Brasil | São Paulo
Segunda-feira, 27 de Outubro de 2025
Calçadão em SP homenageia personalidades que lutaram pela democracia
No centro da capital paulista, atrás da Câmara Municipal de São Paulo e próximo ao Terminal Bandeira, está instalada a Praça Memorial Vladimir Herzog, um monumento para lembrar o legado do jornalista que foi assassinado pela ditadura militar e de tantos outros que lutaram – ou continuam lutando – pela democracia no Brasil.
Para destacar essa luta permanente, o local passou a contar agora com o Calçadão da Resistência, uma iniciativa do Coletivo Cultural Associação de Amigos da Praça Memorial Vladimir Herzog. A obra consiste em um conjunto de tijolos intertravados nos quais foram escritos os nomes de jornalistas e de outras personalidades já contempladas com o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que existe desde 1979.
Na manhã de hoje (26), uma cerimônia marcou o início da instalação desses tijolos, com uma homenagem a 51 pessoas que já venceram o prêmio na categoria especial.
Entre os homenageados estão nomes como Tim Lopes, Sueli Carneiro, Mino Carta, Caco Barcellos, Luiz Gama, dom Paulo Evaristo Arns, Perseu Abramo, Dom Phillips, Rubens Paiva, Ziraldo e os trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que, em 2022, receberam o Prêmio Especial Vladimir Herzog de Contribuição ao Jornalismo pela resistência na defesa da comunicação pública no Brasil.
Ao todo serão instalados tijolos com os nomes de 1.625 pessoas que já receberam o prêmio.
“O Aldir Blanc não falava à respeito do Almirante Negro que tem por monumento as ‘pedras pisadas no cais’? Pois os grandes jornalistas, os que ganham o Prêmio Vladimir Herzog a partir de agora, terão esse monumento, esses tijolos que mostram onde está o melhor do jornalismo”, explicou o jornalista Sérgio Gomes, diretor da Oboré Projetos Especiais em Comunicações e Artes. “Hoje estamos cumprindo a primeira etapa, que são para aqueles que ganharam o prêmio especial pelo conjunto da obra”.
Primeiro tijolo
O primeiro desses tijolos – e que já havia sido instalado no Calçadão da Resistência – é um que traz o nome do jornalista Mouzar Benedito, vencedor da primeira edição do prêmio na antiga categoria Jornal.
“Eu fui fazer jornalismo, mas eu já era formado em geografia e tinha passado dois anos fugindo para o interior de São Paulo, antes de voltar para a capital para continuar militando contra a ditadura, não pela luta armada, mas pelos jornais alternativos. Eu entrei na Faculdade de Jornalismo da Cásper Líbero para poder ter uma outra profissão e que pudesse me ajudar a militar contra a ditadura, pacificamente. Na época, havia muita diferença [para os dias de hoje]: a gente tinha um sonho de mudar o mundo. Um sonho meio quixotesco, mas a gente tinha. E conseguimos mudar algumas coisas”, afirmou.
Nos dias de hoje, no entanto, ele segue um pouco mais pessimista com relação ao futuro, embora continue reconhecendo a importância de sua profissão.
“A imprensa é essencial para a democracia, não tenha dúvida. A gente achava que não teríamos mais esse risco [de precisar lutar pela democracia]. Mas no processo de cassação da [ex-presidente da Republica] Dilma Rousseff teve uma grande manifestação no Largo da Batata [na capital paulista] e eu fui lá e encontrei todos os meus colegas da manifestação de 1968, quando a gente apanhava da polícia. E agora teve repressão também, com bombas de gás lacrimogêneo. Quem diria que nós, beirando os 70 anos, teríamos que correr de polícia de novo?”, comentou.
“Naquela época a gente tinha uma militância muito forte, a gente tinha esperança que, acabando com a ditadura, ia ficar tudo muito melhor e que a democracia não ia correr risco nunca mais. Mas hoje em dia não existe tanta esperança assim, eu não vejo tanta esperança das pessoas, tenho medo. Medo do futuro”, completou.
Apesar disso, diz ele, é preciso continuar resistindo.
Para o presidente da EBC, Andre Basbaum, que se define como um amante da democracia, esse reconhecimento aos trabalhadores da empresa com a marcação em um tijolo do Calçadão da Resistência é importantíssimo, principalmente, por ocorrer em um espaço simbólico e de memória.
Após completar 18 anos de existência neste mês de outubro e de ter resistido a tentativas de censura e de fechamento, a EBC trilha agora o caminho da reconstrução, afirmou Basbaum.
“Nos dois anos de governo [Michel] Temer e quatro anos de governo Bolsonaro houve, de fato, uma tentativa de desmonte da empresa. Ela entrou inclusive para lista de privatização e, desde que o presidente Lula assumiu, tudo isso mudou. Ela foi retirada da lista de privatização”.
“Acho que agora a gente está em um novo momento. Acabamos de completar 18 anos, chegamos à maior idade, então acho que esse é um passo grande para a gente pensar o futuro. Vamos fazer um seminário agora em Brasília, na UnB [Universidade de Brasília], com a presença do Eugênio Bucci, da Helena Chagas, da Teresa Cruvinel, do Ricardo Melo e do Hélio Doyle, que são pessoas que fazem parte da história da EBC e da história do jornalismo brasileiro, para a gente debater a comunicação pública e para a gente pensar em um outro Fórum Nacional de Comunicação Pública. Estamos muito animados para fazer esse projeto ficar cada vez maior”, completou.
Passados 50 anos da morte de seu pai, Ivo Herzog destaca que o jornalismo continua sendo um importante instrumento para a democracia.
“O hábito da democracia tem que estar no nosso dia a dia. O Herzog é um símbolo disso, e a EBC é fruto disso, um lugar estratégico pra gente pensar e lutar pela democracia, pela defesa da democracia”, afirmou Basbaum.
>> Confira os nomes inscritos nos tijolos do calçadão:
Mouzar Benedito
Abdias Nascimento
Alberto Dines
Alex Silveira
Audálio Dantas
Bernardo Kucinski
Caco Barcellos
Cláudio Abramo
D. Angélico Bernardino
D. Paulo Evaristo Arns
Daniel Herz
David de Moraes
Dom Phillips
Dorrit Harazim
Dráuzio Varella
Eduardo Galeano
Elaíze Farias
Elifas Andreato
Élio Gaspari
Fernando Morais
Flávia Oliveira
Gizele Martins
Glenn Greenwald
Glória Maria
Henfil
Hermínio Sacchetta
José Marques de Melo
Kátia Brasil
Laerte
Lourenço Diaféria
Lúcio Flávio Pinto
Luiz Gama
Marco Antônio Coelho
Mauro Santayana
Mino Carta
Neusa Maria Pereira
Patrícia Campos Mello
Perseu Abramo
Raimundo Pereira
Rede Wayuri
Ricardo Kotscho
Rose Nogueira
Rubens Paiva
Sandra Passarinho
Sônia Bridi
Sueli Carneiro
Tim Lopes
Trabalhadores da EBC
Zé Hamiltom Ribeiro
Ziraldo
Zuenir Ventura
Fonte: Agência Brasil








