Contando Histórias

11.03.2019

Professor de Matemática, Ezequias Abade Correa é entrevistado em comemoração aos 50 anos da escola Graciliano Ramos

Em comemoração aos 50 anos da fundação da Escola Estadual Graciliano Ramos – Ensino Fundamental Séries Finais de Santa Helena, que ocorreu no dia 01de março de 2019, estamos realizando entrevistas com personagens que trabalharam nesta escola: ex-diretores, professores/funcionários aposentados, como forma de homenageá-los pelos serviços prestados à mencionada instituição de ensino.

Responsável pelas entrevistas, Prof. João Rosa Correia.

Entrevistado: Professor Ezequias Abade Correa – Matemática

Atualmente reside na Avenida Brasil (área central de Santa Helena PR).

Na quinta-feira 08 de agosto de 2018 entrevistei Ezequias Abade Correa, professor de Matemática. A entrevista ocorreu nas dependências da Escola Estadual Graciliano Ramos centro de Santa Helena. O educador iniciou este diálogo apresentando o nome de seu avó paterno: Nicolau Abade Correa. Disse que ele e mais três irmãos saíram da Bahia no início do século 20 com o objetivo de chegar ao Estado de São Paulo. Depois de meses caminhando chegaram na região de Braúna (interior paulista). Na retirada traziam consigo sonhos de um lugar que lhes oportunizassem melhores condições de vida, uma vez que, no nordeste brasileiro viviam precariamente e sem perspectivas de alcançar um futuro promissor a eles. Este deslocamento estava relacionado com os constantes flagelos que sofriam ocasionados pelas secas que assolavam a região em que viviam. Porém, ressalta Ezequias que seus parentes comentavam que na realidade, isso não era a culpa da natureza, mas sim, culpa do desinteresse (descaso) dos responsáveis pela administração (gestão) pública que deveriam resolver permanentemente o abastecimento de água à população nordestina, em especial às de baixa renda.

Ezequias também apresentou os nomes dos pais: Jeremias Abade Correa e Tereza Medeiros Correa. Ambos nasceram, tornaram adultos e casaram-se no município de Braúna. Desta união matrimonial nasceu Ezequias Abade Correa no referido município no dia 26 de outubro de 1949. Integrante de uma família de 4 irmãos (3 masculino e 1 um feminino). Comentou ainda que em Braúna, seu avô Nicolau Abade Corrêa e demais familiares trabalhavam em uma fazenda arrendada de 60 alqueires de terras. Nesta propriedade plantavam principalmente algodão, mandioca e mantinham em funcionamento uma fábrica de farinha de mandioca. Salientou ainda que Nicolau e Jeremias (avó e pai de Ezequias) eram sócios nos emprendimentos que desenvolviam.

De acordo com Ezequias, seu avô foi proprietário do primeiro caminhão ano 1951 que surgiu em Braúna. Utilizavam este meio de transporte para executar diversos trabalhos na agricultura, inclusive transportar a farinha de mandioca que seria negociada no comércio em Braúna e nas demais cidades do noroeste paranaense. Em 1955 os familiares do Prof. Ezequias saíram de Braúna e migraram para o município de Loanda (noroeste do Paraná) onde passaram a trabalhar com lavoura de café através do sistema de arrendamento. No ano de 1957 conseguiram comprar seis (6) alqueires de terras em Japurá e seguem trabalhando no ramo cafeeiro. Esta propriedade ficava 2 quilômetros de distância de Japurá. Concomitantemente ao trabalho com café em Loanda, arrendaram uma área rural no referido município com a finalidade de plantar algodão.

Com os lucros obtidos das lavouras que plantavam e colhiam, compraram outra propriedade agrícola em São Manuel (norte do Paraná). As áreas agrícolas que compravam, eram sempre em sociedade entre Jeremias e Nicolau Correa. E assim continuaram ampliando os negócios no campo. No entanto, uma inesperada adversidade climática dificultou a sobrevivência dos cafeicultores com a atividade cafeeira. Recorda o entrevistado, que entre 1965 a 1967 as lavouras de café do norte do Paraná sofreram intensas e rigorosas geadas levando os cafezais à total destruição (ficaram com aspectos de queimados pela ação de fogo). Este fato impactou na descapitalização dos cafeicultores. Em meio à turbulência ocasionada pela natureza, novamente foram surpreendidos com o falecimento repentino do avô de Ezequias, Nicolau Correa.

Diante da descapitalização financeira que estavam passando imposta pelas intempéries e sem perspectivas que o café a curto prazo voltasse produzir frutos e com isso, rendas ao agricultor, ainda tiveram que gastar dinheiro com  o inventário (partilha) dos bens (imóveis) deixados por Nicolau. Situação que obrigou Jeremias a vender dois sítios pertencentes à família para saldar os compromissos financeiros sob sua responsabilidade. Diante dos imbróglios econômicos, conseguiram ficar de posse apenas do sítio em Japurá.

Ezequias comentou também que desde criança auxiliava seus pais nos trabalhos agrícolas, principalmente nas atividades cafeeiras, mas sem deixar de frequentar regularmente os bancos escolares. O educador frequentou o Ensino Fundamental na Escola Estadual de Japurá pelo qual concluiu esta formação no de 1969 e o 2º Grau –Técnico em Contabilidade na Escola Estadual Nilo Cairo da Silva em 1972 da referida cidade.

Sabendo que a municipalidade de Japurá realizava anualmente prova seletiva (espécie de concurso) para contratação de professores do “antigo primário”, professor Ezequais resolveu submeter-se a esta avaliação. O contrato de trabalho era de 20 horas semanais em um mesmo turno. Aprovado, ministrou aulas na Escola Municipal de Japurá entre os anos de 1970 e 1971. Em 1972 trabalhou de auxiliar na secretaria da Escola de 1º Grau de Japurá. Naquela época para lecionar nas escolas do interior o professor tinha que deslocar por conta própria até a escola que trabalhava. Disse Ezequias que percorria a pé e/ou de bicicleta os dois quilômetros que separava a escola que lecionava em Japurá em relação à sua residência. Lecionou em outra escola do mesmo município que ficava nas proximidades do Rio Ivaí, porém, distante 9 quilômetros da cidade de Japura. Para lecionar nesta escola, professor Ezequias percorria diariamente de bicicleta 18 quilômetros de estrada de chão (não havia asfalto na época) entre a ida e retorno deste local de trabalho.

O maior desafio do professor nesta circunstância era a poeira que formava nos dias ensolarados e nos períodos chuvosos, os lamaçais, o que dificultava o uso da bicicleta como meio de transporte. Ao levantar de manhã para trabalhar e deparar-se com chuvas torrenciais, a saída era percorrer o trajeto a pé ou deixar os estudantes sem aulas. Às vezes os alunos ficaram sem assistir as aulas em razão do exposto. Por outro lado, ao deparar com intensas chuvas ao final do período de trabalho, professor Ezequias tinha que decidir em conduzir a bicicleta sobre os ombros, ou deixá-la na própria escola. Ao decidir por esta última opção, teria no dia seguinte percorrer a pé os 9 quilômetros para chegar à escola.

As escolas eram multisseriadas (1º ao 4º ano do “antigo primário” - concentravam os estudos na mesma sala de aula). Em uma dessas escolas não havia quem fizesse merenda aos educandos, por isso, o próprio professor tinha que conciliar ensino e fazer lanches aos estudantes. Para esta tarefa procurava o auxílio de alguns alunos. Além desse trabalho, ainda tinha que limpar a escola aos sábados. Mais uma vez recorria aos estudantes que residiam próximos à instituição de ensino para lhes auxiliar nesta atividade extracurricular. Normalmente havia 20 alunos por sala de aula (multiseriada).

Ao comparar com os estudantes do passado em relação aos da atualidade, Professor Ezequias disse que eram calmos, tranquilos, simples, respeitosos e educados. A maioria eram filhos de agricultores. Os pais dos estudantes tinham no professor um exemplo de pessoa a ser seguido, porque os viam como pessoas honestas e de bons costumes.  Professor Ezequias trabalhou em quatro escolas em Japurá. No ano de 1973 ingressou na Faculdade de Mandaguari (Matemática), concluiu a graduação universitária em Julho de 1977. Como havia outros estudantes desta universidade que também moravam em Japurá, o pai do Prof. Ezequias adquiriu uma Kombi para transportar esses universitários. Com esta aquisição, Ezequias além de estudante, tornou-se motorista do referido veículo aonde conduziu por quatro anos os colegas estudantes até à Faculdade em Mandaguari. Dentre os estudantes que participava das viagens de estudos, Osmar Manieri Carlesso e Onivaldo Estafuso, foram os que mais colaboravam nas trocas de pneu furado, colocar corrente nos pneus da Kombi para vencer os lamaçais que formavam nas estradas por onde passavam, e até conduziam o veículo na ausência de Ezequias.

Revelou que antes de cursar Matemática almejava estudar Engenharia Civil ou Agronomia. No entendimento de Ezequias, o que impossibilitou realizar seu sonho, foram as dificuldades financeiras ocasionada pela destruição dos cafezais da família na década de 1960. Por isso optou pelo curso de Matemática, pois os custos financeiros desta formação eram menores em relação às formações acima citadas. Assim seus pais puderam lhe auxiliar nas despesas da faculdade, sem que isto representasse maiores problemas econômica aos familiares, explicou. Lembrando que naquela época não havia financiamento estudantil (FIES) o que dificultava aos estudantes de baixa renda cursar uma universidade particular.

Após ingressar na Faculdade, o professor deixou de ministrar aulas para o ensino fundamental (“antigo primário”) em Japurá, porque estava encontrando dificuldade de conciliar estudos com o trabalho de professor municipal. Porém, conseguiu aulas de substituição de Matemática no curso de Contabilidade a nível médio (técnico) em São Tomé (município vizinho de Japurá). Nesta localidade lecionou durante 6 anos consecutivos.

De posse do diploma de Professor de Matemática (Julho/1977), Ezequias resolveu deslocar para Santa Helena por influência do professor Osmar Carlesso, porque este ministrava aulas no município, além disso, eram conhecidos e amigos em Japurá. Em agosto de 1977 o professor Ezequias passou a trabalhar nas escolas estaduais de Santa Helena: Graciliano Ramos e Castelo Branco, na disciplina de Matemática.

Para completar carga horária de 44 horas semanais de trabalho em sala de aula, lecionava Física, Educação Física, Programa de Saúde e Ciências. Lecionou um ano no Colégio Santo Antônio (atualmente CESA – Centro Educacional Santo Antônio). Exerceu o cargo de secretário da Escola Graciliano Ramos durante a gestão do Professor João Bosco Zimermann. Foi diretor desta instituição de ensino entre 1988/1989. Neste período a Escola Municipal Marechal Deodoro da Fonseca (ensino fundamental séries iniciais – atualmente 1º ao 5º ano) estava sob a responsabilidade administrativa da Escola Estadual Graciliano Ramos. Em razão deste fato, professor Ezequias nomeou a professora Maria Helena Ferronato como gestora na referida instituição de ensino.

Apontou algumas dificuldades que encontrou com o exercício da profissão de professor estadual, poucos materiais didáticos disponíveis aos professores para atender satisfatoriamente o ensino/aprendizagem dos estudantes no início da profissão, o clima quente de Santa Helena e sem ar condicionados nas salas de aulas, o que dificultava a concentração dos educandos, principalmente nos dias de elevada temperatura. Ao aposentar no ano de 2004 passou a trabalhar de instrutor nas auto escolas em Santa Helena. Na Auto Escola Rota Oeste trabalhou de instrutor teórico e na Auto Escola Independência além de instrutor teórico, foi diretor geral desta empresa de trânsito.

A respeito de sua família, Professor Ezequias comentou que casou-se com Maria do Carmo Somacal no dia 07 de dezembro de 1979. Sua esposa era sua aluna da 7ª Série (atualmente corresponderia ao 8º ano) na Escola Estadual Graciliano Ramos. Deste casamento tiveram dois filhos: Ezequias Abade Correia Junior. Estudou o ensino fundamental na Escola Municipal Deodoro da Fonseca e Graciliano Ramos. O Ensino Médio no Colégio Santa Antônio (hoje CESA – Centro Educacional Santo Antônio). Atualmente está cursando Mecatrônica na Universidade de São Carlos – Estado de São Paulo. Casado com Jaqueline Garcia, tiveram dois filhos: Luis Gustavo Garcia Corrêa e Alice Garcia Corrêa; Wellington José Abade Corrêa, estudou o ensino fundamental na Escola Marechal Deodoro da Fonseca e Graciliano Ramos. Ensino Médio no Colégio Santo Antônio (hoje CESA). Graduou em Fisioterapia e Pós-Graduação na área de formação na FAG de Cascavel. Cursou UTI/Hospitalar na Unioeste de Cascavel. Cursa atualmente Medicina na Cidade de Leste no Paraguai. Reside em Foz do Iguaçu. Casou-se com Noeli Corrêa e deste matrimônio geraram a filha Rafaela Maria Abade Corrêa e João Abade Correa.





























































João Rosa Correia