Contando Histórias

08.05.2018

Harumi Kumagai Simo, a japonesa pioneira do município de Santa Helena. Conheça sua história

O professor de História, João Rosa Correia, da Escola Estadual Graciliano Ramos, Ensino Fundamental, entrevista a Sra. Harumi Kumagai Simo, pioneira do município de Santa Helena Paraná.Harumi (natural do Japão) e familiares são partícipes da História da Colonização de Santa Helena.

A composição humana do município de Santa Helena no início de sua colonização foi constituída em sua maioria de migrantes oriundos do Estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esses imigrantes eram descendentes de europeus ocidentais. Porém, vieram para este município alguns imigrantes orientais e familiares, diversificando o mosaico de povos de Santa Helena. Foi o caso da Sra. Harumi Kumagai Simo, oriental de origem Japonesa da cidade de Kawamati do Estado de Fukuoka.

Após esta breve introdução do contexto humano/histórico de Santa Helena, vejamos os relatos de Harumi.

Quinta-feira, 01 de março de 2018, Sra. Harumi concede entrevista ao Prof. João Rosa. O encontro ocorreu na residência da entrevistada que está localizada à Rua Paraguai, esquina com a Rua Amazonas, 306, bairro Baixada Amarela (área central de Santa Helena Paraná). Harumi nasceu no dia 25 de outubro de 1937, filha de Takeo Kumagai e Mitiko Kumagai.

No Japão, Harumi frequentou a escola que corresponde aqui no Brasil ao Ensino Fundamental e Médio. A diferença é que no Japão o estudante frequentava os bancos escolares nos dois períodos: matutino e vespertino (integral). Para que os filhos pudessem ir à Escola e retornar para casa com segurança, as famílias que residiam próximas umas das outras se revezavam em acompanhar as crianças nos dias de aulas. O sistema de ensino oferecido no Japão na época que Harumi estudou era assim dividido: 6 anos (corresponde ao Ensino Fundamental – Séries Iniciais no Brasil); 3 anos (Ensino Fundamental – Séries Finais no Brasil); 3 anos (Ensino Médio no Brasil). No Japão, (da época de Harumi) o estudante ao completar três anos de estudos (Ensino Fundamental Séries Finais no Brasil, “antigo Ginásio”, para cursar o Ensino Médio – (“antigo 2º Grau no Brasil) deveria submeter-se a um vestibular. Se aprovado cursava este grau de estudos (Ensino Médio). Ao concluir esta formação escolar estaria apto a frequentar a Universidade. Os estudantes que reprovassem no vestibular (transição do Ensino Fundamental Séries Finais para o Ensino Médio) frequentariam o ensino profissionalizante ofertados pelo Estado. Todo o sistema de ensino era custeado pelo governo japonês, disse Harumi.

Harumi conseguiu completar o Ensino Médio residindo no Japão, porém, recebeu o Certificado de conclusão de estudos no Brasil, porque ela e os pais emigraram da nação nipônica antes da emissão do Diploma.

Segunda Guerra

Destacou também que na escola e/ou estando em companhia dos pais (Japão) pouco se falava a respeito do envolvimento do país na Segunda Guerra Mundial. Conflito que ocorreu entre os anos de 1939 a 1945. Lembra Harumi que os pais o alertava lhes dizendo que ao estar caminhando pelas ruas do lugarejo em que moravam no Japão, ao ouvir/enxergar avião sobrevoando a cidade deveria o mais rápido possível procurar abrigo na tentativa de se proteger, que podia ser bueiros e pontes, porque poderiam ser lançadas bombas sobre as pessoas que os aviadores avistassem. Além disso, ao se ausentar da residência, os pais obrigavam os filhos pequenos a usar (inclusive ela) um chapéu grosso de aba larga e pesado na cabeça, que era confeccionado de palha de arroz.

Ao término da Segunda Guerra (1945) Harumi ficou sabendo que esta indumentária era mais uma precaução dos pais na proteção dos filhos no caso de um ataque aéreo das forças inimigas japoneses. Acreditavam eles (pais) que os filhos estariam protegidos de destroços ocasionados pelos bombardeios de aviões de guerra.

Relatou a entrevistada que as cidade de Hiroshima e Nagasaki bombardeadas e destruídas pela força área norte-americana (EUA) nos dias 06 e 08 de Agosto de 1945 pelos impactos de duas bombas atômicas, ficavam próximas da cidade Kawamati onde Harumi e familiares residiam. As radiações químicas liberadas pelas bombas atômicas, além de afetar a população civil de Hiroshima e Nagasaki, afetaram áreas adjacentes a essas duas cidades.

Outro fato aterrorizante e desesperador que Harumi recorda a respeito da Segunda Guerra, foi saber logo após ao término do conflito bélico por intermédio de canais de tvs, rádio e jornais escritos, que as detonações das bombas atômicas impuseram ainda mais sofrimentos aos japoneses de Nagasaki/Hiroshima, porque aqueles(as) que não morreram com o impacto dos artefatos radioativos, tinham as peles dos corpos queimadas/dilaceradas com gravidade em razão da intensa e forte radioatividade química pelos quais ficaram expostos após as explosões dos dois bombardeios militares.

Ao continuar relatando os horrores da guerra para com os japoneses de Nagasaki/Hiroshima, disse que aqueles que conseguiam caminhar e/ou correr procuravam desesperadamente salvar-se atirando-se às águas dos rios e riachos que cortavam as cidades bombardeadas. No entanto, estas também foram contaminadas pela radioatividade das bombas, aumentado ainda mais o desespero e o sofrimento das pessoas que se lançavam às águas dos rios e córregos na tentativa de refrigerar o calor que sentiam no corpo. Era um verdadeiro horror saber a respeito dessa tragédia humana, disse Harumi.

Ainda a respeito da Segunda Guerra Mundial, Harumi destaca que sobreviver no Japão no pós Guerra, ficou difícil, porque houve desabastecimento de diversos produtos alimentícios. A população foi obrigada alimentar-se por vários anos de batata doce e abóbora para não morrer de fome. Esses produtos agrícolas eram os únicos alimentos que havia disponível em grande quantidade para alimentação dos japoneses.

Vida Pública

No Japão, Takeo Kumagai (pai de Harumi) além de trabalhar em uma fábrica de cimento, elegeu-se representante da cidade de Kawamati que corresponde atualmente ao cargo de Prefeito Municipal no Brasil. Anos antes de Takeo administrar Kawamati, seu pai, portanto avô de Harumi, conseguira eleger-se Governador de Estado no Japão.

Três mãezinhas

Harumi comentou que sua mãe (Mitiko Kumagai) faleceu no Japão. Com o falecimento da genitora, Takeo casou-se novamente ainda no Japão, no entanto, a madrasta de Harumi recusou acompanhá-lo quando este resolver emigrar para o Brasil. Deste segundo casamento no Japão, o casal não gerou filhos. No Brasil Takeo casou-se pela terceira vez e desta nova família geraram um filho. Harumi diz que ela teve três “mãezinhas” e que todas foram importantes em sua vida.

A segunda madrasta de Harumi Sra. Harue Kumagai está com 96 anos de vida e reside num sítio que fica na entrada do município de Guaíra. Segundo Harumi, a madrasta (Harue) apesar da idade avançada faz os serviços de casa e ainda trabalha na roça selecionando os produtos agrícolas (hortaliças, frutas, legumes) que serão vendidos na feira do Pequeno Agricultor de Guaíra. Mesmo diante dos 80 anos de idade, Harumi procura visitar a madrasta (Harue) com certa regularidade no município de Guaíra.

55 dias de navio

A imigração de Takeo Kumagai e família para o Brasil foi em razão das dificuldades de conseguir trabalho e alimentos no Japão pós Segunda Guerra Mundial. O pai de Harumi recebeu incentivo e apoio de um japonês conhecido e amigo de Takeo que morava no Estado do Paraná. Este se responsabilizou arrumar trabalho a Takeo aqui no Brasil. Este amigo de Takeo arranjou-lhe trabalho em uma fazenda do norte do Paraná no município de Assaí.

Com o trabalho assegurado no Paraná, Takeo e família deslocaram do Japão em direção ao Brasil no dia 11 de novembro de 1955, desembarcando no Porto de Santos no dia 06 de janeiro de 1956 após 55 dias de viagem via Oceano Pacífico, Índico e Atlântico. A viagem teria sido de plena normalidade se não fosse uma forte tempestade que enfrentaram durante a travessia oceânica, fato que gerou nos viajantes susto e um pouco de medo, “confessou” Harumi. O governo japonês foi quem custeou o transporte desses imigrantes.

No Brasil

Ao desembargar no Porto de Santos de imediato rumaram para o município de Assai onde Takeo passou a trabalhar na Fazenda que o amigo lhe arranjara trabalho. A propriedade agrícola pertencia a um imigrante japonês que estava radicado há anos em Assai. Takeo e família trabalhavam de agregados onde plantavam algodão e café em uma área da fazenda que a eles eram destinadas pelo patrão. Tanto o plantio quanto a capina dos cereais, bem como a colheita se fazia manualmente, porque não havia máquinas agrícolas para realizar as tarefas do campo naquela época. Serviços que os novos imigrantes japoneses desconheciam no Japão e que tiveram que aprender a fazer no Brasil.

Horta Experimental

No ano de 1957 Takeo recebeu uma proposta para trabalhar numa Horta Experimental instalada no perímetro urbano de Guaíra. Oportunidade que não desperdiçou, pois ao chegar no Brasil, Takeo passou a acalentar o sonho de trabalhar com hortaliças, frutas e flores. (Obs. Harumi não recorda se o contrato de trabalho/emprego de seu pai foi pela prefeitura de Guaíra ou pela inciativa privada/particular).

Conforme afirmativa de Harumi, seu pai gostava de trabalhar na Horta Experimental, porque ao semear/plantar hortaliças, frutas e flores, cuidadosamente Takeo selecionava as melhores mudas para o replantio e/ou comercializava com terceiros. Paralelamente ao trabalho de agricultor, Takeo abriu um comércio, quitanda como expressa Harumi, em Guaíra onde vendiam verduras, legumes, frutas e flores que produzia na Horta Experimental. A administração da quitanda ficava na responsabilidade de Harumi.

Ainda segundo Harumi, seu pai (Takeo) foi quem teve a iniciativa de abrir a primeira Feira do Pequeno Agricultor no centro de Guaíra, com a finalidade negociar frutas, verduras e legumes para com a sociedade guairense. Por conta deste pioneirismo de feirante, fez com que as lideranças políticas de Guaíra lembrassem de Takeo Kumagai, que ao oficializar nominalmente a Feira do Pequeno Produtor Rural do citado município, homenageou-o com seu nome, pelo qual está gravado no portal de acesso da referida feira. Quem relata à Harumi a respeito desta homenagem a Takeo, são seus parentes que residem no município de Guaíra.

Família Simo

Harumi, ao casar-se com Kaoru Simo, no dia 04 de julho de 1959, em Guaíra, deixou de administrar o comércio de frutas, verduras e flores. A partir de então passou a dedicar exclusivamente com os afazeres do lar. Confidenciou Harumi que conheceu Kaoru (filho de Japonês, nascido no Brasil), por intermédio de um amigo da família na intenção dos dois se conhecerem. Era da cultura nipônica alguém da família arranjar casamento às moças solteiras. Depois de algum tempo de namoro, Harumi/Kaoru uniram-se em matrimônio (relatado acima). O interessante nessa história foi a revelação do sogro de Harumi ao lhe dizer que estava contente em acolhê-la como a nova integrante da família e por ela ser nascida e criada no Japão, sabia expressar, ler e escrever em japonês. Esse fato iria facilitar o contato por carta com os familiares no Japão, porque a partir de então havia alguém que escrevia na língua do país do Sol Nascente.

Harumi, disse que ao ouvir do sogro esse depoimento, não sentiu-se constrangida, pelo contrário, útil para com os novos parentes. E acrescentou, como em qualquer família, os problemas existem, mas, agradece a Deus, pelos familiares que tem. Sente-se uma pessoa feliz, Harumi orgulha disso (Obs. Kaoru Simo, faleceu no dia 02 de Janeiro de 1987, em Santa Helena e está enterrado no Cemitério Municipal).

Do enlace matrimonial entre Harumi/Kaoru Simo, tiveram sete filhos: Orlando, Geraldo, Mauro, Lauro, Meri, Rosimari e Suery, esta a única que nasceu em Santa Helena, os demais nasceram no município de Guaíra.

Santa Helena

A família de Harumi deslocou de Guaíra para Santa Helena em julho de 1972 a convite de seu cunhado Mitsuo Yoshimura (in-memorian) que havia adquirido uma área de 130 alqueires de terra (Fazenda) próximo ao Paranazão, como era conhecido o Rio Paraná, que ficava na Linha Verde. Harumi/Kaoru seriam os responsáveis pela contratação de trabalhadores para derrubar as matas da propriedade. Lembrando que naquela época, derrubava as árvores com o uso de machados, foices (força dos braços humanos) e às vezes de motosserra.

Recorda Harumi que para atender a demanda dos trabalhos na fazenda tiveram que contratar permanentemente 25 famílias de trabalhadores, num total aproximado de 200 pessoas, (na época as famílias eram constituídas de muitos integrantes). A maioria destas pessoas era composta de nordestinos e/ou descendentes que deslocaram do norte do Paraná para a região oeste do Estado a procura de serviços e com o trabalho pudessem garantir a sobrevivência do núcleo familiar. Para alimentá-los de forma satisfatória, mensalmente Yoshimura trazia de Guaíra uma carga de alimentos em seu caminhão e distribuía aos funcionários.

O casal Harumi/Kaoru, também eram os responsáveis na organização e distribuição das tarefas que seriam realizadas pelos trabalhadores na propriedade, bem como, fazer os pagamentos pelos serviços prestados desse pessoal.  Após a limpeza da vegetação florestal que havia na propriedade, a lavoura que plantavam era o hortelã. As florestas recém desmatadas, proporcionavam naturalmente ao solo agrícola muita fertilidade e o hortelã quando cultivado nesta circunstância se adaptava muito bem, por consequência, ocorria alta produtividade do referido produto.

O hortelã produzido no início da colonização de Santa Helena era facilmente negociado pelos produtores rurais, porque havia enorme procura no mercado interno e externo, o que propiciava excelente rentabilidade econômica aos agricultores. No entanto, depois de uns três anos consecutivos do plantio do hortelã, as terras enfraqueciam e o resultado disso, drástica quebra da produtividade. Sendo assim, tornava inviável economicamente para os agricultores continuarem produzindo óleo de hortelã. E assim, os produtores desistiam de plantar hortelã em suas terras.

Há de destacar que em meados da década de 1970, inicia-se a mecanização das terras aráveis do oeste paranaense que coincide com a baixa produtividade do hortelã em Santa Helena e região. (Obs. As terras do oeste do Paraná foram rapidamente mecanizadas em razão da entrada no campo de possantes tratores de esteiras e de pneus que facilitou os trabalhos de destocas nas propriedades rurais). Fato que permitiu à família Yoshimura destocar as terras da propriedade e prepará-las para o plantio de soja, trigo e milho, resumiu Harumi.

24 quilômetros a pé para estudar

Ainda de acordo com Harumi, a Fazenda em que trabalhavam ficava doze quilômetros (12 km) distante da cidade de Santa Helena e a estrada era de chão. Por isso, nos dias chuvosos, formavam lamaçais e nas estiagens prolongadas, intensas poeiras, o que dificultava transitar nesta condições. Orlando, Geraldo e Mauro Simo, (filhos de Harumi/Kaoru) diariamente percorriam 24 quilômetros (ida/volta), ora enfrentando lama e/ou poeira a pé ou de bicicleta para estudar na Escola Estadual Graciliano Ramos – Ens. Fundamental Séries Finais, de Santa Helena.

Complicava nos períodos chuvosos disse Harumi, porque às vezes os filhos saíam de casa para escola com o tempo ensolarado, no entanto, ao retornarem do educandário eram surpreendidos com fortes chuvas o que os obrigavam abandonar as bicicletas no mato à beira do caminho e/ou deixá-las na casa de agricultores que moravam próximo à estrada, uma vez que ficava praticamente impossível usá-las como meio de transporte frente aos lamaçais que se formavam na estrada de chão. Somente buscavam as bicicletas quando tivesse de sol e a estrada proporcionasse condições de trafegabilidade para este tipo de transporte.

As chuvas eram constantes naqueles idos tempos. Um enorme desafio para os estudantes que residiam nas áreas rurais no início da colonização do município de Santa Helena, principalmente àqueles que precisavam deslocar até a Escola Estadual Graciliano Ramos para estudar. Por consequência da época, não desfrutavam dos privilégios do transporte escolar que na atualidade são disponibilizados diuturnamente a todos alunos, seja ele (a) do campo e/ou da cidade, aponta Harumi.

Seguiu comentando Harumi, que Kaoru sonhava ver os filhos trabalhando em outras atividades profissionais fora da agricultura. Acalentava vê-los exercendo alguma profissão que “mexesse” com as mãos, evidentemente, mas que exigisse certa especialidade no ramo que, tivessem que se profissionalizar. Acreditava com isso, que os filhos obteriam melhor remuneração financeira pelos serviços que viessem prestar pelo trabalho desempenhado. Dizia Kaoru que na lavoura às vezes chove demais, outro momento faltava água para o bom desenvolvimento das plantas, além das oscilações dos preços dos produtos agrícolas sobre as regras de interesse do mercado, por isso da preocupação para com os filhos que se profissionalizassem num trabalho com possíveis ganhos financeiros mais perenes, referia Kaoru à família, afirma Harumi.

Lago Artificial

Desalentou ainda mais Kaoru em continuar exercendo os trabalhos no campo foi quando surgiu rumores em Santa Helena e região oeste do Estado que o Rio Paraná iria ser transformado brevemente num imenso lago artificial. Os rumores se concretizam e no ano de 1976 a Itaipu delimita as terras que seriam atingidas pelo reservatório do mesmo nome. A propriedade rural de Mitsuo Yoshimura (administrada por Kaoru/Harumi), por margear o Rio Paraná seria totalmente encoberta pelo Lago de Itaipu quando de sua formação, o que ocorreu em outubro de 1982.

Auto Elétrica

Diante dessas incertezas e preocupações do que poderia acontecer à família pós formação do Lago de Itaipu, Kaoru mais do que depressa, incentivou Orlando em aprender a profissão de eletricista de automóveis e caminhões. Para que isto fosse possível, Orlando recorreu à aprendizagem em uma auto elétrica na cidade de Santa Terezinha de Itaipu.

Com a profissionalização de Orlando, a família de Harumi resolveu abandonar os trabalhos na agricultura para dedicar-se com as atividades de auto elétrica. Adquiriram no ano de 1977 um lote urbano à Rua Paraguai esquina com a Rua Amazonas nº 306, no bairro Baixada Amarela (área central de Santa Helena). Neste local Kaoru e família construíram a residência e Auto Elétrica. A partir desse momento passaram a residir e a trabalhar com consertos elétricos de automotores e vendas de baterias.

Shingo

No início dos trabalhos na empresa da família Simo, o nome era somente Auto Elétrica. O acréscimo de Shingo ocorreu em 1980 quando Harumi e familiares resolveram homenagear os parentes por parte de Kaoru Simo por terem o sobrenome Shingo (na cultura japonesa Shingo significa elevado coração; força maior; quinto sentido). A explicação de homenageá-los, é porque a única pessoa da família de Kaoru com o sobrenome Simo era ele próprio, em razão de um erro cometido pelo cartorário que em vez de escrever Shingo escreveu Simo no registro de nascimento. Portanto, o sobrenome Simo não representava e ainda continua não representando a linhagem parental de Kaoru em relação aos documentos oficiais brasileiro para com seus parentes de sobrenome Shingo, esclarece Harumi.

Ao tornar-se maior de idade, Kaoru até que tentou corrigir o sobrenome Simo para Shingo conforme constava nos documentos dos pais e nos registros de nascimentos dos irmãos, mas encontrou dificuldades para realizar a alteração, o que o desestimulou em insistir no objetivo. Isto determinou a permanência de Simo nos documentos pessoais da família de Kaoru, frisou Harumi.

Encontro de parentes

Segue um comentário de Geraldo Simo, que diz respeito à questão Shingo, disse ele que defronte da empresa no qual é sócio/proprietário, havia uma placa que evidenciava o nome: Auto Elétrica Shingo. De repente uma determinada pessoa parou o carro e passou a indagá-lo a respeito de suas origens, porque o transeunte tinha o sobrenome Shingo. Com o desenrolar da conversa chegaram à conclusão que eram parentes (primos). Este residia em Londrina e estava de passagem por Santa Helena.

O curioso disto tudo é que a família Simo ao homenagear os Shingo, como nome da Auto Elétrica, possibilitou encontrar familiares pelos quais eles desconheciam e que vivem no norte do Paraná.

40 anos em 2017

Outro relato de Harumi que merece destaque, é que nestes quarenta anos (1977 a 2017) que a família reside na Baixada Amarela não se limitaram somente à prestação de serviços de auto elétrica. Envolveram ativamente nas ações sociais da comunidade local, como exemplo, Geraldo foi presidente da diretoria da Capela São Cristóvão e por muitos anos de forma consecutiva, tesoureiro da instituição. Disseram também que ao instalarem na comunidade, não existia um local próprio para que os moradores da localidade pudessem rezar. O primeiro ato foi promover algumas festas com a finalidade de arrecadar fundos para compra dos terrenos onde seria instalada a futura Capela. Inclusive as três primeiras festas voltadas para com esta finalidade aconteceram no pátio da Auto Elétrica Shingo, relembra Harumi.

Continuando com os relatos da empresa, Harumi disse que Kaoru e Geraldo eram os auxiliares do Orlando nos trabalhos de auto elétrica. Esta parceria permitiu que Geraldo conseguisse aprender também a profissão de eletricista de automóveis. Em 1982 Orlando recebeu uma proposta de trabalho de um empresário do ramo, da cidade de Sinop/MT. Orlando analisou a oferta de trabalho, entendeu que era viável o emprego e o ganho salarial, por isso, transferiu residência para a Sinop, onde permanece trabalhando na mesma profissão até os dias de hoje naquela cidade mato-grossense, informou Harumi.

A esta altura, Geraldo se profissionalizara eletricista e, a partir de então, ficou sob sua responsabilidade administrar os negócios da Auto Elétrica Shingo em Santa Helena. Relatou Geraldo que na década de 1980 havia na cidade de Santa Helena somente duas Auto Elétricas.

2018

Atualmente Geraldo tem como auxiliar a própria esposa, Sra. Martinha Simo, que responde pelo setor administrativo, bem como do auxílio de dois filhos do casal, que são, Ricardo e Eduardo Simo e de um funcionário. Além de prestar serviços de auto elétrica na própria empresa, Geraldo Simo e funcionários prestam atendimento aos clientes em toda área de abrangência de Santa Helena e até mesmo em outros municípios circunvizinhos.

Para finalizar a entrevista, Harumi descreveu as profissões dos demais filhos: Mauro, metalúrgico, trabalha num estaleiro (fábrica/manutenção) de navio no Japão a vinte e cinco anos; Lauro, trabalhou de metalúrgico (estaleiro) no Japão por vinte e dois anos. Retornou ao Brasil e foi trabalhar em um estaleiro de navio numa empresa subsidiária da Petrobrás no Recife; Meri, atendente de Farmácia em Anápolis/Goiás; Rosimari, Contabilista, porém, não exerce a profissão, reside em Santa Helena; Suery, Ciências da Computação e está estudando Direito na ISEPE – Instituto Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão de Marechal Cândido Rondon e trabalha na Prefeitura Municipal de Santa Helena.

Mensagem

“Sinto bem vivendo aqui no Brasil. Pelos lugares que morei sempre fui tratada com respeito pelas pessoas, porque respeito a todos. Em Santa Helena, tenho muito apreço por todos os vizinhos, gosto muito de morar na Baixada Amarela. Acredito que também meus vizinhos gostam de mim, porque nos entendemos bem. Nunca tive a vontade de voltar para o Japão”. Harumi Kumagai Simo.

“É uma imensa satisfação documentar a trajetória histórica narrada pela Sra. Harumi Kumagai Simo, porque assim ficarão registradas as suas contribuições e de seus descendentes para o desenvolvimento econômico/social/cultural da sociedade santa-helenense. O que certamente servirá às futuras gerações entender o quanto é importante e enriquecedor acolher bem a todas pessoas que venham residir no município indiferente de sua nacionalidade, e/ou de suas tradições culturais”. Prof. João Rosa Correia


























João Rosa Correia