Internacionais | Máfia
Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2025
Máfia chinesa envolvida com tráfico de metanfetamina transforma mansão em SP em boate
Além de dominar hotéis no centro de São Paulo, a máfia chinesa envolvida com tráfico de metanfetamina transformou uma mansão no Jardim Europa, um dos bairros mais nobres da cidade, em uma boate para festinhas regadas a drogas.
O local foi descoberto pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) na investigação que baseou a Operação Heisenberg, deflagrada pela Polícia Civil paulista contra 60 alvos suspeitos de integrarem um megaesquema de produção e delivery de metanfetamina na capital.
Traficantes chineses se associaram ao Primeiro Comando da Capital (PCC) para comercializar a droga e usam fintechs — uma delas na região da Faria Lima — para despistar o dinheiro dos órgãos de controle.
A metanfetamina tem sido usada para a prática do chamado “chemsex”, sexo químico em inglês, que consiste em apimentar a relação sexual com uso de entorpecentes. Mensagens de WhatsApp trocadas por lideranças do esquema revelaram uma série de ordens de envio e recolhimento da droga para a mansão nos Jardins.
Do lado de fora, o casarão laranja na Rua Holanda, entre o Jardim Europa e o Itaim Bibi, parece mais uma residência em um quarteirão de mansões. Ela é alugada há mais de uma década por chineses.
O casal Zheli Xu e Jiangeng Zheng pagava R$ 11 mil de aluguel por mês. Em dezembro passado, eles saíram algemados do imóvel. Fontes que trabalham na região afirmaram que eles se apresentavam como donos de boxes na Rua 25 de Março, famoso endereço de comércio popular no centro paulistano, dominado por produtos chineses.
Na manhã de 17 de dezembro de 2024, dia em que a operação foi deflagrada, policiais civis se depararam com uma boate assim que abriram a porta da sala principal do imóvel. Paisagens pintadas na parede, telão de cinema, palco com 13 caixas de som, sofás de veludo vermelho, aparelhos de karaokê e até um poste de pole dance revelavam a verdadeira finalidade do casarão.
Na mansão, foram apreendidos R$ 20 mil, US$ 13 mil, pistolas, munições e sacos de metanfetamina dentro de um armário. Carros de luxo, como uma Land Rover e uma BMW, também foram confiscados. Balanças e outras ferramentas para produzir e manusear drogas estavam por toda a parte.
No segundo andar da casa, os policiais encontraram várias mulheres chinesas. Uma delas disse à polícia ter vindo a turismo para o Brasil em dezembro de 2023, e que conseguiu a viagem por meio de um “despachante”, a quem pagou R$ 10 mil. Afirmou que não voltou à China por questões de saúde, que trabalha como vendedora de capinhas de celular e roupas, e que os R$ 20 mil encontrados na busca e apreensão eram fruto de um empréstimo que contraiu da locatária da casa.
Outra mulher disse que trabalhava na Feira da Madrugada, no Brás, ganhava R$ 4 mil mensais, e também pagava aluguel para morar no casarão. Todas negaram ser vítimas de exploração sexual nesses depoimentos, mas a polícia ainda encaminhou o caso à perícia criminal para apurar qual era a situação delas na mansão.
Investigadores desconfiam que elas não tenham contado a verdade e suspeitam de que sejam vítimas dos donos e frequentadores da boate.
Foi na mansão da Rua Holanda que Pikang Dong, chinês apontado como um dos líderes do braço da máfia envolvido com o tráfico, esperou, certa vez, uma garota de programa de sua confiança entregar metanfetamina. “São 550 gramas embalados separadamente. Quando você chegar, mande pra mim e eu lhe darei o dinheiro. Você me dá a mercadoria e eu lhe dou o dinheiro. Simples assim”.
Conhecido como Rodízio, Pikang Dong foi preso em julho de 2024, em um apartamento alugado por chineses no centro de São Paulo onde funcionava um laboratório para fabricar o entorpecente. Ele estava com 400 gramas de metanfetamina e foi condenado a 9 anos de prisão. No processo, alegou que não tem relação com o apartamento e que a droga era para consumo próprio.
Áudios apreendidos no celular do chinês revelaram a investigadores como todo o esquema funcionava. Lá, encontraram conversas dele com o comparsa mexicano Guillermo Martin Ortiz, além de contatos e transferências de dinheiro de golpistas e de outros traficantes. Um dos arquivos apreendidos pela polícia mostra Pikang Dong e Ortiz combinando a entrega de metanfetamina no Hotel Lido Plaza, na Liberdade, um dos pontos preferidos de delivery da droga, com uma prostituta.
Com um português truncando, Dong pediu à garota de programa para que ela fosse ao Lido encontrar com um “amigo”. Ela pouco entendeu, mas perguntou ao chinês se poderia levar uma amiga junto. “Amigo, não entendeu. Eu tô em casa me arrumando. É pra mim ir em Lido agora? Amigo, eu estar na casa da minha amiga. Amiga pode ir junto? Ela trabalha também. Ela muito fuck bom”, disse a prostituta ao traficante chinês.
Com informações do Metrópoles