Brasil | Caso Benício

Quarta-feira, 03 de Dezembro de 2025

Defesa afirma que médica admitiu erro no calor do momento e apresenta vídeo sobre falhas no sistema do hospital

A defesa da médica Juliana Brasil afirma que ela só reconheceu erro "no calor do momento" após a morte do menino Benício Xavier, de 6 anos, e sustenta que a prescrição de adrenalina intravenosa registrada no prontuário foi resultado de uma falha do sistema do Hospital Santa Júlia.

Os advogados apresentaram um vídeo que, segundo eles, demonstra problemas na plataforma de prescrição utilizada pela unidade. Assista acima.

Segundo a defesa, Juliana registrou adrenalina por via inalatória, mas o sistema teria alterado automaticamente para a via intravenosa durante o atendimento, em meio a instabilidades enfrentadas pelo hospital naquele dia.

O Hospital Santa Júlia informou que não vai se manifestar sobre o caso.

Os advogados afirmam que essa mudança não foi percebida pela médica e insistem que falhas estruturais da unidade contribuíram para o agravamento do quadro do menino.

O vídeo apresentado mostra a navegação dentro da plataforma e, segundo os advogados, evidencia que o sistema pode modificar vias de administração sem intervenção do profissional.

"Juliana não escreveu a prescrição manualmente. Hoje, as prescrições são feitas por um sistema automatizado. Quando ela escreve a via de administração, o próprio sistema pode entender que está incorreta e alterá-la automaticamente. Isso já foi relatado por outros profissionais. Se fosse uma prescrição escrita, o erro não teria acontecido", disse o advogado Felipe Braga.

Braga afirmou ainda que a via intravenosa registrada seria resultado dessa falha automatizada, e não de negligência. Ele sustenta que a Anvisa já fez recomendações contrárias a esse tipo de automação e que o sistema do hospital apresentou instabilidade no dia do atendimento de Benício.

Benício morreu na madrugada do dia 23 de novembro, após receber uma dose incorreta de adrenalina. A própria médica admitiu o erro em documento enviado à polícia. O caso é investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público (MPAM).

O delegado Marcelo Martins, titular do 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), confirmou que essa hipótese também está sob análise.

“Ela afirmou que esse erro teria ocorrido por uma falha do sistema, e isso também está sendo investigado. Não posso detalhar as medidas porque são sigilosas, mas vamos nos aprofundar nesse ponto”, disse.

Braga relatou que a médica atendeu o menino por volta de 13h18, quando ele apresentava quadro de laringite. Ela avaliou a criança, prescreveu os medicamentos dexametasona, hidroxizina e adrenalina e solicitou um raio-x do tórax.

“No momento em que ela pede o exame, ele é medicado pela técnica de enfermagem. A mãe alerta sobre a forma de aplicação porque Juliana informou todos os procedimentos, inclusive que a adrenalina seria via inalatória, de 30 em 30 minutos, para aliviar os sintomas de laringite”, disse o advogado.

Segundo a defesa, a técnica aplicou a adrenalina na veia da criança, mesmo após a mãe questionar o método. Braga afirma que Juliana só soube da aplicação quando foi chamada à sala de medicação.

“Ela foi informada pela técnica de que a administração havia sido feita por via endovenosa. A partir dali, Juliana atua como médica, pede apoio ao coordenador, encaminha o menino para a sala vermelha, inicia atendimentos e permanece com o paciente até ele ser levado para a UTI”, relatou.

Ainda conforme o advogado, Benício foi monitorado, recebeu atendimento imediato e seguiu consciente até ser transferido para a UTI, por volta de 17h. Outros médicos assumiram o caso, mas Juliana continuou acompanhando o quadro e trocando informações com a equipe. A médica disse à defesa que o raio-x apontou pneumonia.

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Na UTI, Benício foi intubado por volta de 0h20, após três tentativas iniciadas por volta das 23h. O estado se agravou durante o procedimento, quando o menino vomitou e apresentou sangramento nasal. Ele sofreu seis paradas cardíacas até a constatação da morte cerebral.

“O prontuário mostra vômito e grande sangramento nasal e bucal. Na primeira tentativa de intubação, ele apresentou vômito, possivelmente do jantar anterior. Depois, surgem paradas cardíacas sucessivas, e ao final os médicos percebem sinais de morte cerebral”, afirmou Braga.
O advogado disse ainda que foram usadas mais de 40 ampolas de adrenalina intravenosa na UTI, dessa vez seguindo protocolo de reanimação.

Questionado sobre o fato de a intubação ocorrer sem jejum, Braga declarou que não tem autonomia para afirmar se o procedimento foi correto, mas que “aparenta não ser”.

G1