Contando Histórias

28.08.2014

Entrevista com a pioneira Oniva Arend, na sua residência no Distrito de Sub-Sede

Na manhã de quarta-feira, 06 de agosto de 2014 o professor João Rosa Correia entrevistou a Sra. Oniva Arend em sua residência, na Rua Amazonas S/N no distrito de Sub/Sede, Santa Helena, Paraná. Ela iniciou a conversa apresentando os nomes de seus pais: Edvino Mayer e Olídia Mayer.  De origem alemã, agricultores de profissão. A família era composta de 06 irmãos. Viviam no Estado do Rio Grande do Sul no município de Arroio do Meio. A Sra. Oniva nasceu próximo ao Rio Forqueta (rio que nas enchentes de junho/2014 estourou a barragem particular que havia sobre seu leito trazendo inúmeros problemas para a comunidade Arroio do Meio e regiões adjacentes. Assunto muito comentado nas redes de televisão brasileira). Estudou até a quarta série do antigo primário. Após concluir este grau de estudo e passar a confirmação (assim denominam os evangélicos) que acontecia por volta de 12 anos de idade, restava às meninas os afazeres do lar, auxílio na roça e esperar para casar-se.

Oniva casou-se com Elemar Valter Arend no RS no dia 17 de agosto de 1957 no então distrito de Marques de Souza – município de Lajeado, local de nascimento do esposo. Desta união nasceram 04 filhos. Recém-casados, mas sonhando proporcionar uma vida melhor à família que ora estava iniciando, Elemar, na época com 26 anos de idade, influenciado pelas propagandas dos corretores de imóveis que salientavam o fato de que as terras do oeste paranaense eram férteis, planas, boas águas, preços baixos e facilidades de pagamentos, fez com que despertasse nele forte desejo de conhecer a região. Os próprios corretores dos imóveis urbanos e rurais encarregavam-se a formar caravanas. Numa dessas caravanas veio Elemar.

Ao chegar a Santa Helena percorreu algumas propriedades da Companhia Agrícola Madalozzo e agradou-se de uma delas, no atual distrito de Sub-Sede. Comprou 13 alqueires de terras, (ficava logo abaixo do Cemitério daquela localidade e que no ano de 1982 foram indenizados em 09 alqueires com a formação do Lago de Itaipu), relatou Oniva.

Elemar retornou a Lajeado RS para trazer a família. Chegou a Santa Helena no dia 02 de junho de 1958. Antes de fixar residência em Sub-Sede acamparam durante três meses em um casarão (espécie de república) construído pela empresa Madalozzo, para abrigar gratuitamente os moradores que chegavam a Santa Helena, até que conseguissem construir a casa na própria propriedade. Com o casal vieram sogro e sogra: Teobaldo Arend e Olga Arend, (vale destacar - estiveram casados por 71 anos, foram separados pela morte). Estes compraram também da empresa Madalozzo um sítio de 10 alqueires que fazia divisa com a propriedade de Elemar Arend (filho).

No ano de 1960 vieram para Santa Helena os pais de Oniva Arend: Edvino Mayer e Olídia Mayer adquiriram uma chácara de dois alqueires da Madalozzo na entrada da prainha municipal. Conta Oniva que a propriedade de Teobaldo Arend e Edvino Mayer foi indenizada (1982) pela a Itaipu na totalidade. Parte das terras as águas do Rio São Francisco Falso encobriu e o restante serve como proteção ambiental (conhecida como reserva de Itaipu). De acordo com Oniva, os Arend foram os primeiros moradores rurais a fixar residência em Sub-Sede. Inclusive no perímetro urbano de Sub-Sede não havia moradores (1958).

Continuando os relatos de sua história, Oniva disse que de Lajeado-RS a Santa Helena, utilizaram um caminhão como meio de transporte. Vieram por Foz do Iguaçu. Recorda que a estrada que ligava Foz do Iguaçu à Santa Helena era esburacada e para piorar a situação chovia muito na época, a estrada virava puro lamaçal, ocasionando enormes dificuldades para viajar naquelas condições. As terras adquiridas da Empresa Agrícola Madalozzo foram pagas através de prestação anual. Destacou Oniva, João Marcelino Madalozzo dono da referida empresa era uma pessoa muito querida. Sempre prestativo nas enfermidades dos santa-helenenses. Quando seu sogro Teobaldo Arend contraiu pneumonia, João Madalozzo recorria as suas ervas caseiras receitando-as para que a pessoa viesse a ficar bem. Além disso, as terras que ele vendia eram legalizadas, o que dava segurança aos compradores das propriedades. As terras estavam livres para serem escrituradas no momento que o dono desejasse, enalteceu Oniva. As terras pertencentes à empresa Agrícola Madalozzo confrontava seus limites, próximo a atual pedreira de Sub/Sede.

Segundo D. Oniva as terras que ficavam fora do domínio da Madalozzo, a maioria eram terras devolutas (devolutas – terras pertencentes ao Estado e ou União), propícias às invasões. As invasões de terra naquela época eram conhecidas como grilagem. Os grileiros apossavam-se de vastos territórios ilegalmente. Podiam ser indivíduos ou grupos de grileiros/aventureiros. Este sistema de apropriação indevida de terras foi muito comum principalmente na região de São Clemente, Linha Gaúcha, Linha Guarani. Às vezes as pessoas compravam uma propriedade naquela região na boa fé, acreditando que eram terras legalizadas, outros apossavam (posse – terras ocupadas por alguém com a finalidade de produzir alimentos e sustentar sua família. No entanto sem documentos oficiais para registrá-las como sua propriedade). Ocorria que determinadas pessoas (posseiros) aventuravam apossar-se de terras griladas. Os grileiros contratavam pistoleiros conhecidos como jagunços para vistoriar as áreas griladas e expulsar quem estivesse ali morando. Alegavam que aquelas terras lhes pertenciam. O conflito estava armado entre posseiros, grileiros e jagunços. Oniva ficou sabendo da morte de um “chefão” dos jagunços da região, em que ele foi executado por meio de uma emboscada de agricultores. A Sra. Oniva chegou conhecer alguns jagunços quando estes passavam montados em seus cavalos pela sua propriedade, mas momento algum eles os incomodaram, afirma a entrevistada. (jagunços- pessoas contratadas por outras para tentar assegurar e defender as terras griladas frente aos possíveis posseiros).

 

O casal abriu a propriedade aos poucos, pois trabalhavam praticamente sozinhos. Era tudo mato e muito borrachudo. Havia enorme quantidade de animais e aves silvestres para serem caçados, no entanto segundo Oniva, Elemar não gostava de caçar porque no dizer dele, “era perca de tempo, com tanto serviço a realizar”. Certo dia uma anta passou tranquilamente no pátio de sua casa e esta foi abatida. No entanto a maioria dos agricultores que chegava a Sub-Sede adorava caçar e pescar. Peixes no Rio Paraná (conhecido como Paranazão – hoje coberto pelas águas do Lago de Itaipu) e animais de caça eram o que mais havia na época na região, recorda Oniva. Inclusive alguns agricultores faziam até estaleiros e cevas para atrair os animais e assim abatê-los mais facilmente e em maior quantidade.

A família Arend na medida em que abriam suas terras, plantavam mandioca e assim que estava em condições de venda negociava principalmente com paraguaios obtendo um bom preço o que facilitou saldar os compromissos financeiros com a empresa Madalozzo. Feijão produzia bastante, mas a comercialização em grande escala era mais difícil. Precisava ir vendendo aos poucos, comentou Oniva. Além de produzirem alimentos de origem vegetal, criavam aves, porcos para o consumo próprio e algumas cabeças de gado leiteiro. As sobras do leite faziam-se queijos e outros derivados, no qual vendiam aos paraguaios. Plantavam milho para auxiliar na alimentação da família e dos animais.

Outra dificuldade enfrentada na época era a falta de atendimento médico, principalmente quando a enfermidade fosse mais grave. Havia pouco tempo que estavam morando em Sub-Sede, Teobaldo Arend sofreu um acidente quando um galho de árvore caiu sobre sua cabeça. Em razão da gravidade dos ferimentos o levaram para tratar em Marechal Cândido Rondon. Foi um sacrifício enorme para transportá-lo do local do acidente até a barranca do Rio São Francisco Falso – Entre Rios do Oeste. Outra dificuldade foi atravessar o Rio São Francisco Falso por meio de um pequeno barco (caíco como os gaúchos chamam este tipo de embarcação). A partir dali um Jeep transportou Teobaldo ao hospital em Rondon. Esta viagem durou três horas, haja vista os buracos da estrada.

Com as constantes e fortes chuvas das décadas passadas, era comum a correnteza arrastar as pontes frágeis montadas sobre o Rio São Francisco Falso ocasionando maiores problemas aos usuários da estrada. Lembrou Oniva que um dos primeiros taxistas no início da colonização de Santa Helena foi Normindo Fockink. Tendo como taxi um Jeep que transportava de 6 a 7 passageiros para as diversas regiões do oeste paranaense conforme interesse dos clientes. Ainda de acordo com Oniva, Normindo Fockink foi um dos primeiros donos de posto de combustível em Santa Helena na Avenida Brasil. Atualmente pertence à família de Germano Rabaioli. A Sra. Oliva relembra de quando conheceram Entre Rios do Oeste, estava desmatado o perímetro urbano, porém, não havia nenhum morador.

Quanto à religião, a família de Oniva congrega na Igreja Luterana no Brasil. Em Sub-Sede anos atrás tinha um templo religioso desta congregação, ficava ao lado do atual Centro Comunitário da localidade. Elemar chegou a ser presidente da diretoria da Igreja. No entanto, por falta de fieis a Igreja foi fechada e logo depois a desmancharam. Para professar a fé, vem a Santa Helena na Igreja Luterana no Brasil que fica de fronte a Praça Santos Dumont.

Elemar Arend (faleceu no dia 09 de fevereiro de 1992 em Sub-Sede). Oniva destacou outros feitos do esposo: Elemar não gostava de participar diretamente de política partidária, no entanto foi uma pessoa prestativa, participou, além da diretoria da Igreja Luterana no Brasil, da Escola Estadual São Francisco e Municipal Tiradentes de Sub/Sede. Colaborou na fundação da Escola Municipal que existia na Linha da Antiga Balsa (região submersa pelo reservatório do Lago de Itaipu), do Centro Comunitário da Linha Gaúcha. Mesmo sendo evangélico auxiliava nas festas da Igreja Católica, ou em qualquer outro evento da comunidade que o convidavam, estava ele sempre solícito a colaborar no que fosse preciso.

Dentro deste espírito comunitário, quando a municipalidade reestruturou, na década de 2000, a Praça Central de Sub-Sede as principais lideranças políticas locais na época: Valdir Copetti, Auri Darci Petry e outros propuseram ao então prefeito de Santa Helena, Silom Schmidt, que homenageasse aquele local público com o nome de Elemar Valter Arend pelos trabalhos prestados à comunidade de Sub-Sede. E assim foi escolhido o nome: Praça Central Elemar Valter Arend. Infelizmente integramos uma sociedade em que determinadas pessoas ainda não aprenderam preservar o patrimônio público. Sem respeito algum, tiveram a audácia de retirar e consumir a placa de bronze onde estava gravado o nome de Elemar Valter Arend. (gripo Prof. João Rosa.).

Apesar da idade avançada, Sra. Oniva reside sozinha, ainda cozinha seus alimentos, arruma a casa. Continua um exemplo de luta às novas gerações.

Oniva deixou a seguinte mensagem “Que as pessoas procurem caminhar pelo caminho certo. Tem muita gente indo pelo caminho errado. Fuja do caminho das drogas”.

Sobre Sub-Sede disse “Vi este lugar nascer e crescer, estou feliz aqui, gosto muito da nossa gente”. Finalizou.

Obs. As fotos que acompanham o documentário foram cedidas pela família Arend, Petry e E.E.do Campo São Francisco Sub-Sede, SH.

Agradeço a Sra. Oliva pela entrevista concedida. Mulher de fibra e coragem, juntamente com seu esposo e demais familiares ajudou desbravar as matas santa-helenenses. As histórias por ela contadas servirão para as gerações do tempo presente e do futuro, saberem como se formou nosso município. Professor João Rosa Correia

Pais e irmão de Oniva. Ela está à direita da foto Pais e irmão de Oniva. Ela está à direita da foto
Elemar Valter Arend - Quando  estava no Quartel RS. Elemar Valter Arend - Quando estava no Quartel RS.
Elemar -  (do meio). Treinamento de guerra Elemar - (do meio). Treinamento de guerra
Casamento de Elemar e Oliva RS - 1957 Casamento de Elemar e Oliva RS - 1957
Família Arend Família Arend
Foto  25 anos de casamento, Elemar e Oniva Arend Foto 25 anos de casamento, Elemar e Oniva Arend
Residência de Elemar e Oniva - logo que instalaram em SubSede -SH. Observem - casa coberta de taubinhas. Oniva, acompanhados dos pais Residência de Elemar e Oniva - logo que instalaram em SubSede -SH. Observem - casa coberta de taubinhas. Oniva, acompanhados dos pais
Olga Arend e Teobaldo Arend. Foto de 70 anos de casados Olga Arend e Teobaldo Arend. Foto de 70 anos de casados
Residência em alvenaria de Elemar e Oniva - interior de SubSede Residência em alvenaria de Elemar e Oniva - interior de SubSede
Quatro gerações, Teobaldo, Elemar, Carlos e Andreo Arend Quatro gerações, Teobaldo, Elemar, Carlos e Andreo Arend
Anta- Animal silvestre abatido quando passava no pátio dos Arend Anta- Animal silvestre abatido quando passava no pátio dos Arend
 galpão dos Arend galpão dos Arend
Momento de lazer. Dança Polonesa. Casal da frente - Arend. SubSede Momento de lazer. Dança Polonesa. Casal da frente - Arend. SubSede
1º Fusca adquirido por Elemar Arend 1º Fusca adquirido por Elemar Arend
Limpeza da soja. Família Arend no controle do arado. Anos 70 Limpeza da soja. Família Arend no controle do arado. Anos 70
Oniva campeã de bolaõzinho. Recebendo a faixa Oniva campeã de bolaõzinho. Recebendo a faixa
Oniva 1ª da esquerda para direita. Por duas vezes foi campeã de canastra. SubSede Oniva 1ª da esquerda para direita. Por duas vezes foi campeã de canastra. SubSede
Embarcação sobre Lago de Itaipu. Quando passava embaixo da Ponte que liga Santa Helena a SubSede. Década 1980 Embarcação sobre Lago de Itaipu. Quando passava embaixo da Ponte que liga Santa Helena a SubSede. Década 1980
Teobaldo Arend e Olga Arend. Pais de Elemar. Foto 50 anos de casamento. SH Teobaldo Arend e Olga Arend. Pais de Elemar. Foto 50 anos de casamento. SH
Oniva com relógio de 99 anos que ganhou de seus avôs. Está em perfeito estado e funcionando normalmente Oniva com relógio de 99 anos que ganhou de seus avôs. Está em perfeito estado e funcionando normalmente
Sra. Oniva na sua residência. SubSede Agosto de 2014 Sra. Oniva na sua residência. SubSede Agosto de 2014
Netos e netas de Oniva Arend Netos e netas de Oniva Arend


Oniva com um triturador de pimenta do reino. Segundo ela este material passa de 100 anos Oniva com um triturador de pimenta do reino. Segundo ela este material passa de 100 anos
Cama que Oniva ganhou quando de seu casamento no RS - 1957. Está em perfeito estado e em uso Cama que Oniva ganhou quando de seu casamento no RS - 1957. Está em perfeito estado e em uso
Homenagem a Elemar Valter Arend. Praça Central de SubSede recebe seu nome. 2002 Homenagem a Elemar Valter Arend. Praça Central de SubSede recebe seu nome. 2002
Residência dos Mayer. Indenizada pela Itaipu (1982). Ficava na entrada da Praia de SH. Ao lado de dois pés de butiá que lá ainda existe Residência dos Mayer. Indenizada pela Itaipu (1982). Ficava na entrada da Praia de SH. Ao lado de dois pés de butiá que lá ainda existe
Observe as molas da cama de 1957 Observe as molas da cama de 1957
Vista da praça Vista da praça
Arrancaram e consumiram a placa de bronze que homeageava Elemar Arrancaram e consumiram a placa de bronze que homeageava Elemar
 Praça Central de SubSede e algumas de suas utilidades Praça Central de SubSede e algumas de suas utilidades
Vista panorâmica da Praça Central de SubSede Vista panorâmica da Praça Central de SubSede

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Já que o selfie está na moda... professor Joãzinho e D. Oniva Já que o selfie está na moda... professor Joãzinho e D. Oniva

João Rosa Correia