estudando a terceirização da gestão do Hospital Municipal. Segundo fontes internas, a proposta ainda está em análise, sem previsão de anúncio oficial. Mesmo sem confirmação formal, a possibilidade de repassar a administração hospitalar à iniciativa privada tem causado apreensão entre moradores, lideranças comunitárias e profissionais da saúde.
Informações apontam que já existe um grupo de médicos e enfermeiros do próprio hospital que se posiciona contra a terceirização. Eles temem impactos negativos nas condições de trabalho e na qualidade do atendimento à população.
O Agora PR já noticiou casos semelhantes em municípios da região, como Medianeira, onde a UPA foi totalmente terceirizada e passou a ser considerada modelo de eficiência no estado. Contudo, em São Miguel do Iguaçu, a principal preocupação da população não é a terceirização em si, mas a falta de transparência em um processo tão delicado, que envolve diretamente a qualidade da saúde pública.
Especialistas alertam para os riscos da mudança. Segundo o Dr. João Silva, professor de Saúde Pública da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), “a terceirização pode ser positiva em termos de gestão, mas há o perigo real de priorização do lucro, em detrimento da qualidade e da equidade no atendimento. Saúde não é negócio, é direito”.
Entre os pontos sensíveis estão a redução de pessoal, menor controle sobre a aplicação de recursos públicos e dificuldade de fiscalização. Além disso, a municipalidade pode perder a autonomia sobre um serviço essencial.
Em meio a incertezas, a própria população tem sugerido alternativas para dar mais segurança e participação no processo. Entre as propostas mais frequentes estão:
• Realização de audiência pública para que a Prefeitura apresente o projeto e seus impactos;
• Explicitação clara das motivações para a terceirização, inclusive com números e relatórios técnicos;
• Garantia de melhorias visíveis, como ampliação do quadro de médicos e redução no tempo de espera por atendimentos;
• Criação de uma comissão de fiscalização, com representantes da sociedade civil, para acompanhar o contrato e cobrar resultados;
• Especificação da duração do contrato com a empresa gestora, com cláusulas que permitam revisão ou rescisão em caso de má gestão.
“Queremos saber como será feita essa fiscalização, qual será o poder real do município diante da empresa. Não dá para deixar o hospital nas mãos de quem só visa lucro”, afirma Elaine Souza, moradora do bairro Morumbi.
Outro ponto levantado pelos moradores diz respeito ao tempo de contrato. “Se o serviço for ruim, um contrato longo será um problema. Precisamos saber por quanto tempo essa empresa ficará e se haverá metas a serem cumpridas”, destacou Cláudio Pereira, residente no bairro São Cristóvão.
A Câmara de Vereadores segue sem posicionamento oficial. Nenhum parlamentar, seja da base do governo ou da oposição, se pronunciou publicamente sobre o reajuste salarial ou a possível mudança na gestão do hospital. Informações obtidas pela redação do Agora PR indicam que uma reunião fechada foi realizada entre a Secretaria Municipal de Saúde e os vereadores para tratar do tema. A ausência de transparência no encontro aumentou o clima de desconfiança.
Além das dúvidas técnicas e políticas, uma pergunta tem sido recorrente nas ruas: o salário do prefeito continuará o mesmo mesmo que o hospital passe a ser administrado por uma empresa? Muitos enxergam um possível conflito entre o aumento sancionado antes da eleição e a futura transferência de responsabilidades da gestão municipal para o setor privado.
“A gente fica sabendo das coisas por boatos. Se está tudo certo, por que fazem reunião fechada?”, questiona Maria Aparecida dos Santos, do bairro Santa Ana.
Com a saúde pública no centro do debate, os moradores aguardam com ansiedade e cautela um posicionamento oficial da Prefeitura e da Câmara. A cobrança é por transparência, diálogo e garantias de que qualquer decisão seja tomada com responsabilidade, clareza e respeito à população.
Agora PR