Cotidiano

28.10.2015

PARDAL

Às vezes os pardais incomodam.

São seres urbanos que se amotinam nos espaços entreabertos das telhas ou goivos.

Fazem uma barulheira, são ariscos, nunca se aproximam tanto do ser humano.

Talvez eles conheçam a gente, mais do que nós os conheçamos.

Num dos tantos artigos que escrevi antes deste, relatei o canto do pardal, melodioso, que muda de tons e tipos.

Originário do Oriente Médio, veio pro Brasil no início do século passado, 1903, dizem.

Além da cidade, também começaram povoar o interior, mas sempre ao redor das casas.

Não é um pássaro campeiro. É cosmopolita mesmo.

Chega o clarear do dia, se eles estão dividindo o seu espaço na casa, mesmo que pelo lado de fora, sob as telhas, começam a se manifestar.

À tardinha, mesma coisa.

Às vezes, torra a nossa paciência e confesso que já os espantei.

Pra isso, só precisamos dar uns passos perto deles.

Outro dia, um juvenil, já bem empenado, meio bobo, caiu de um buraquinho destapado da telha, apanhado pela patroa.

Peguei o bichinho e coloquei numa casinha daquelas que esperam canarinhos ou corruíras, que perdurava desabitada.

Já era noite.

No outro dia, o pardal ou a pardoca, passou a tratá-lo ali mesmo.

Cabo de dois ou três dias depois, sumiu.

Dos bichos que espanto por causa do barulho intermitente, salvei um.

E na vida é assim, às vezes admiramos o canto, outras enjoamos do barulho e por fim, podemos salvar um rebento.


Elder Boff